Com 106 verbetes, obra é uma construção coletiva de movimentos sociais, educadores e defensores da vida
O Dicionário de Agroecologia e Educação será lançado na próxima terça-feira (12) por meio de um trabalho de construção coletiva liderado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJN/Fiocruz), com apoio da presidência da entidade, em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e apoio da Editora Expressão Popular.
groecossistemas, Capitalismo Verde, Cosmovisões, Educação Politécnica … Ao todo são 106 verbetes, elaborados por 169 autores de 68 instituições distintas – universidades públicas, institutos federais de educação, movimentos sociais, institutos de pesquisa – e com representação de autores da Argentina, Guatemala e México, ao lado de pesquisadores e educadores brasileiros.
Na apresentação do Dicionário, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ressalta que o Dicionário contribui para o conhecimento sobre a multiplicidade de experiências nacionais e locais que dão vida ao conceito de Agroecologia. “Resultado de um esforço coordenado, não se trata de uma simples reunião de temas, mas de um projeto integrado baseado em amplo diálogo que envolveu a produção coletiva da obra. O próprio processo de sua construção foi orientado pela perspectiva de se construir conjuntamente uma Pedagogia da Agroecologia”, afirma.
“A EPSJV foi chamada a cumprir essa tarefa por ser uma unidade que, há cerca de 17 anos, vem realizando uma série de parcerias no âmbito da pesquisa e da educação em saúde junto ao MST, o que nos possibilitou ir construindo uma criticidade sobre as possibilidades e desafios que se enfrentam no campo brasileiro”, ressalta a professora-pesquisadora da Escola Politécnica, Anakeila Stauffer, que organizou a obra em conjunto com o também professor-pesquisador da EPSJV, Alexandre Pessoa, e com Maria Cristina Vargas e Luiz Henrique Gomes de Moura, militantes do MST.
Produção agroecológica cresce
No Espírito Santo, assim como no cenário nacional, o MST tem a Agroecologia como uma de suas bases filosóficas, sendo aplicada no dia a dia da lida com a terra – reivindicada, nos acampamentos produtivos, ou conquistada, nos assentamos já regularizados – e também nas escolas mantidas pelos assentados e acampados e nas formações políticas diversas realizadas pelo movimento em todo o país. “A produção expectativa é continuar avançando na produção agroecológica”, afirma Adelso Rocha Lima, da coordenação estadual do MST-ES.
Também integrante da direção nacional do MST/ES, Eliandra Fernandes reforça, que a conquista da terra é o primeiro passo para garantir a dignidade e da saúde através de alimentos cada vez mais livres do pacote de morte financiado pelo agronegócio, que faz do Brasil um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. A ela, se segue a conquista também da moradia e da educação de qualidade.
Soberania alimentar
Na visão de Alexandre Pessoa, a experiência de construção coletiva do dicionário é fruto da convergência de movimentos sociais do campo, da floresta, das águas, das periferias e comunidades urbanas, sujeitos políticos e pedagógicos que lutam pela promoção da saúde e da vida e pela emancipação social. “Diante da grave crise ecológica e de destino, a agroecologia, enquanto processo que envolve ciência, trabalho camponês e movimento popular, se apresenta com uma emergência, uma vez que precisamos, com urgência, superar as relações de exploração, opressão e destruição entre capital-trabalho e capital-natureza. Frente ao atraso das monoculturas das terras e das mentes, o dicionário é uma expressão de resistência e compromisso com o esperançar”, afirma.
Maria Cristina destaca que, nos últimos anos, o MST tem intensificado a formação de educadores das escolas de educação básica em torno do tema Agroecologia, pois, na visão dela, a educação escolar pode contribuir para o fortalecimento da Agroecologia e da agricultura camponesa como modo de vida. “Temos o grande desafio de inserir nos processos escolares conhecimentos que possam superar a forma tradicional com que é tratada a história da agricultura e a ecologia. Nesse sentido, a produção de materiais que contribuam para subsidiar os educadores e educadoras é fundamental”, aponta.
Luiz Henrique salienta que a sociedade vive em um período histórico em que as formas de exploração capitalistas do ser humano e da natureza produzem cada vez mais destruição e sofrimento. A natureza, segundo ele, é vista como inimiga e deve ser constantemente combatida. Nesse contexto, aponta, as forças populares têm produzido soluções concretas para as necessidades sociais e ecológicas.
“A soberania alimentar, a agroecologia e o cuidados dos bens comuns, como a terra, a água e a biodiversidade, são bases de uma sociedade onde as pessoas e a natureza estão no centro, não o lucro. O abastecimento das famílias trabalhadoras com alimentos saudáveis – só possível a partir da realização da reforma agrária popular – é hoje um dos objetivos centrais de um projeto popular para nosso Brasil”, defende. E acrescenta: “O objetivo desse dicionário não é catalogar a totalidade da agroecologia. É, sim, popularizar os conceitos, as categorias e as técnicas agroecológicas que permitem justamente pensar esse novo projeto de campo e sua relação com o projeto de país”.
‘Terra é para quem nela trabalha e tira seu sustento’, conclama MST
Movimento luta há 38 anos pela reforma agrária no Brasil. ES tem 2,6 mil famílias assentadas e mil acampadas