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‘Os estádios não devem ser locais de medo’, ressalta torcedora da Desportiva

Técnico do clube foi demitido após agredir uma auxiliar de arbitragem nesse domingo, em partida do Campeonato Capixaba 

Agência Brasil

Diversos órgãos estaduais e nacionais se posicionaram em repúdio à agressão do ex-técnico da Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, contra a auxiliar de arbitragem Macielly Netto. Nesse domingo (10), no intervalo do jogo pelas quartas de final do Campeonato Capixaba, o treinador desferiu uma cabeçada contra a árbitra assistente, tendo sido demitido pelo time e suspenso pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Espírito Santo (TJD-ES). “Os estádios não devem ser locais de medo”, ressalta a torcedora Letícia Schunk Amaral.

A agressão ocorreu após o fim do primeiro tempo da partida contra o Nova Venécia. O então técnico da Desportiva Ferroviária discutia com o trio de arbitragem, quando se exaltou e desferiu uma cabeçada contra a árbitra assistente. “Nós, da Desportiva Antifascista, repudiamos a agressão do treinador Rafael Soriano à auxiliar de Arbitragem no jogo contra o Nova Venécia, esperamos uma posição firme do clube e que o treinador responda pela agressão. Nosso total apoio à auxiliar de arbitragem Marcielly Netto, essas atitudes não cabem no futebol, e nem na sociedade”, diz a nota do Movimento da Desportiva Ferroviária Antifascista.

Letícia, que além de ser torcedora da Desportiva, integra o movimento da torcida antifascista, estava no estádio nesse domingo. “No momento em que eu estava presente, eu não sabia que tinha ocorrido isso. Devido à distância do local em que a torcida visitante fica em relação ao lado que ocorreu o fato. Após o jogo, recebi inúmeras mensagens e o vídeo do ocorrido, o qual me decepcionou bastante”, conta.

Rafael Soriano foi desligado da Desportiva Ferroviária. Em uma publicação nas redes sociais, o clube informou que está à disposição da auxiliar de arbitragem para oferecer assistência psicológica profissional e prometeu desenvolver ações para o combate à violência contra a mulher dentro e fora dos estádios.

“A Desportiva Ferroviária vem a público informar que repudia toda e qualquer tipo de violência, seja física, verbal, moral ou emocional, principalmente contra mulheres, e nos solidarizamos com a assistente de arbitragem Marcielly Netto, nos colocando à disposição para aquilo que for necessário”, destacou.

Ainda no domingo, o Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Espírito Santo (TJD-ES) decidiu pela suspensão preventiva do ex-técnico. Um despacho assinado pelo procurador-geral da instituição, Rodney da Silva Berger, determinou a punição, que vale por um prazo de 30 dias.

“Considerando a elevada gravidade do fato e repercussão nacional do mesmo, pede-se que seja deferida a Suspensão Preventiva, até que possam os fatos serem analisados ordinariamente por uma das Comissões Disciplinares do TJD/ES”, informa o documento.

Violência e medo

Letícia que, desde criança, frequenta todas as disputas da Desportiva, também acredita que, nos próximos jogos, o clube deveria promover uma campanha sobre o respeito às mulheres no futebol. A medida, segundo ela, é importante para que as mulheres continuem frequentando os estádios. “Infelizmente, vivemos em uma sociedade complicada em relação à aceitação de mulheres em vários lugares e áreas, mas, com a nossa presença, resistiremos e lutaremos por nossos lugares”, ressalta.

Ela cita outras situações de ameaças, vindas até mesmo do Estado. No último dia 3 de abril, uma ação da Polícia Militar para conter uma discussão entre torcedores resultou em bombas e sprays de pimentas na arquibancada do estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica. “Isso causou medo em muitas mulheres. Eu tive que ajudar e informar para que tomassem cuidado”, relata.

Ela considerou a violência da polícia injustificada. “Uma maneira incorreta de procedência no local, tendo em vista a presença de várias famílias, crianças, mulheres e idosos. Os estádios não devem ser locais de medo e sim um lugar especial para vivenciar momentos de esporte e dedicação aos clubes”, enfatiza. 

Repercussões

Na noite desse domingo, o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), definiu as agressões como “um episódio lamentável”.

Já nesta segunda-feira (11), a vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) protocolou uma moção de repúdio à agressão cometida pelo ex-treinador da Desportiva. O documento será votado na sessão ordinária dessa terça-feira (12). “É inaceitável o que vimos. Como combater as desigualdades e a violência contra a mulher no futebol desse jeito? Espero que a Federação tome as medidas cabíveis e garanta mais segurança para as mulheres”, declarou.

A vereadora Karla Coser (PT) também citou o caso na sessão desta segunda-feira e cobrou uma responsabilização exemplar para o ex-técnico. “Mulheres que ocupam espaços majoritariamente masculinos ainda sofrem bastante e esse caso foi muito vergonhoso porque, sabendo que estava sendo filmando, nem assim a pessoa se preocupou com isso. Uma sensação de impunidade que leva muitos homens a cometerem esse tipo de agressão”, enfatizou.

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