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Bloco Afro Kizomba realiza descida da Rua Sete

Atividade de sábado contará com participações especiais e marca retorno de percurso de rua após início da pandemia

A Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória, é um dos principais redutos da boemia capixaba. Todo fim de semana tem agito, mas em alguns deles, a movimentação é especial. É o caso deste sábado (23), quando acontece a Descida do Bloco Afrokizomba, às 14h, com início na escadaria da Piedade.

No primeiro momento, haverá apresentação do bloco completo no local, com bateria, canto e dança. Depois, seguirá a descida da rua pela bateria. Durante o evento, haverá também participação do Puta Bloco, das baianas da Unidos da Piedade e da Comissão de Frente da Pega no Samba.

Divulgação

A descida, que lembra a ação feita pela Unidos da Piedade na terça-feira antes de seu desfile, foi adotada pelo bloco em 2020 para ser realizada sempre no mês do Carnaval. No ano passado não aconteceu, por conta da suspensão dos festejos. Mas em 2022, diante da melhoria das condições sanitárias e do índice de vacinação, inclusive com a retomada dos desfiles das escolas de samba, o AfroKizomba decidiu literalmente botar o bloco na rua, algo que esteve proibido por decreto municipal entre os dias 14 de fevereiro e 14 de março, período que englobou a data oficial de Carnaval.

“A gestão da Secretaria de Cultura de Vitória priorizou o setor privado, negando somente ao povo preto, pobre e periférico vivenciar a maior manifestação popular do nosso país. Enquanto isso, os eventos privados ficaram lotados, comprovando que não existiu preocupação com a pandemia”, criticou Sandra Oliveira, produtora do bloco, sobre a postura do poder público no município.

“Ao povo preto e pobre gás de pimenta e bala de borracha, aos ricos camarotes. Chamamos o carnaval de 2022 de ‘Carnaval do Cercadinho'”, disse, em referência a ações repressivas que ocorreram inclusive na Rua Sete durante o período de carnaval, quando houve ocupação das ruas em espaços culturais gratuitos do entorno, como o Bar da Zilda, que chegou a ter equipamentos apreendidos.

Sandra reclamou da falta de escuta da Secretaria Municipal de Cultura (Semc), já que houve reuniões por meses com os blocos e não foi pensada nenhuma solução para realizar um carnaval acessível a todos. “A única proposta que tivemos foi de realizar um evento fechado e pago, isso a gente não topou! Ainda ficamos sabendo do cancelamento do Carnaval de rua pela imprensa. Nenhum diálogo para comunicar aos blocos foi realizado, uma falta de respeito para os fazedores e artistas do carnaval de rua”, disse a produtora, reclamando que o órgão público não recebe os blocos nem respondeu ao documento protocolado pelo Blocão, a liga de blocos do Centro de Vitória, o que ela entende como demonstração da “incapacidade da gestão e o descaso com a cadeia produtiva do Carnaval”.

Divulgação

A retomada é um momento importante para o bloco, diante de vários impactos causados pela pandemia de Covid-19. “O impacto da pandemia para o bloco pode ser visto de diversas frentes. Temos o impacto afetivo causado pelo isolamento, que afetou diretamente nosso povo, tendo em vista que o povo negro se constrói a partir da coletividade e afetividade, e o social, pela falta dos nossos encontros formativos, artísticos e políticos, o que significa a paralisação de nosso projeto”.

No âmbito financeiro, o bloco também ficou bastante prejudicado, segundo Sandra, já que deixou de fazer apresentações onde poderia arrecadar e de conseguir apoios e patrocínios. Com a paralisação de atividades, os instrumentos acabam sofrendo desgastes e faltaram recursos para investimentos em equipamentos de som para os ensaios. “Por isso, construir a cultura de carnaval do povo negro de Vitória foi extremamente difícil. Precisamos mais uma vez resistir para existir”.

De fato, nunca foi fácil e sempre foi resistência. Mas nada impediu que o Bloco Afro Kizomba brilhasse, sendo sempre um dos destaques entre os blocos de Vitória. Neste sábado não deve ser diferente.

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