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‘Presidente, governador e prefeitos: cumpram seus deveres com os pobres’

Críticas foram ponto central da fala de Padre Kelder na Festa da Penha, ao conduzir Celebração Eucarística das Pastorais Sociais 

As injustiças praticadas recentemente pelos governos federal, estadual e municipais contra os pobres foi o ponto central da Celebração Eucarística das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Vitória, realizada nesta segunda-feira (25), como parte da programação da 452ª edição da Festa de Nossa Senhora da Penha, a “Virgem das Alegrias”, sob a presidência do Padre Kelder Brandão, coordenador do Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória e pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, em Vitória. 

Dedicando a celebração às “queridas mães pobres”, Padre Kelder citou primeiramente o caso do jovem Wellington da Silva Dias, assassinado recentemente pela Polícia Militar, em São Pedro, na Capital. “Deus olhou com ternura para uma jovem pobre da periferia de Jerusalém e é com esse mesmo olhar que olha para vocês, mães empobrecidas das periferias, que, como ela, aos pés da Cruz, seguram no colo os filhos esvaindo-se em sangue, sem vida, mortos por agentes do Estado, como o jovem Wellington da Silva Dias, recentemente executado em São Pedro por um policial militar, como tantos outros jovens pretos e pobres, executados sumariamente ao longo dos anos no Espírito Santo”.

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Sobre o caso, Padre Kelder ressaltou principalmente o discurso racista do poder público. “Cansamos de ouvir a narrativa do Governo do Estado de que os jovens executados nas periferias foram mortos porque atiraram primeiro, quando todos nós sabemos que isso não é a verdade. Os vídeos que circularam intensamente nas redes sociais mostram a frieza do policial que atirou em uma pessoa com as mãos na cabeça, uma situação que sabemos ser recorrente no território capixaba, conforme já denunciado na ONU [Organização das Nações Unidas], sem que o Estado mude sua forma de atuação”.

Ainda sobre a violência estatal, o sacerdote disse que “está mais do que provado que criminalizar, encarcerar e matar jovens e adolescentes pobres não diminui em nada a violência ou o tráfico de drogas e de armas, que cada vez está mais forte, movimentando montanhas de dinheiro, financiando campanhas políticas e fundando igrejas, ocupando o lugar do Estado e de outras instituições, cujos gestores não querem saber dos pobres, a não ser em ano eleitoral”.

O coordenador do Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória abordou em seguida o drama da fome, que cresce em todo o país. “Nós, cristãos, temos o dever moral de dar pão a quem tem fome, mas os gestores públicos tem o dever legal, previsto na Constituição. Então, não corram dessa sua obrigação, senhores presidente, governador e prefeitos! A fome de nosso irmão depõe contra nós e revela o fracasso de nossa humanidade e modelo de civilização”, convocou.

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O escândalo recente envolvendo o Ministério da Educação (MEC) e igrejas evangélicas também foi destacado, com o padre chamando de “mercenários transvestidos de pastores” os que se aliaram ao ministro da Educação [Milton Ribeiro] e “vendiam a Palavra de Deus a peso de ouro, desviando recursos da sagrada educação, profanando o nome do Senhor”.

A fome, salientou, “chegou em nosso meio e está devorando tudo, principalmente a vida, a dignidade e a alegria das pessoas empobrecidas”, sendo necessária a implantação de “políticas decentes de distribuição de renda e políticas emergenciais para matar a fome do povo que sofre”. 

A crítica novamente se voltou às três instâncias de poder. “Dia a dia, testemunhamos a insensibilidade e má vontade dos gestores municipais, estaduais e federais, que se recusam a oferecer aos empobrecidos alternativas de acesso à alimentação, como restaurantes populares, cozinhas comunitárias e bancos de alimentos”, denunciou, lembrando que, só na Arquidiocese de Vitória, há mais de 14 mil famílias cadastradas para receber cestas básicas. “Sabemos que no Estado são mais de 1,2 milhão passando fome diariamente”, contextualizou, informando que a Campanha Paz e Pão já distribuiu mais de 500 toneladas de alimentos em 2021. 

“É preciso que toda sociedade tome consciência do sofrimento dos empobrecidos e se mobilize para impedir o avanço da fome com ações solidárias a curto prazo, mas, e, principalmente, cobrando dos gestores políticas públicas de enfrentamento à fome e à erradicação da pobreza”, convocou Padre Kelder.

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Encerrando a celebração, disse ainda que “nenhuma mãe deveria ser humilhada, como vocês, mães, que vão de um lugar a outro, cabisbaixas, acabrunhadas, carregando os filhos nos braços, em busca de uma cesta básica ou de uma botija de gás, sem serem ouvidas ou enxergadas pelos gestores públicos, enquanto o governo federal gasta milhões com viagra, lubrificante íntimo e próteses penianas para as Forças Armadas, desmascarando o cinismo e a impotência de quem governa a nação, afrontando o povo e ofendendo a Deus, querendo transformar nosso país em Sodoma e Gomorra”.

O episódio do MEC também foi lembrado pelo padre Vitor César Zille Noronha, do Santuário Bom Pastor de Cariacica, na última terça-feira (19), terceiro dia do Oitavário da festa da Padroeira do Espírito Santo, como um dos “sinais de morte” percebidos neste momento no país. “Recentemente, pudemos observar, o governo federal vetou em época de campanha da fraternidade sobre educação, a distribuição de absorventes para as meninas pobres. Para isso não tem dinheiro! Enquanto isso, tem para Viagra, prótese peniana e lubrificante para as Forças Armadas, vejam só! Sinais de morte. É uma grande sacanagem, podemos dizer assim!”.

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Em contraposição, os “sinais do Cristo ressuscitado”, necessários nos dias de hoje, exigem uma postura diferente de todos, governantes e demais cidadãos. “Se queremos encontrar o Cristo ressuscitado, devemos ouvir as galileias desse mundo. Galileia dos vencidos, dos últimos. Devemos estar sim com as pessoas em situação de rua, com os encarcerados, com as pessoas LGBTs, com os negros, com todos aqueles que sofrem discriminação”, orientou. 

Finalizando sua fala, padre Vitor Noronha afirmou que “o Cristo não é um cristo com arma na mão. (…) Os poderosos desse mundo, como Pôncio Pilatos, lavam as mãos. Jesus Cristo está em serviço, lavando os pés. Armai-vos uns aos outros, não! Desde Pio XII, a doutrina da Igreja é pelo desarmamento!”, brincou, conclamando uma cultura de paz.

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