Manifestação na orla de Camburi apontou descaso em diversas áreas e falta de diálogo da gestão municipal
A manifestação realizada na manhã deste sábado (30) na orla de Camburi, em Vitória, foi organizada por servidores públicos municipais, mas em meio à multidão, também se encontravam pessoas que não fazem parte do quadro de funcionários da Prefeitura de Vitória. Afinal, se o servidor trabalha em condições precárias, isso se reflete na qualidade dos serviços prestados, afetando, inclusive, a qualidade de vida dos moradores da Capital.
A pequena Janaína (nome fictício), de apenas 11 anos, é um desses cidadãos para quem a precarização do serviço público tem trazido a negação de direitos, como o acesso à educação e à saúde.
O uso de um nome fictício se deu para não expor sua imagem, além do que, mais importante do que saber seu nome, é conhecer sua história. Janaína é autista, aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Maria Stella de Novaes, no bairro Grande Vitória. Sem professor e nem ao menos estagiário para os alunos especiais que estimulem seu aprendizado e a interação com demais estudantes, ela fica isolada no colégio, o que já a levou a tentativas de suicídio.
“Solidão, exclusão, ninguém fala com ela”, relata a mãe, Maria (nome fictício), sobre como a filha se sente na escola. Na primeira vez que externou a vontade de se matar, Janaína expressou isso em uma carta onde dizia que “não aguenta este mundo”. Na segunda, pegou uma faca e disse que iria cortar o pescoço. “Eu tomei a faca, guardei e hoje escondo todas as facas com medo dela se matar”, conta Maria.
A manifestação que apontou o desmonte do serviço público municipal teve concentração na Praça dos Namorados e seguiu rumo à orla de Camburi. Organizada pela Associação dos Servidores Pensionistas e Aposentados do Município de Vitória (Assim), grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Vitória (Sindismuvi) e Sindicato dos Odontologistas do Estado (Sinodonto), reuniu pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos, estes últimos questionando principalmente o aumento de 11% para 14% na alíquota da Previdência.
A servidora Andressa de Souza Nascimento levou seus filhos, pois para ela, é uma forma de crescerem “reivindicando melhores condições de vida”.
Durante o ato, foi distribuída uma carta aberta na qual os trabalhadores denunciam que o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) “não se despiu do cargo de delegado e usa do autoritarismo, que não busca diálogo, não responde ofícios, não dialoga com movimentos sociais, e é extremamente voltado para o marketing positivo de sua imagem pessoal, para iludir a população através das redes sociais”.
Na educação, os servidores denunciam problemas como a implantação de novas disciplinas sem preparo dos professores e falta de profissionais para cobrir todos postos de trabalho.
Na Saúde, a carta aponta “uma clara tentativa de desmonte e descaracterização do SUS com a contratação de Organizações Sociais [OS]; falta de material de consumo; falta de manutenção de equipamentos; desativação do Centro de Especialidades Odontológicas [CEO] de São Pedro; falta de profissionais, sobrecarregando os já existentes”.
Além disso, os trabalhadores denunciam as perdas inflacionárias acumuladas superiores a 30%, bem como a não realização de concurso público, não nomeação de aprovados nos certames que têm validade, e a busca por “acabar com o direito de a população ser atendida com qualidade!”. Esta aí a jovem Janaina, como prova da afirmação exaltada pelos servidores.