Movimento estudantil relata que sistema de agendamento de refeições tem dificultado acesso à alimentação
Os problemas no restaurante da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) foram pauta de um protesto no campus de Goiabeiras, em Vitória, nesta segunda-feira (2). Com organização do movimento Disparada-ES, formado por estudantes, os alunos reivindicaram melhores condições de atendimento, o fim do agendamento e a volta do sistema self-service.
“O nosso objetivo foi fazer um ato simbólico para mostrar qual é a situação do RU [Restaurante Universitário], até mesmo para os próprios estudantes, que estão completamente sem informação e não sabiam o que realmente estava acontecendo”, afirma Beatriz Pezzin, estudante de Geografia na Ufes e integrante do Disparada-ES.
O ato foi em frente à entrada do restaurante universitário, às 11h, horário de abertura para o almoço. Fotos da mobilização mostram o tamanho da fila de estudantes para entrada no RU, outra reclamação dos alunos. De acordo com eles, o sistema de leitura do QR Code, obrigatório para retirada das refeições, faz com que a espera, que já era grande antes da pandemia, se torne ainda maior.
Grupo estudantil reivindica melhoras no restaurante universitário da Ufes. Dificuldade no agendamento, filas grandes, desperdício de alimento, acúmulo de lixo e auxílio estudantil insuficiente são assuntos em pauta #ruUFES pic.twitter.com/eCnDgYCtoG
— Nunah (@nunahsouza) May 2, 2022
Emanuel Couto, estudante de jornalismo e também integrante do Disparada-ES, explica que os alunos buscam uma resposta efetiva da direção para os problemas que têm prejudicado a permanência dos alunos no campus. “É um prejuízo muito grande, porque já aconteceu de muitos estudantes ficarem sem alimentação, principalmente o pessoal que faz curso integral, muita gente que precisa ir parar o trabalho”, ressalta.
Beatriz conta que a preocupação começou já na primeira semana de aula, quando muitos estudantes, principalmente os calouros, ficaram sem alimentação por não terem informações sobre o sistema de agendamento. “Quando começamos a conversar, principalmente com representantes dos centros acadêmicos da Ufes, percebemos que isso já estava sendo uma indignação geral e que, acima de tudo, os estudantes estão sem saber o que fazer. Eles não sabem a quem cobrar e recorrer, nem como vai ficar a situação do dia seguinte. Uma situação de completa incerteza”, enfatiza.
Além das dificuldades para efetuar o agendamento, os alunos também relatam inconsistências entre o cardápio informado no site e os pratos servidos no momento de retirada das refeições. “Só no primeiro dia de aula que a gente teve salada, que é servida separadamente, depois disso ela parou de ser servida, até porque começou a acontecer alguns problemas na quantidade de marmita, o que chega a ser absurdo, já que acontece um agendamento”, relata Beatriz.
Outra reivindicação é a diminuição do preço dos pratos que, até 2018, eram de R$ 1,50 e agora custam R$ 5 para estudantes que não são cadastrados na Assistência Estudantil, um aumento de mais de 200% em um único reajuste. Para servidores e pessoas de fora da comunidade acadêmica, as refeições custam R$ 9,50.
Os problemas com o RU nessa retomada das aulas presenciais já tinham sido denunciadas ao Século Diário na última semana. Relatos dos estudantes eram de que, muitas vezes, alunos que precisam permanecer no campus o dia todo ficam com fome, porque não conseguem agendar a refeição com pelo menos 24h de antecedência, como é exigido pela instituição.
Em um comunicado nas redes sociais no dia 27 de abril, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes informou que realizaria, nos próximos dias, uma reunião com conselhos e entidades de base para tratar dos problemas apontados.
As falhas na garantia da alimentação também foram denunciadas pelo coletivo coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN), que chegou a se reunir com o pró-reitor de Assuntos Estudantis e Cidadania da Ufes, Gustavo Forde, para tratar do assunto. O grupo, que luta por políticas públicas para pessoas com deficiência, foi informado que estudantes PCD’s passariam a ter prioridade de atendimento no Restaurante Universitário (RU).
A Ufes, por sua vez, informou que pretende regularizar o fornecimento de refeições por meio de produção própria “a partir de meados de maio”. De acordo com a universidade, o processo de transição para essa fase foi atrasado por dificuldades na contratação de empresas fornecedoras e prestadoras do serviço terceirizado.
Agendamento no Earte
O sistema de agendamento das refeições foi adotado durante o Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte). A refeição é servida em marmitas, que podem ser consumidas nos restaurantes ou retiradas para viagem. Com a retomada das aulas presenciais, no último dia 18 de abril, a Ufes manteve o sistema de agendamento nos campus de Goiabeiras, Maruípe e São Mateus. Em Alegre, sul do Estado, o fornecimento das refeições foi temporariamente suspenso por problemas com as empresas fornecedoras.
Nesta segunda-feira (2), alunos do campus de São Mateus também relataram problemas para acesso ao sistema de agendamento da Ufes. “Hoje nós ficamos sabendo que o RU de São Mateus vai ficar suspenso até o dia 24 de maio. A universidade vai fornecer um auxílio, mas apenas para os estudantes que já são assistidos”, informa Beatriz.
Para André Rodrigues, aluno do 8º período do curso de Geografia e integrante do Levante Popular da Juventude, falta transparência no repasse de informações para os alunos. “É irresponsabilidade da universidade permitir que esse sistema continue a negar o direito do estudante de se alimentar para se manter na universidade. Alimentação é permanência. A burocratização desse processo tem sido excludente para muitos estudantes”, disse em entrevista ao Século Diário.