Universidade deixou de fornecer marmitas no RU nesta terça-feira, medida que os estudantes consideram excludente
Após alunos identificarem larvas nas refeições, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) rescindiu o contrato com a empresa fornecedora de marmitas para os Restaurantes Universitários (RUs) dos campus de Goiabeiras e Maruípe. O anúncio foi feito pela instituição na noite dessa segunda-feira (9) e já está valendo. “É lamentável e preocupante a decisão de rescindir um contrato sem a garantia da alimentação do dia seguinte”, criticou p Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (DCE/Ufes).
Para alunos cadastrados no Programa de Assistência Estudantil (Proaes-Ufes), destinado a estudantes de baixa renda, a Ufes irá pagar, a partir desta terça-feira (10), um Auxílio Alimentação Emergencial no valor de R$ 15 por dia. O valor será repassado até o dia 20 de maio, mas não inclui os demais estudantes que também utilizam o Restaurante Universitário.
“Ninguém almoça e janta por R$ 15. É inadmissível. A parte fundamental da universidade são os estudantes. Isso, para a gente, é um grande descaso. A prioridade da universidade precisa ser a assistência estudantil e o RU é a principal política de permanência dos estudantes, para além das bolsas, para além do auxílio”, disse a diretora de Comunicação e Cultura do DCE, Karini Bergi, em uma transmissão ao vivo da entidade nas redes sociais.
O anúncio da suspensão foi feito ao movimento estudantil na tarde dessa segunda-feira, em uma reunião convocada pela Reitoria. Além dos representantes dos estudantes, o encontro contou com a presença do reitor da Ufes, Paulo Vargas, o vice-reitor, Roney Pignaton, o pró-reitor de Assuntos Estudantis e Cidadania, Gustavo Forde, e outros integrantes da Administração Central. Por volta das 20h, um comunicado foi publicado no site institucional da universidade.
“A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) comunica que foi rescindido o contrato com a empresa fornecedora de marmitas para os Restaurantes Universitários (RUs) dos campi de Goiabeiras e Maruípe. A rescisão ocorreu de modo consensual entre a Administração Central da Ufes e a empresa fornecedora, após relatos de estudantes que encontraram larvas em algumas refeições”, apontou.
Representantes do movimento estudantil na universidade não concordaram com o fim do fornecimento. Para Luara Silva, do Fórum de Assistência Estudantil, a medida é excludente. “Muitos de nós não moram nem próximos à Ufes para poder considerar a ideia de ir em casa comer. Muitos não têm condições de ter tempo hábil para preparar marmita, porque isso envolve rotina e organização”, criticou também durante a transmissão do DCE.
Para Karini, a situação mostra a falta de preparo da universidade oara o retorno presencial, pauta debatida ao longo da transição do Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte). “Todo diálogo que a gente fez com a Reitoria, no Conselho Universitário, foi de que só toparia voltar com o RU funcionando. (…) Se a gente não tiver RU, quais alunos vão continuar estudando na Ufes? Quais são esses corpos que vão poder continuar produzindo estudo, pesquisa e extensão?”, questionou.
Reunião com Paulo Vargas
Durante a reunião com os estudantes, a Reitoria da Ufes afirmou que tentará contratar, de forma emergencial, outro fornecedor para os próximos dias, “mas sem garantia de viabilidade, devido aos prazos exíguos que teriam os fornecedores para prover a quantidade necessária”.
A única certeza dada pela instituição é a previsão de retomada do sistema self-service em Goiabeiras, Maruípe e São Mateus no dia 23 de maio, processo de contratação que o reitor Paulo Vargas diz ter começado no ano passado. Em Alegre e Jerônimo Monteiro, no sul, a produção própria foi iniciada nessa segunda.
O DCE planeja mobilizações permanentes esta semana, denunciando a situação. Um ato já está previsto para esta quinta-feira (12), às 11h, no campus de Goiabeiras. Será o segundo protesto realizado esta semana, que também contou com uma mobilização na segunda, após alunos registrarem larvas nas refeições servidas no RU. Para Luara Silva, os problemas no Restaurante Universitário vão além da segurança sanitária.
“A gente paga R$ 5,00. Muitos estudantes não são assistidos, mas dependem da alimentação na universidade, porque também não estão em uma condição que dá pra ficar pagando R$ 200 por mês em refeição (…) Ou a gente faz uma organização permanente contra algumas mudanças, no que tange a nossa alimentação na universidade, ou as coisas não vão caminhar, porque não para por aí. A gente está com um problema que as pessoas estão tendo que pular a catraca. Não consegue pagar R$ 5 reais”, disse a mobilizadora estudantil.
Para as duas estudantes, os recentes problemas no restaurante da única universidade pública do Estado prejudicam a permanência de milhares de alunos que nem sempre conseguem ter acesso aos programas de assistência. “Nós somos a razão de ser dessa universidade. É o mínimo ter uma alimentação gratuita, de qualidade. É um absurdo discutir permanência só pra estudante assistido, como se permanência pudesse ser ranqueada. Tem realidades que escapam à burocracia da assistência estudantil. Isso é um dado, uma realidade”, enfatizou Luara Silva.