Um dos casos é do jovem Welinton Dias Silva, baleado pela Polícia Militar em São Pedro, Vitória
Movimentos capixabas participam, até esta sexta-feira (20), do V Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado. No evento, representantes da Frente Estadual pelo Desencarceramento do Espírito Santo (Desencarcera ES) falaram das mortes provocadas pela polícia capixaba, como o caso recente de Welinton Dias Silva, de 24 anos, morto após ser baleado pela Polícia Militar (PM) na região da Grande São Pedro, em Vitória.
“O encontro tem o intuito de fortalecer a luta contra o sistema opressor de cada estado, que vem matando nossos filhos e jovens negros e pobres das periferias, que são, todos os dias, massacrados pelo braços armados do Estado”, declara a articuladora do Desencarcera-ES, Eliana Valadares.
Eliana também citou o caso do próprio filho, Robson Pablo Loretti Valadares, morto no dia 8 de outubro de 2020, no bairro Rio Marinho, em Cariacica, por um policial militar. Na ocasião, o assassinato foi denunciado na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM). “O assassino do meu filho está solto e não pode mais fazer outras vítimas”, enfatiza Eliana.
Este ano, o encontro é realizado em Fortaleza (CE) e tem estimativa de reunir 120 pessoas representando movimentos de 12 estados. Além do Desencarcera-ES, a comitiva capixaba conta com representantes da Associação de Mães e Familiares de Vítimas do Espírito Santo e do Movimento Negro capixaba.
Para Eliana, esses encontros fortalecem o trabalho realizado por coletivos estaduais. “É para que muitas mães e familiares, que estão lutando sozinhas, dentro do seu território, não se sintam só. Por isso, chamamos de Rede de Mães contra a Violência do Estado”, explica.
O caso de Welinton Dias Silva, um dos que foram denunciados no encontro nacional, foi no último dia 2 de abril. Vídeos mostram a aproximação do policial que, mesmo vendo o morador parado e com os braços levantados, atirou. Mais de um mês após o ocorrido, o caso continua sem respostas. Na época, o secretário de Segurança Pública, coronel Márcio Celante Weolffel, anunciou a instauração de um inquérito para investigação e o afastamento dos policiais nas atividades operacionais.
Jovem e negro, Welinton entrou para uma estatística alarmante de mortes policiais no Espírito Santo. No início de maio, dados do Monitor da Violência, pesquisa do G1, mostraram que dos 49 registros de pessoas mortas por forças policiais no Estado, 95,6% são de pessoas negras.
Os dados são referentes a 2021, resultado de informações coletadas das Secretarias de Segurança Pública de cada unidade federativa. “O negro já é considerado suspeito, criminoso, antes de qualquer coisa, por isso é alvo do extermínio”, disse, na ocasião, Márcia Rodrigues, professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pesquisadora na área de sociologia da violência.
O encontro realizado esta semana em Fortaleza tem o objetivo de somar forças para combater esse tipo de violência. “É para a gente se fortalecer e aprender experiência de outros movimentos sociais e coletivos de mães, vítimas do terrorismos do Estado. Levar para o nosso Estado muitas experiências e ampliar a nossa luta”, antecipa Eliana Valadares.