Os baixos salários fazem com que profissionais da saúde não queiram trabalhar no interior de Santa Leopoldina, região serrana do Espírito Santo. Essa foi a justificativa da secretária municipal de Saúde, Sigrid Stuhr, para a falta de médicos e dentistas no distrito de Chaves, em reunião realizada na manhã desta sexta-feira (3), com representantes da Associação de Moradores e de Pequenos Produtores do Distrito do Chaves (Ampac).
A abertura de diálogo foi solicitada pela entidade, pois os moradores se queixam de que desde o início de 2021 estão sem profissionais no posto de saúde. O presidente da Ampac, Chrystian Pittol, relata que foi sugerido à secretária que a gestão de Romero Luiz Endringer (PTB) aumentasse o salário, para atrair trabalhadores. O valor, como a secretária informou, varia entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil para médicos, muito abaixo da média para a profissão no Estado, que ultrapassa R$ 5 mil, considerando a menor carga horária, de 20h semanais.
“Dei essa sugestão, por ser uma prioridade, mas ela falou que a prefeitura não pode fazer”, disse, destacando que não foi dado esclarecimento para a comunidade sobre o porquê dessa impossibilidade, nem apresentada nenhuma alternativa para resolução do problema.
“Infelizmente, é bem complicado, não somente na nossa comunidade, mas aqui nas comunidades vizinhas também. Muitas pessoas não têm condição de, se precisar, pegar um veículo e pagar um médico. É por essas pessoas que a gente fica preocupado, que vieram pedir ajuda”, lamenta Chrystian.
A população do distrito de Chaves, que abrange as comunidades de Córrego do Macuco, Rancho Fundo e Rio da Prata, conta com cerca de 400 pessoas. Até o final de 2018, os moradores eram atendidos por profissionais cubanos, do Programa Mais Médicos. Com a retirada do governo cubano do programa, após declarações que considerou depreciativas feitas pelo então deputado federal Jair Bolsonaro (PL), atual presidente da República, o distrito passou a ser atendido por um clínico geral.
“Caso necessário, o clínico geral encaminhava a pessoa para um especialista na sede de Santa Leopoldina ou em Vitória”, diz o primeiro secretário da entidade, Carlos David Toffano, o Carioca. Essa situação dificultou, porém, o acesso da população aos profissionais. Isso aconteceu ainda na gestão passada, do então prefeito Valdemar Luiz Horbelt Coutinho (PSB), o Vavá.
A partir do início de 2021, já no mandato de Romero Luiz Endringer, os moradores passaram a não contar nem com o clínico geral, além de terem que conviver com a ausência de dentista desde que um novo posto de saúde foi instalado em uma escola desativada, já que o antigo estava com problemas de infraestrutura. Após a inauguração, os profissionais não retornaram.
O novo posto, segundo Carioca, funciona somente para atividades como aplicação de vacina e aferição de pressão arterial. Para consultas e exames, seja com médicos ou dentista, os moradores passaram a ficar mais dependentes do deslocamento até a sede de Santa Leopoldina. Em casos de complexidade maior, para Vitória.
Ele relata que não somente a falta de profissionais no distrito impossibilita os moradores de ter acesso à saúde, mas também de transporte público no distrito. Para ir até a sede, é preciso pagar um táxi, sendo que muitas pessoas não têm condições financeiras para isso, ou contar com carona, o que nem sempre é possível.
Há ainda o fato de que não se pode contar com motoristas de aplicativo, uma vez que não costumam ir até o distrito e há dificuldade para chamá-los, pois o acesso à internet é restrito. Ônibus, tanto para a sede quanto para a Capital, passa somente duas vezes por dia. Trata-se da viação Lírio dos Vales, que sai da rodoviária de Vitória rumo a Santa Teresa, passando por Santa Leopoldina. Além disso, segundo Carioca, a passagem é cara, impossibilitando muitos moradores de usufruir do transporte.