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Petrobras vende últimos polos de produção e ‘dá adeus’ à Bacia do Estado

Valor corresponde a apenas 50 dias de produção. Para Valnísio Hoffmann, a venda é “uma vergonha, um absurdo”

A Bacia do Espírito Santo, da Petrobras, que compreendia o sul da Bahia até Guarapari, na Grande Vitória, foi extinta com a venda dos polos de Golfinho e Camarupim, no norte. Agora, o Estado é contemplado, por meio da atuação da estatal, somente com a Bacia de Campos, que vai da cidade de Campos, no Rio de Janeiro, até o sul capixaba. Os polos vendidos eram em águas profundas, de pós-sal, e foram comprados pela empresa BW Energy, US$ 75 milhões.

Com mais essa venda, apontada como escandalosa pelo Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), a maior empresa da América Latina “dá adeus à bacia do Espírito Santo”. A estatal se desfez de todos os campos terrestres e águas rasas e, agora, conclui a venda dos campos em águas profundas.

Conforme consta em um comunicado da Petrobras, do total da venda, US$ 3 milhões foram pagos nesta sexta-feira (24), US$ 12 milhões serão pagos no fechamento da transação, e até US$ 60 milhões em pagamentos contingentes, a depender das cotações futuras do Brent e desenvolvimento dos ativos.

Os valores, segundo a Petrobras, “não consideram os ajustes devidos até o fechamento da transação, que está sujeito ao cumprimento de certas condições precedentes, tais como a aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)”.

De acordo com Sindipetro-ES, o valor da venda corresponde a apenas 50 dias de produção. A capacidade do polo Golfinho, informa, é de aproximadamente 15 mil barris produzidos por dia. “Ao considerar a cotação média atual de US$ 100 por barril, somente com um dia de produção, a nova empresa atinge US$ 1,5 milhão em barris de petróleo, sendo necessários 50 dias exatos para chegar aos US$ 75 milhões pagos nessa compra. É uma vergonha, um absurdo”, desabafa o coordenador-geral do sindicato, Valnísio Hoffmann. 


O cálculo, de acordo com a entidade, não considera a produção de gás natural e condensado (petróleo levíssimo) do polo Camarupim, além de não incluir a produção do bloco exploratório de Brigadeiro, área que faz parte dessa venda e que entra no pacote. 

Ainda é preciso ressaltar que a compradora leva, além das áreas de exploração, toda a estrutura que já existe nessas unidades, incluindo o mercado cativo de gás do Espírito Santo e a garantia de compra de petróleo por parte da Petrobras. O risco é zero nessa negociação, considerando ainda o fato de serem campos conhecidos e em produção”, destaca o Sindipetro-ES, que “se organiza com o jurídico para buscar meios de reverter essa negociação e responsabilizar” os atores do processo de venda.

Antes de Golfinho e Camarupim, já haviam sido vendidos os campos de terra do norte do Espírito Santo, que são Fazenda Alegre, em Jaguaré; São Mateus, em São Mateus; e Rio Itaúnas, em Conceição da Barra. Em águas rasas, foi vendido o polo de Peroá, em Aracruz. Na Bacia de Campos, há ainda o polo Jubarte, com as plataformas P-58, P-57, Cidade de Anchieta e Capixaba; e o de Roncador, com as plataformas P-54, P-55 e P-62.
De acordo com Valnísio, a empresa que comprou “é desconhecida no mercado, fundada há menos de seis anos, e a sede fica nas Bermudas, um paraíso fiscal”, diz. Isso tem preocupado o sindicato, principalmente no que diz respeito às questões ambientais.


O também diretor do Sindipetro, Rodrigo Ferri, destaca que “a Petrobras tem compromisso com o meio ambiente e
décadas de atuação”. “A BW Energy, por ter tão pouco tempo de mercado e não ter a mesma infraestrutura da Petrobras, talvez não tenha capacidade de dar uma resposta adequada e imediata em caso de desastres ambientais”, alerta.

Outra preocupação é a redução dos royalties, que deve impactar principalmente as cidades de Aracruz, no norte, e da Serra, na Grande Vitória. Rodrigo explica que empresas de porte menor pagam 50% a menos de royalties que as de grande porte, como a Petrobras.

Além disso, a entidade destaca impactos como diminuição dos
 postos de trabalho e aumento no valor dos combustíveis para os consumidores, o que vem acontecendo constantemente desde 2016, quando a Petrobras passou a vender seus ativos e a calcular o valor da gasolina, do diesel e do gás de cozinha a partir do Preço de Importação (PPI), com base no mercado internacional.

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