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UP, mais novo partido no país, aponta que fascismo é ‘porrete do liberalismo’

Partido começou a atuar no Estado a partir das manifestações populares contra o governo de Jair Bolsonaro

Às quartas-feiras, um grupo de pessoas, a maioria formada por jovens, se reúne numa das salas de um edifício na Reta da Penha, Vitória, para debater assuntos como “Privatizar a Petrobras é corrupção e traição à pátria” e estudar temas que envolvem religião, filosofia e marxismo. São integrantes da Unidade Popular, o mais novo partido político do país, no Espírito Santo desde 2021, que começou a atuar mais ativamente da política estadual, a partir de participação nas manifestações contra o governo Bolsonaro, há quase dois anos.

Hellen Guimarães, dirigente do partido no Espírito Santo, afirma que “quando a coisa se agrava, a economia anda mal e aparece a mínima possibilidade de algum descontentamento popular, o fascismo surge no horizonte político como uma opção do liberalismo para salvar a extorsão capitalista e impedir qualquer avanço em prol dos trabalhadores. Eis o papel histórico do fascismo: em tempos de ‘paz’, temos um simulacro de democracia; em tempos de vacas magras, temos ditadura fascista e porrete para garantir a propriedade privada e a acumulação dos ricos”.

A UP não tem candidaturas próprias no Espírito Santo, mas para presidente da República o nome é Leonardo Péricles, presidente do partido, que não aparece nas pesquisas. Mineiro, Leonardo é técnico em manutenção de máquinas, negro, mora em Belo Horizonte e até pouco tempo atrás não cogitava uma carreira política.

No Estado, a UP, por sua porta-voz, Helen Guimarães, diz que “ainda não fizemos esse debate internamente”, apesar de estar faltando apenas três meses para as eleições. Isso não impede, entretanto, que militantes manifestem simpatia pelo pré-candidato ao governo do PSTU, outro partido pequeno, capitão Vinícius Sousa. São da mesma corrente que se alinham ao campo da vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) e do ex-prefeito de Baixo Guandu Neto Barros (PCdoB), ambos pré-candidatos a deputado estadual.

A dirigente partidária entende que a “conjuntura política nacional está ligada à conjuntura internacional, como sempre ocorreu desde que se iniciou o que costumamos chamar de “colonização”. Naquela ocasião, o Brasil se formou como uma grande fazenda para servir aos interesses da centralidade do capitalismo. Ontem, precisavam de pau-brasil e de cana-de-açúcar. Hoje, precisam de minério de ferro e petróleo in natura. Mas, seja em que época for, são necessários mão de obra barata e um sistema político subserviente”.

Ela destaca: “é crucial para os conglomerados econômicos e suas expressões políticas (os governos dos países imperialistas), manter a institucionalidade brasileira domesticada, pronta para atender aos anseios desse capital internacional, seja por meio da dívida pública, de ‘reformas’ legislativas, de decisões judiciais, de política fiscal e cambial, etc. Nessa estrutura, trocam-se pessoas, o governo puxa um pouco para a esquerda ou para a direita, mas o importante é que os ‘Poderes da República’ (Legislativo, Executivo e Judiciário), além da imprensa, estejam engajados no regime de extorsão do povo brasileiro”.

Para a dirigente, “superar essa situação passa, necessariamente pela “conscientização política, para entendermos como e por quem somos roubados”. Ela enumera mais dois pontos: organização da classe trabalhadora, para influenciar decisivamente nas tomadas de decisão, tudo isso; e, dentro de um projeto revolucionário, que altere a estrutura de espoliação e sabotagem do povo para outra, na qual o povo realmente se autodetermine politicamente, construa sua própria história, encontre sua soberania e usufrua da riqueza que ele mesmo produz, com saúde, educação, moradia, infraestrutura, direitos, etc”. .

O processo de fascistização no Brasil (e no mundo) é parte disso, diz Hellen, que enfatiza: “expurgar, de forma violenta e irracional, qualquer possibilidade de que o povo tenha dignidade, mesmo que pouca e que não represente qualquer ameaça ao capitalismo, além de afogar toda uma nação na mais completa financeirização e privatização da vida, vivendo ‘quem merece viver’, e morrendo ‘quem merece morrer'”.

Sobre a inspiração ideológica da UP, Hellen explica que a “Unidade Popular, para a superação dos problemas da classe trabalhadora, é necessário a construção de uma nova sociedade, a sociedade socialista, sendo esta a nossa inspiração política ideológica. Para além, também levantamos a bandeira do internacionalismo, defendendo a luta de todos os povos e países pela libertação da dominação capitalista e da espoliação imperialista”.

A construção partidária vem dos movimentos sociais, entre eles o Luta dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Movimento de Mulheres Olga Benário, a União da Juventude Rebelião, o Movimento Luta de Classes e o Movimento Correnteza. Por meio de um grande processo de mobilização e coleta de assinaturas, no qual conseguiram mais de 1, 2 mil, foi possibilitada a legalização, em 10 de dezembro de 2019. “Somos o mais novo partido de esquerda do Brasil. A atuação no Estado é recente, no segundo semestre de 2021”, diz Hellen.

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