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​Luta sexista

Não se ganha uma guerra na solidão

A luta por direito às mulheres de serem donas de seus destinos passa por caminhos de uma verdadeira guerra e, como tal, é fundamental uma visão estratégica.

Conhecer as próprias fragilidades e vantagens, mas também as do inimigo. Valorizar aqueles que estão contigo na luta e dedicar-lhes apreço. Reconhecer tanto os pontos fortes do inimigo, para evitar confrontá-los, quanto os seus, para melhor explorá-los e, dentre muitas outras lições antigas da arte da guerra, buscar o mérito de vencer com o mínimo de luta e estrago, mesmo ao “inimigo”.

O Brasil de hoje vive um acirramento de toda luta por igualdade equitativa, devido a esse desgoverno, que tem por ideologia promover exatamente o retrocesso desta luta.

Infelizmente, isto não é resultado da estratégia de enganar à população, mas, ainda pior, é resultado efetivo do investimento em sentimentos mesquinhos de uma parcela da população, de retomada e fortalecimento de privilégios que historicamente vinham sendo desconstruídos pelas políticas públicas e sociais de governos de esquerda.

Para tal, este desgoverno buscou aliciar quadros aparentemente contraditórios aos seus propósitos, para a eles servir. Quero citar, só para ser evidente, exemplos como as posturas públicas contraditórias da ministra Damares Alves “defendendo os direitos das mulheres”, “das famílias” e dos “direitos humanos”, ou do Marcos Evangelista, presidente da Fundação Palmares, “lutando contra o racismo e valorização da população preta”.

Para reverter o estrago desses quatro anos de desmonte e ataque ao que entendíamos como evolução natural e humana do pensamento, na sociedade brasileira, será necessário o enfrentamento a esta “oligarquia moral”, fundamentalmente na eleição e cotidianamente depois dela, seja qual for o seu resultado.

Esses dois temas, somados à causa indígena, foram trabalhados intensamente no sentido de despertar a busca e preservação de privilégios e poder de classes dominantes da sociedade brasileira. Sempre dentro de uma visão cultural de supremacia de “alguns humanos” sobre outros, muito semelhante ao evento nazista na Alemanha do século passado, com Adolf Hitler.

A eleição de outubro próximo traz uma grande oportunidade de (re) arrumação do campo de batalha – por que a luta continua, e precisa de todas as forças possíveis de serem arregimentadas.

Trazer mais mulheres para a luta política, no campo eleitoral, talvez seja o ponto principal do momento, vez que ela tem a maioria dos votos. Fortalecer a luta aliciando os homens simpáticos à causa, e partir para o enfrentamento, sem perder, contudo, o objetivo principal: a construção de uma sociedade de respeito e igualdade entre os sexos e todas as pessoas.

Nesse sentido, o momento é de chamar candidatas e candidatos ao compromisso com a bandeira da coerência, da razoabilidade, da legitimidade de suas representações frente aos valores humanos, a cada dia melhores compreendidos por essa sociedade de pilares democráticos, em que o Estado deve servir ao povo, no sentido de proporcionar-lhe a melhor vida, para muito além das vontades de maioria, sejam quais forem suas construções convenientes.

Por isso nenhum aliado pode ser dispensado, mesmo frente algumas outras discordâncias e, se for possível amarrar ao compromisso com a luta da igualdade dos sexos, para o momento da luta, é importante.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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