Privatização da Petrobras; perda da soberania nacional; destruição das políticas públicas e sociais, como as de educação; e criminalização e exclusão das periferias são alguns problemas enfrentados no Espírito Santo e no restante do país que impulsionaram a escolha do trajeto da 28ª edição do Grito dos Excluídos, que será realizado em Vitória. Neste ano, a concentração será na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus de Goiabeiras; com parada na sede da Petrobras, na Reta da Penha; e término em Itararé, no Território do Bem.
“O trajeto deste ano representa os grandes gritos da atualidade”, enfatiza Giovani Lívio, coordenador do Fórum Igrejas e Sociedade em Ação, que organiza o Grito. A manifestação, que acontece anualmente no dia 7 de setembro, tem como tema “Vida em Primeiro Lugar”, e lema, “Brasil: 200 Anos de (In) Dependência. Para quem?”.
Giovani explica que a escolha da Ufes para a concentração é para denunciar o desmonte da educação pública em todos os níveis, não somente no ensino superior. No caso do ensino público federal, ele destaca a dificuldade cada vez maior de permanência dos estudantes de origem popular nas universidades, uma vez que, embora haja políticas de ação afirmativa, como as cotas, o corte nos orçamentos das instituições de ensino impossibilita o investimento em bolsas, como as de pesquisa, extensão e assistência estudantil.
A parada na Petrobras questiona a extinção da Bacia do Espírito Santo, da estatal, após as vendas dos polos de Golfinho e Camarupim, no norte, em junho, comprados pela empresa BW Energy, por US$ 75 milhões, valor que, segundo o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro/ES), corresponde a apenas 50 dias de produção. “Vamos nos manifestar contra as privatizações, a política de preços, que tem feito aumentar consideravelmente o valor do combustível e do gás de cozinha. A gente perde a soberania nacional quando o governo entrega de mão beijada nosso petróleo”, diz Giovani.
O coordenador do Fórum destaca que a extinção da Bacia do Espírito Santo também acarreta perda de royalties, o que significa menos recurso financeiro para políticas públicas. O ponto final, em Itararé, é por se tratar de “uma comunidade pobre, periférica, que sofre violência do Estado com ausência de efetivação de direitos e repressão policial, podendo representar todas comunidades periféricas”.
Ainda segundo Giovani, o Grito também denunciará o favorecimento às elites econômicas, que contribui para as diversas formas de dependência registradas no Espírito Santo. Umas delas são a econômica e política em relação aos grandes empreendimentos poluidores.
“Somos dependentes de um marco industrial das décadas de 60, 70, 80”, afirma, exemplificando com a situação da cidade de Anchieta, no sul do Espírito Santo, diante do fechamento da Samarco/Vale-BHP, ocasionado pelo crime do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais. “O que virou Anchieta? Uma cidade de muitos desempregados, devido à falta de investimento em outros campos, como a pesca, a agricultura, o artesanato e o turismo”, enumera.
Giovani também aponta a dependência do poder público em relação a esses empreendimentos, uma vez que eles investem em candidaturas políticas, o que inviabiliza os gestores e legisladores, depois de eleitos, de tomar as iniciativas necessárias contra os danos causados à população. “Há um acobertamento. O pó preto da Vale, por exemplo, é um problema crônico que não é resolvido”, denuncia. A ArcelorMittal também é responsável pelas emissões, questão há décadas também marcada pela omissão do poder público.
O coordenador do Fórum aponta ainda as diversas situações de vulnerabilidade social que existem no Brasil e no Espírito Santo. A fome é uma delas. “Atravessamos um dos piores cenários, comparado ao da década de 90. A solidariedade começa a minguar, porque o desemprego, a informalidade, a carestia, tudo isso dificulta a ajuda entre as pessoas. É muita gente precisando de ajuda e pouca gente com condição de ajudar”, destaca.
No ano passado, o lema do Grito dos Excluídos foi “Vida em Primeiro Lugar” e o tema “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”. Os manifestantes ocuparam as ruas do Centro de Vitória, com apelos por “Fora Bolsonaro”, “comida no prato e vacina no braço”, e” feijão, e não fuzil”.