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Vitória
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Porto de desembarque

Não temos como mudar a rota nem o irrevogável porto de chegada

De volta à boa terra de Maria Ortiz, percebo surpresa que nada mudou. Vitória continua ocupando o mesmo espaço geográfico no globo terrestre, ilha de mar e luz, flutuando nos devaneios da minha memória. Por onde andei fui deixando a marca dos meus passos, junto com tantos outros que no mesmo chão pisaram. Por onde passo deixo retalhos da minha presença, marcantes para mim, insignificantes para os que seguem comigo no mesmo rumo.

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Companheiros de jornada, lá vamos nós, unidos e anônimos, cumprindo nossa meta rumo ao amanhecer do dia seguinte. E do próximo. Cada um no seu passo, cada qual com sua cruz, leve ou pesada. Para muitos a subida é íngreme, para uns poucos é um passeio no parque. Como a passagem de avião bem protegida no fundo da minha bolsa, a vida também vem com rotas bem definidas – sabemos qual foi o ponto de partida: o útero materno, macio e morno para todos.

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Mas o que nos espera no final da linha? Talvez nessa derradeira estação encoberta pelas nuvens do futuro os papéis se invertam, quem amargou o caminho mais difícil vai agora deslizando em tapete de veludo, e vice-versa. É via de mão única, e cada passo dado não tem como desmanchar e pisar de novo. Não temos como mudar a rota nem o irrevogável ponto de chegada. O que fazemos durante essa viagem, porém, tem a nossa marca, feito um DNA exclusivamente nosso – que no entanto podemos alterar e renovar.

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Um passo em falso, uma ação errada, um gesto que ofende, uma palavra que fere, uma pedra atirada – podem ser corrigidas e compensadas no caminho aberto à nossa frente – reparar os erros, limar as arestas, prosseguir com mais tolerância. Não falo na fácil retórica de fazer o bem sem ver a quem, ou mesmo nas doces palavras de Francisco, o santo de Assis, onde é dando que se recebe. Poucos são os santos, muitos os pecadores. Mas se completamos nossa viagem sem prejudicar os que seguem ao nosso redor, a jornada por certo nos deixará em um porto seguro.

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O voo da vez me deixa no aeroporto de VIX – viagem, visagem, vitória dos capixabas, ilha cercada de morros e sabores – além deles o mar, infinito, contínuo, constante. Piso ruas estreitas onde pisaram Maria Ortiz, o Santo Anchieta, a pecadora Luz del Fuego. Ando por avenidas modernas, cercadas de shoppings por todos os lados. Vou com o povo que vai apressado, daqui a pouco um encontro, um compromisso, uma consulta, uma entrevista, o lar acolhedor no final do dia, como o lar que nos espera no final dessa viagem maior chamada vida.

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