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Ameaçadas de extinção, lontras são fotografadas na Lagoa Encantada

Presença da espécie, aparentemente em comportamento reprodutivo, reforça importância da criação de um parque natural

Izanildo Sabino

Um registro raro de uma espécie arisca aos seres humanos e ameaçada de extinção é motivo de entusiasmo entre os defensores da Lagoa Encantada e seus alagados, na região de Vale Encantado, em Vila Velha: duas lontras (Lontra longicaudis) foram fotografadas nadando na lagoa, aparentemente em comportamento de reprodução, comprovando que o local de fato abriga a espécie, conforme os ambientalistas já supunham, a partir de vestígios encontrados dentro do manguezal. 
A presença do animal reforça a necessidade de criação de uma unidade de conservação que protege esses ecossistemas – lagoas, alagados, manguezal, restinga e rio -, garantindo a manutenção de serviços ecossistêmicos fundamentais, como a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a regulação das cheias urbanas que acometem periodicamente o município, especialmente em sua porção sul, onde a Lagoa Encantada está localizada.
“Esse achado só confirma que essa área tem que virar unidade de conservação, englobando todas as lagoas, não só a principal. No texto que foi para consulta pública, isso está posto, vamos ver se a minuta que será enviada para a Câmara de Vereadores vai manter”, pondera o biólogo Flávio Mendes da Silva, integrante do Fórum de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental do Grande Vale Encantado (Desea), uma das organizações que encabeça os movimentos de proteção da região e de transformação em unidade de conservação. 
A lista vermelha capixaba, que reúne as espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção, em sua atualização feita em 2019, classifica a Lontra longicaudis como Vulnerável e aponta que as principais ameaças são as alterações dos ambientes naturais por poluição, desmatamento e interação com animais domésticos, que podem caçá-las ou transmitir doenças, como a cinomose.
Antes das fotos do casal de lontras se banhando na lagoa, os ambientalistas guardavam, nos últimos anos, muitos registros de vestígios, como fezes e rastros, sempre em lugares de difícil acesso, como o manguezal. Com isso, já consideram que a espécie fazia parte da fauna selvagem local.

“A lontra é em geral um bicho muito difícil de ver. Até quem estuda a espécie, faz isso mais pelas fezes e rastros, mesmo. E elas são consideradas solitárias, que só ficam juntos durante o acasalamento e reprodução. Por isso, o interessante desse registro do Izanildo [Izanildo Sabino, também ambientalista membro do Fórum Desea] é que parece tratar-se de um casal. É um indicativo de eles irão se reproduzir ou de que talvez até já estejam com filhote”, comemora o biólogo.

Izanildo Sabino

Flávio explica ainda que, além do comportamento mais arisco, a lontra torna-se ainda mais reservada em lugares como a Lagoa Encantada, que, por estar no meio urbano, é visitado por um número grande de pessoas. “O comportamento delas aqui é de ficar ativa à noite ou nos horários crepusculares, no início da manhã ou fim de tarde, quando menos pessoas costumam frequentar”. 

E quando está ativa, caça com intensidade, necessitando de uma quantidade substancial de energia. “Ela é um predador de topo de cadeia e precisa comer muito. A dieta básica é de peixes e crustáceos, mas ela come de tudo, anfíbios, aves…Então ver essas lontras ali mostra que a área tem abundância de alimentos, muitos peixes, caranguejos, anfíbios. Precisa ser preservada”, reforça. 

A lontra pode ainda ser considerada uma “espécie guarda-chuva”, ou seja, ações de proteção dela abrigam naturalmente medidas de proteção de diversas outras espécies e ambientes, como acontece com a tartaruga-marinha, que é fundamental para a saúde dos ambientes marinhos e costeiros do Brasil, onde há bases do Projeto Tamar e outras iniciativas de conservação da espécie. “No caso da lontra, é interessante ainda que ela é um mamífero semiaquático, precisa tanto de ambientes aquáticos quanto de ambientes terrestres preservados”, acrescenta. 

Unidade de conservação

A proposta em curso no município é de criação de uma unidade de conservação de proteção integral, na categoria parque natural municipal, com tamanho de 200 hectares, incluindo o manguezal e o leito do rio Aribiri, que nasce nas proximidades da lagoa.

Após a consulta pública, encerrada no final de abril, as definições de categoria de UC e delimitação serão encaminhados para a Procuradoria do Município e o Ministério Público do Estado (MPES), que farão avalições fundiárias e outros desdobramentos. Por fim, a prefeitura deve elaborar uma minuta de projeto de lei para criação da UC, que terá que ser apreciada e aprovada pela Câmara de Vila Velha.


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https://www.seculodiario.com.br/meio-ambiente/cachorro-do-mato-e-flagrado-em-mata-da-lagoa-encantada-em-vila-velha

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