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Maurício Abdalla: propostas sociais não encontram eco entre os poderes

Professor da Ufes destaca que um mandato não é prerrogativa individual, sendo essa afirmativa um dos fundamentos da democracia

Marcos de Alarcão

“As propostas dos movimentos sociais não encontram eco entre os poderes”, aponta o o professor de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), também escritor e educador popular, Maurício Abdalla, um dos nomes da relação de pré-candidatos a deputado estadual pelo PT, que será anunciada na convenção da federação dessa legenda formada com o PCdoB e PV. O evento ocorrerá às 19h desta quinta-feira (4), na Assembleia Legislativa.

Abdalla acha que os partidos de esquerda perderam um pouco o vínculo com os movimentos sociais, apesar de destacar uma visão positiva dos movimentos progressistas. “A primeira avaliação que preciso fazer com relação os mandatos progressistas, é que foram esses parlamentares que salvaram o país”, diz, apontando como a bancada de oposição no Senado conseguiu fazer uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Ele enfatiza que sua pré-candidatura não tem a perspectiva de substituir nenhum mandato progressista e, sim, aumentar a bancada. “É preciso reconhecer a importância dos partidos de esquerdas, de mandatos progressistas que fazem oposição baseada em princípios, e não de acordo com as ofertas do governo. Porém, temos que oxigenar a esquerda”.

Depois de passar 36 anos atuando nos movimentos sociais, Abdalla afirma que é “preciso saber dialogar e compreender que esses movimentos acumularam propostas durante décadas e, infelizmente, não encontram eco nos poderes, porque os eleitos não representam esses movimentos, ou se burocratiza e perde o vínculo”. Sua atuação, ressalta o professor, garante essa possibilidade do diálogo e representação.

Ele pontua, ainda, sua inserção social pela teologia da libertação, na Igreja Católica, nas Comunidades Eclesiais de Base e, a partir daí, no movimento popular e na educação popular, “inclusive fazendo muito trabalho de formação sindical, no campo e na cidade”, enumera.

Uma de suas motivações, enfatiza, é “a necessidade de termos um legislativo mais decente, livre dos discursos de ódio, da corrupção e do desprezo com os princípios republicanos e os direitos fundamentais da pessoa humana”.

Sobre a forma de operar essa transformação no contexto político, considerando o contexto atual e as limitações do Poder Legislativo, Abdalla destaca que o “mandato não é uma prerrogativa individual”, sendo essa afirmativa um dos fundamentos da democracia. “A primeira coisa a se compreender, é que um mandato, quer seja parlamentar ou executivo, é o suporte ético na sociedade. Esse passo tem que ter comprometimento de vida, porque é isso o que segura toda a trajetória da pessoa e a sua prática na vinculação com esse movimento”.

Maurício Abdalla também aponta a importância do diálogo, “de fazer o exercício do mandato parlamentar uma expressão desse movimento e não de uma pessoa brilhante, que tem boas ideias e que lá vai chegar e desenvolver as melhores leis e fazer as grandes transformações. Mas sim, uma pessoa que é capaz de escutar, de fazer a ponte, de discutir as propostas, que já existem nos movimentos sociais”.

Para o professor, alguns mandatos acabaram reduzindo esse contato a períodos eleitorais ou debates eventuais, gerando, pelo Brasil inteiro, desvinculação dessa fonte, além de perdas da dinâmica e da capacidade de representação da sociedade, passando a preocupar, muito mais, a perpetuação nos cargos. “Tenho dito que esses mandatos se tornaram autopoiéticos, um conceito da biologia que se refere às células, uma máquina que produz só a si mesmo”.

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