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O absurdo da vida

Rolar nossa pedra de todos os dias

Desde que consideramos o pensamento a nossa morada mais segura, temos a necessidade de aprender a conviver com o absurdo da falta de razão significante para a vida. Nascemos sem uma explicação de origem, motivo e finalidade da existência, trilhamos os caminhos do conhecimento, por meio da ciência, tateando o universo na tentativa de conhecê-lo, sem, contudo, a menor garantia de manutenção de sua “ordem”. Enfim, viver sem uma avaliação séria do sentido da vida, forma o homem moderno, que na visão de Blaise Pascal, “(…) é tão vazio que qualquer coisa o preenche” (que perigo!).

O existencialista Albert Camus (1913 – 1960) traz, em O Mito de Sísifo, a revelação do absurdo da vida do homem pensante, que precisa conviver com a impossibilidade de alcançar razões maiores para sua existência, sapiente da morte e, por sua racionalidade, sem possibilidade de dar um “salto” para entrepor significado à própria existência.

Após a queda do medievo, com suas atrocidades em nome de Deus e da fé, frente às luzes do novo século, a Filosofia questiona o “salto” para a metafísica, como um escapismo do ser pensante – inconformado com suas limitações epistêmicas – e revela a desertificação do sentido da vida, com o anuncio nietzschiano da morte de Deus e os questionamentos sartreanos entre o ser o nada.

Impedido pela razão de considerar o sentido da vida para o “pós vida”, este homem moderno poderia se desconsolar diante da pergunta fundamental: vale a pena viver sem saber por que, para que e até onde?

Mas retornando a Camus: (…) “Surge um mundo cujo único dono é o homem. O que o atava era a ilusão de outro mundo”.

Podemos dizer que Sísifo, condenado a rolar a pedra morro acima e retomar o mesmo trabalho todos os dias, precisa significar sua vida, seu trabalho fundamentalmente inútil, para se suportar e querer continuar vivo.

Então vale questionar: o “nada” desespera, ou assegura ao homem o protagonismo de sua vida? Camus responde: “se há um destino pessoal, não há um destino superior ou ao menos só há um, que ele julga fatal e desprezível”. A morte.

Portanto, o que resta a Sísifo é a única coisa que temos: cada um de nossos dias, assim como Sísifo precisa significar cada subida e descida, precisamos dar significado a cada um dos nossos dias e, esta significação precisa ser esperançosa, sem saltos de compreensão justificador.

A justificativa para a ação é a ação em si mesma, ou ela não se justifica.

O mundo significante de nossas vidas dependerá sempre de o significarmos para suportar a falta de sentido da vida e alimentar alguma esperança que a justifique.

Talvez, para os mais ávidos, o desafio de significar os dias seja em si mesmo um robusto significado a toda existência.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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