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Manifestação nesta sexta-feira reivindicará apuração do assassinato de travesti

Crime que vitimou Lara Croft, assassinada por PMs em Cariacica, completa um mês neste sábado

O assassinato da travesti Lara Croft completa um mês neste sábado (13), sem que qualquer resposta sobre a apuração dos fatos seja dada à família. A omissão do Estado diante do crime motivou a realização de uma manifestação nesta sexta-feira (12), às 19h, na Rua da Lama, em Alto Lage, Cariacica, local onde a vítima foi morta. O protesto é organizado pela Associação Grupo Orgulho Liberdade e Dignidade (Gold), com a anuência da família de Lara.

A vítima foi assassinada a tiros. Os disparos foram feitos por um policial militar, que, juntamente com um colega de trabalho que o acompanhava, alegou que a travesti estava em atitude suspeita, sendo, por isso, dada voz de abordagem. Ela, então, teria tentado golpear os policiais com um barbeador. Entretanto, moradores afirmam que Lara foi abordada violentamente, sem que os tivesse agredido.

A coordenadora de ações e projetos da Gold, Deborah Sabará, recorda que, na ocasião, encaminhou ofício para o secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Marcio Celante Weolffel, solicitando a investigação do caso, mas nunca recebeu resposta ao ofício.

Deborah afirma que a mãe de Lara procurou a entidade solicitando auxílio, pois a família quer justiça. A partir daí, foi feita a proposta de fazer o ato, que tem sido divulgado na comunidade pelos familiares. “A presença da mãe na Gold em busca de esclarecimento simboliza todas as mães de travestis, é um pedido de apoio a todas as demais que, por causa do estigma, nem ao menos contaram com familiares que reivindicassem justiça. Lara não estava armada, e mesmo assim, levou cinco tiros. Não havia necessidade dessa violência”, critica Deborah.

Com o assassinato de Lara Croft, o Espírito Santo superou, já na metade do ano, o número de trans e travestis mortas em 2021. No ano passado, foram três homicídios, segundo o dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Conforme aponta Deborah Sabará, o assassinato de Lara foi o quarto a vitimar, em 2022, uma pessoa desse grupo.
No Espírito Santo, a Gold é responsável por repassar os casos para a Antra, com informações sobre idade e profissão das vítimas. O registro é feito com base em matérias jornalísticas, relatos e pesquisas, mas a estrutura para a realização das notificações ainda é limitada. A ativista alerta para os casos de subnotificação.
Uma das outras vítimas deste ano foi a mulher trans Anna Souza, em maio. Deborah recorda que ela foi assassinada pelo ex-sogro de seu marido, que não se conformava de saber que o ex-genro estava com uma mulher trans. Em abril a mulher trans Crislaine dos Santos foi morta a tiros no meio da rua, em Guaraciaba, na Serra. O corpo foi encontrado com o short abaixado até os joelhos. A terceira, lembra Deborah, foi assassinada em Vila Velha, no ponto de prostituição.
No dossiê da Antra de 2021, o Espírito Santo apareceu em 13º lugar no ranking de estados com mais registros. Os dados repetiram o número de assassinatos notificados em 2020, quando também foram observados três casos.

Deborah destaca a necessidade de políticas públicas para trans e travestis. “A gente vê, por exemplo, o investimento em Centros de Referência da Juventude [CRJ], mas a juventude trans e travesti não acessa esses espaços, por não atender diretamente essas pessoas, assim como acontece em outros equipamentos”, destaca.

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