Marcelo Xavier, coordenador do programa no Estado, vai encaminhar o programa a todos os 714 candidatos deste ano
“A fome e outras manifestações de insegurança alimentar e nutricional voltaram a penalizar o povo brasileiro”. Com essa justificativa, a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) iniciou um movimento junto aos candidatos nas eleições de outubro, visando garantir o comprometimento para demandas do setor, como fatores essenciais para pelo menos reduzir a insegurança alimentar no país, que atinge 58,7% da população.
No Espírito Santo, essa ação foi iniciada no último dia 17 e, nesta sexta-feira (19), com a divulgação de uma carta-compromisso, que iniciou com 10 assinaturas de políticos que reconhecem a importância do trabalho, no momento em que, no Brasil, são contabilizados 33 milhões de pessoas convivendo com o problema da fome. Esse quadro é resultante do desemprego, perda de direitos trabalhistas, redução dos níveis de renda e contínua alta do preço dos alimentos.
Assinaram a carta-compromisso, até agora, os candidatos a deputado federal Helder Salomão (PT), Marcos Garcia (PP), Jacqueline Moraes (PSB), Perly Cipriano (PT) e Sergio Majeski (PSB), e à Assembleia Legislativa, Maurício Abdalla (PT), Neto Barros (PCdoB), Lenise Loureiro (Cidadania), Miro Vilarim (Patri) e Dary Pagung (PSB).
Marcelo Xavier, coordenador do programa no Espírito Santo, aponta os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados por 192 países, na Organização das Nações Unidas (ONU), nos quais estão inseridos os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo. A carta-compromisso está sendo apresentada aos diretórios de partidos e será encaminhada aos 714 candidatos nas eleições deste ano no Espírito Santo.
As ODS pretendem promover o uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres e, também, os seguintes pontos: erradicação da pobreza, fome zero, agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, água potável e saneamento, energia acessível e limpa, trabalho decente e crescimento econômico, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, consumo e produção responsáveis, paz, justiça e instituições eficazes.
O que à primeira vista pode parecer utópico é, para Marcelo Xavier, a única saída para a sobrevivência do planeta. Citado como exemplo, por ser uma das maiores economias do mundo, o Brasil é alvo do questionamento sobre o porquê da falta de alimento na mesa do brasileiro. São questões que não estão como prioridade em programa e projetos apresentados por candidatos às eleições deste ano. A maioria defende mudanças de gestão, mas mantém o mesmo modelo de desenvolvimento, carimbado com a marca de sustentabilidade.
Para o publicitário e técnico agrícola Roícles Coelho, para que os ODS aprovados na ONU sejam efetivados, “é preciso vontade política para mudar, principalmente no Brasil, que apresenta fatores favoráveis, entre eles a agricultura urbana, que pode ser a nova fronteira”. Refere-se à agricultura urbana, para produzir alimentos saudáveis nas cidades, ele próprio idealizador, há dois anos, e coordenador de uma horta urbana em São Torquato, Vila Velha.
Produz alimentos para as comunidades e virou ponto de referência para ministração de aulas a alunos de escolas públicas. “Temos no espaço urbano grande quantidade de áreas ociosas que podem ser utilizadas como hortas e, além de ajudar na alimentação saudável, são geradores de emprego e renda”, diz Roícles, que destaca: “Existem terrenos ociosos em estoques, muitos dos quais em zonas rurais, transformado em áreas urbanas para efeito de cobrança de impostos”.
A agricultura urbana ocupa papel importante na carta-compromisso, mas, segundo Marcelo Xavier, o programa envolve um leque de questões muito amplo, visando a melhoria da qualidade de vida e “a plena restauração do estado democrático de direito, que inclui, além da fome, água, saneamento e geração de emprego”.