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Piscina cheia de ratos

O antídoto: educação e consciência crítica

As retóricas de campanha eleitoral estão em alta até o dia dois de outubro. Em primeiro contato, a impressão é de que todos os candidatos são muito bons, afinal toda oportunidade de divulgação é utilizada para apologia de si mesmos e pedradas nos adversários.

Para o eleitor alcançar a verdade das intenções, não pode se restringir às informações passadas pelo próprio candidato, é preciso uma análise mais profunda de sua história e alianças históricas e, principalmente, de sua atual coligação. Afinal, a chamada “base de sustentação” ajuda a ganhar eleição durante a campanha e cobra a conta durante o mandato, simples assim. Na maioria das vezes, a aliança acaba tendo um peso maior que o candidato na condução do governo.

Infelizmente, o senso comum brasileiro, ainda iludido com a necessidade de um salvador da pátria, termina por eleger o discurso vinculado ao sujeito, como num show de talentos. Talvez seja este o maior calo da democracia, o império das palavras nem sempre conectadas à verdade e um bando de sofistas oferecendo faces populistas e construindo “verdades” de discurso para agradar o povo.

Nos dias atuais, existe ainda um reforço das mídias vinculadas às redes sociais em que reina a opinião (Doxa) que aprofunda o abismo entre a construção do discurso e a realidade. Isto acontece, até mesmo porque, a “notícia” não sai mais da boca do candidato, mas de uma rede de apoiadores, aos quais a responsabilidade pela informação se perde nos sucessivos encaminhamentos de mensagens, seja pelas pessoas ou até mesmo pela forma mecanizada dos robôs na rede.

Na busca de base para tais afirmações, posso me socorrer nos filósofos renascentistas e iluministas que adentraram o universo da reflexão política moderna, regulamentando o funcionamento do governo em poderes independentes e promovendo uma leitura radical da personalidade forjada no político para se autossustentar no poder.

Na história da República, assistimos com muita frequência a queda de máscaras, tanto daquele que elegemos pelo falso discurso, quanto dos que elegemos por postura individual e que são conduzidos por aliados, aos quais não atentamos sequer para sua existência lá na campanha. Muitas vezes o preço pago chega ao absurdo de sermos governados pelos aliados, sem o titular que recebeu o voto.

O fato é que o Brasil já tem até tradição na conclusão de governo por vices e seus aliados. Convenhamos que, por tudo já dito, o mais provável é que a maioria da população vota no candidato sem nem conhecer o vice e sua coligação, que muitas das vezes, seguem comendo pelas beiradas, como corvos rondando o moribundo.

A educação para a cidadania, despertando a reflexão crítica e radical, é que pode trazer alguma esperança, ao formar novas gerações conscientes e articuladas para o exercício da política.

Com o patrulhamento ideológico que vêm sofrendo as escolas nesses últimos anos, urge retornar as formações comunitárias, por meio de igrejas, sindicatos, associações comunitárias e de classe – como acontecia no século passado, principalmente no período da ditadura militar. Para tal, a palavra de ordem é engajamento de toda a sociedade com aliança dos setores produtivos, intelectuais e população do campo, num trabalho de formiguinha, promovendo um levante de cidadania e esclarecimento, para que a população deixe de ser refém de discursos populistas e armações de quadrilhas de políticos.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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