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Mesmo após críticas, atrações gospel são mantidas no aniversário de Vitória

Grito da Cultura afirma que programação da gestão Pazolini “não celebra a nossa diversidade”

Parte da programação do aniversário de Vitória, referente a esta quinta-feira (8), data em que a Capital completa 471 anos, será mesmo com atrações gospel, apesar da repercussão negativa nas redes sociais. A iniciativa da gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) foi criticada por contemplar somente um grupo religioso e, como resposta, as publicações oficiais foram retiradas do ar, mas o cronograma segue sem alterações.

Conforme constava nas publicações, a programação gospel começa às 17h, com oração com o Apóstolo Ozenir, seguida do Coral Homens Cantores de Vitória. Em seguida, louvor Local Fonte de Vida e reflexão com o pastor Romerito, DJ PV – Louvor e Testemunho e palavra do prefeito. Prossegue com oração pela cidade, com pastor Bruno; Kemile; oração pelo Estado, com pastor João Manoel; seguida de Gabriel Guedes e Banda; oração pelo Brasil, com pastor Ernesto; e oração de encerramento, com Pastor Paulo.

Redes Sociais/PMV

Na programação enviada a Século Diário pela prefeitura nesta terça-feira (6),  consta que, no dia 8, na Praça do Papa, acontece o segundo dia da festa “Vitória 471 anos”, “com uma programação especial”. “Haverá apresentação de coral e outras atrações, como a apresentação do DJ PV, às 18 horas, e o show de Gabriel Guedes e banda, marcado para as 21 horas”. A programação enviada pela gestão de Pazolini, portanto, não menciona, as reflexões e orações com pastores, mas destaca as atrações musicais gospel.

De acordo com a gestão municipal, “Pedro Victor, conhecido como DJ PV, é um produtor musical e compositor. Tem dois álbuns lançados em português, um espanhol e alguns singles em inglês. De acordo com a sua produção, é o primeiro DJ latino-americano contratado pela Sony Music alcançando mais de 200 milhões de views no YouTube”. Diz ainda que “o artista já realizou turnês em mais de 14 países, como EUA, Inglaterra, França, Bélgica, Argentina, México, Colômbia entre outros”. Embora não mencione, basta fazer uma busca na internet para verificar que trata-se de um artista da música gospel.

Já Gabriel Guedes “iniciou a sua carreira aos 12 anos e possui grandes sucessos dentro do segmento gospel. Em 2019 lançou seu primeiro DVD, intitulado Eterno Presente“.

A integrante do Grito da Cultura, Karlili Trindade, afirma que contemplar um único segmento religioso na programação faz com que o aniversário de Vitória “não seja celebrado com a nossa diversidade, nossa cultura”. Para ela, “Pazolini transforma Vitória em seu templo e acha que somos os fiéis”.

Karlili questiona: “As outras religiões não são abarcadas. Cadê as demais culturas? Cadê o Candomblé? As religiões afro? Só se preocupa com a população evangélica, que não representa a totalidade”, lamenta. A programação gospel, acrescenta, “homogeniza uma sociedade que é diversa, plural. As demais religiões, enquanto cultura, estão tendo suas identidades apagadas”.
A vereadora Camila Valadão (Psol), por meio do Requerimento de Informação 164/2022, solicitou nessa segunda-feira (6), ao Executivo, que informe o valor global dos recursos que serão destinados às comemorações, previstas para os dias 7 e 8 de setembro; os valores que serão utilizados para pagamentos de cachê das atrações contratadas; e “o porquê da predileção de um dia reservado na programação para atividades que reverenciam apenas uma manifestação de crença e fé”.
O prazo de resposta dado pela vereadora foi de até 30 dias. No requerimento, Camila afirma que a solicitação leva em consideração o fato de a programação divulgada pela PMV em 4 de setembro ter sido apagada e nela constar “atrações musicais e de transmissão de partida de futebol para o dia 7 de setembro, e atrações religiosas cristã evangélica para o dia 8 na Praça do Papa, e que, conforme consta na Constituição de 1988, o Estado é laico”.
Considera ainda “que a Lei Orgânica do Município de Vitória, ao discorrer sobre o planejamento municipal no Art 150, garante por meio do parágrafo único, que o desenvolvimento do município passa pelo respeito às vocações e as peculiaridades da cultura locais”, e “que a programação ora divulgada não contempla a diversidade cultural e de expressões artísticas da cidade e privilegia segmento religioso denominacional, evidenciando uma preferência e valorização unilateral de manifestação de credo e fé, à revelia da liberdade e pluralidade de crenças”.

Além disso, afirma que que “a Lei Orgânica do Município de Vitória prevê, no Art. 239, que o poder executivo garantirá o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso à cultura a todos, incentivando e apoiando as atividades de formação e difusão das manifestações culturais, incluindo necessariamente as da cultura popular”.

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