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Advogados, políticos e psicólogos condenam o ‘imbrochável’ de Bolsonaro

Presidente puxou o coro durante as celebrações do Sete de Setembro, que ele transformou em comício político

Reprodução

“É o jeito dele ser, jamais faria isso por machismo”, disse o candidato bolsonarista ao governo do Estado, Carlos Manato (PL), ao ser questionado sobre a postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) no palanque da celebração do Sete de Setembro, em Brasília. Bolsonaro puxou um coro em que afirma ser “imbrochável” e depois beijou a mulher, Michele, destoando do contexto oficial da maior data comemorativa da nação, transformada em palanque de campanha da reeleição, com uso de dinheiro público.

Manato foi o único a não levar em conta a gravidade do comportamento presidencial nas comemorações do Dia da Pátria, que gerou críticas e ações na Justiça, por desrespeito às regras eleitorais, e, de outro lado, por afetar o público do gênero feminino.

O coro estimulado pelo presidente foi objeto de análise de advogados, políticos, psicólogos e psicanalista ouvidos por Século Diário. É nesse ponto que a advogada Elisângela Melo afirma que Bolsonaro praticou “condutas que devem ser punidas por configuração de crime eleitoral, que podem atingir sua inelegibilidade, a cassação da chapa presidencial e, até mesmo, a perda do cargo atual”.

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Para ela, o candidato, atual presidente do país, utilizou da estrutura montada para comemoração do evento cívico, que foi transmitido inclusive pelos canais públicos de televisão, para tratar de bandeiras de sua campanha à reeleição e atacar adversários políticos, o que é crime.

“Importante que se diga que a utilização de caminhão privado com sonorização privada e a retirada da faixa presidencial para discursar não separam o público do privado, nem afastam a utilização da estrutura custeada com recurso público, mormente quando o discurso aconteceu no mesmo local em que ocorreu o desfile militar, logo após seu encerramento”, enfatiza a advogada.

Já o Capitão Sousa, candidato do governo do Estado pelo PSTU, afirma que “o presidente cumpre com protagonismo e maestria seu papel de ‘bobo da corte’, mas há vários atores, todos muito bem remunerados. Os banqueiros e as multinacionais seguem ganhando! A coesão burguesa festeja, apoia cada uma das contrarreformas e medidas econômicas que agravam a dependência do país e a superexploração do trabalhador”. Acrescentou que Bolsonaro faz “parecer que o Judiciário e o Congresso se opõem ao governo. Ao contrário, o STF não serve ao povo e nunca impediu um único ataque à classe trabalhadora!”. 

Ana Salles/Ales

Sousa destaca que “uma das principais táticas desse traidor da pátria, é ‘falem bem ou falem mal, mas falem de mim’. Agindo assim, ele conduz a pauta com temas irrelevantes, engana, faz parecer que todo esse sistema político vulgar e inclusive a grande imprensa estão contra ele. Não é verdade!”.

Ao apontar uma saída para a questão no campo da militância, o advogado André Moreira afirma: “O problema mais grave da condição de Bolsonaro é ele não ser derrubado nas ruas. Essa relutância da esquerda de se mobilizar para derrubá-lo politicamente nas urnas deixa rescaldo para que ele faça isso que tem feito. Não tem limites, e os limites que podem ser impostos a ele não são jurídicos e sim políticos; estamos tentando dar respostas jurídicas a algo que ultrapassou ao campo do jurídico”. 

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O advogado acrescenta que “a deslegitimação dos tribunais, da Justiça, perante a população, é muito grande. O que nesse momento é fundamental, é derrota política nas ruas e não institucional. A gente tem que lembrar que são essas mesmas instituições que não deixaram que ele disputasse com Lula na eleição passada e deram ao bolsonarismo status de presidência, e agora ninguém cai nessa história”.

A frase “imbrochável” encontra explicação, também, no campo dos estudos relacionados às disfunções mentais. Para a psicanalista Alcione Vasconcellos, “quando o líder de uma nação se declara “imbrochável” , ele apela a esse desejo inconsciente que vive em cada um de nós, de sermos não castrados, livres das leis. Vemos isso também em seus atos: ele pode andar de moto sem capacete; pescar em local proibido; ofender as mulheres, os gays, sem sofrer nenhum tipo de sanção; interferir nas Polícia Federal só para garantir seus interesses pessoais; ele cria uma lei de sigilo por 100 anos para esconder seus próprios desmandos”.

O psicólogo Italo Campos explica que “Freud, em suas pesquisas teórico-clinicas, descobriu que as pessoas neuróticas, que são a grande maioria da população, apresentam um mecanismo de defesa que ele chamou de ‘formação reativa’, que é o comportamento de a pessoa apresentar em palavras em ações opostas a sua verdade inconsciente para esconder uma questão recalcada, um desejo que considera proibido, censurada ou indesejado”.

Ales

“Mas então o que é ser imbrochável? Ou melhor, por que é tão importante que o outro saiba sobre o seu pênis? O pênis como símbolo mais rústico do que é um falo, é o que demarca para Bolsonaro o seu poder. Bolsonaro, ao dizer que não brocha, está dizendo que tem pavor de brochar, que nele habita um medo infantil da castração. Lógico que todos temos medo da castração, mas sabemos e convivemos com ela o tempo todo, por mais angustiante que seja, não termos controle sobre o incontrolável da vida”, acentua a psicóloga Danielly Alexandra Pauli Freitas.

Ela acrescenta: “No dia da independência do Brasil, data que marca o fim do laço entre a colônia e o colonizador, Bolsonaro demonstra claramente que, desde o início do seu mandato, não separa a sua vida privada da esfera pública, sempre com declarações machistas e palavreado chulos para dizer que ele é macho, portanto, forte. Há essa grande mistura entre si e o mundo, uma certa perda daquilo que o delimita entre ele o outro, como pode-se ver no modo como ele agride verbalmente uma jornalista em pleno debate em rede nacional”.

Para Bolsonaro, aponta, “nesse lugar de onipotência, ele acredita que controla o incontrolável, em palavras chulas como ele mesmo diz, que controla a subida de seu pênis por puro medo que transpareça a falta, o buraco constituinte do ser humano que indica que somos imperfeitos e, por isso, não podemos ocupar o lugar de um Deus. Assim, da forma mais covarde possível, ele se comporta como um chefe de uma horda primitiva, em que para ele e aqueles que o adoram há o gozo, o gozo de serem imbrocháveis, mas para os que o criticam e o confrontam com a lei, esses que morram”.

Já o advogado e militante político Francisco Celso Calmon recorreu ao poema “O Canto de Ossanha”, de Vinícius de Moraes, musicado por Baden Powel, que diz: “O homem que diz dou (não dá)/ Porque quem dá mesmo (não diz)/ O homem que diz vou (não vai)/ Porque quando foi Já não quis/O homem que diz sou (não é)/ Porque quem é mesmo é (não sou)/ O homem que diz ‘to (não ‘tá)/ Porque ninguém ‘tá Quando quer…”.

A advogada Elisângela Mello dá o caminho judicial da questão e lembra que “a Constituição determina no inciso 9º do artigo 14, o estabelecimento de regras para garantir “a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”. 

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