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Envolvimento x desenvolvimento

Pela visão de Ailton Krenak: outros olhares

De filosofia a filosofias, já quebrando a hegemonia eurocêntrica para o termo, quero referendar Ailton Krenak, que traz à baila visões filosóficas muito mais contextualizadas com a vida que os rebuscamentos acadêmicos de letras gregas, ou majoritariamente eurocêntricas, na reflexão da vida e construção das bases para as ações no comportamento humano.

Os índios sempre foram os grandes guardiões da natureza, por seu pertencimento e envolvimento com as matas, os rios, os bichos, a terra, o céu, o vento, enfim, tudo que está naturalmente à sua volta, até porque, trazem consigo a consciência de que nós e a natureza somos um só. Consideram as matas, os rios, os bichos, o mar e todo o conjunto natural do nosso mundo, mais que o nosso lugar, parte de nós, aquilo que temos para viver.

Acima de tudo, entendem que a terra não nos pertence, mas nós sim é que a ela pertencemos.

O colonizador trouxe às terras brasileiras a visão transformadora e desenvolvimentista, é preciso desenvolver, crescer, enriquecer…a partir daí, tudo se torna recurso, até mesmo as pessoas. A própria natureza como um todo é vista como “recursos naturais”, a terra “recursos minerais”, os rios “recursos hídricos” e até as pessoas, “recursos humanos”.

Por isso é tão relevante a ótica de Ailton krenak para o conceito de desenvolvimento, – (des) envolver, afastar as pessoas dos valores naturais, não permitir que se envolvam, fazer com que percebam as vantagens econômicas em tudo que está à sua volta.

A rigor, todo este movimento se assemelha a um motor de afastamento do ser humano de seu mundo natural, em si, uma autoexclusão.

Lutar pelo envolvimento das pessoas com seu entorno é a forma mais eficiente de preservação e, de forma alguma, está na contramão da melhoria da qualidade de vida das comunidades, pelo contrário, cada vez mais estão sendo valorizadas questões relacionadas à cultura e aos modos específicos de valorar e explorar com consciência e responsabilidade os territórios.

A agricultura orgânica, o artesanato regional, o folclore, a história, as trilhas na natureza, o extrativismo sustentável como da seringa, do açaí, da juçara e da aroeira são exemplos de sucesso na lida com a natureza dentro da possibilidade de exploração e extração de seus valores de forma consciente, sustentável, preservacionista e, acima de tudo, com a valorização das pessoas que compõem o lugar.

Por outro lado, ações como a especulação imobiliária com o olhar exclusivamente no lucro com a valorização da terra, no geral, são excludentes, sempre visando trazer o novo (entenda-se o dinheiro novo), que naturalmente vai separando as pessoas, enfraquecendo sua ligação com a terra e seu território. Isso aconteceu em todos os lugares em que a voracidade do lucro falou mais alto e as populações nativas foram sendo imprensadas e excluídas para dar lugar a grandes projetos.

A maior riqueza de um povo é a sua cultura, a firmeza de sua identidade em seus valores próprios. Os vínculos formados em seu território, que lhes remetem às raízes de suas vidas e não podem ser desprezados sob pena do cometimento de epistemicídios, destruição de conhecimentos, dos valores afetivos e ancestrais que um coletivo de pessoas cultivou em sua vida.

Assim firmamos na contribuição do índio para o bom progresso da humanidade: envolver cada vez mais o ser humano com a natureza, com seu entorno e com a sua cultura, enquanto seus reais valores.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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