Pacientes chegam a perder consultas ou precisam se arriscar em viagens de ônibus, mesmo machucados
O serviço Mão na Roda, fornecido pela Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Espírito Santo (Ceturb) e o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus), dedicado ao transporte de pessoas com deficiência (PCDs), não está funcionando a contento, ou, para usar uma expressão popular, está deixando muitos usuários “na mão”, trocadilho de péssimo gosto, que reflete a gravidade da situação.
“Já perdi muitas consultas por causa disso”, conta Maria da Conceição Santos de Jesus. Moradora de Campo Verde, em Cariacica, o último atendimento que ela perdeu foi uma consulta com gastroenterologista marcada para o dia primeiro de setembro.
“Agendei o Mão na Roda, mas ele não veio. Perdi o acompanhamento que estou fazendo. Não sei se tenho que continuar com os remédios, se tenho que aumentar, diminuir, trocar, parar…E ainda não consegui remarcar a consulta. A atendente do CRE [Centro de Referência em Especialidades] falou que é para eu tentar agora no final desse mês, para o final de outubro ou só em novembro! Só que para ir marcar, tem que ser presencialmente. Tenho que tentar o Mão na Roda de novo…”, relata.
Conceição conta que nem sempre é possível ir de ônibus. “Quando é mais perto da minha casa eu vou, se tiver alguém para me acompanhar. No dia primeiro meu pai não podia ir, porque teve que levar minha mãe, que também teve consulta naquele dia. E eu não posso ir sozinha de jeito nenhum”.
As constantes falhas do serviço têm trazido muitos prejuízos à saúde dela e de diversos usuários. Além da sensação de abandono e desrespeito. “Não é porque a gente precisa de um serviço público, que tem que aceitar tudo de qualquer jeito. Pra eles é ‘se quiser, bem, se não quiser, tá bem também’. Não tem que ser assim. Falam que tem muita demanda, mas a prioridade do Mão na Roda é saúde, e mesmo quando é para a saúde da gente, fica na mão”, reclama.
Outra desassistência recente é relatada pela também cadeirante Viviane Rangel. Depois de meses lutando, até na Justiça, para conseguir uma internação e tratamento da osteomielite e fratura do fêmur, ela quase perdeu a consulta, na manhã desta terça-feira (27).
Apesar do pedido feito no sábado (24), dentro do prazo estabelecido pela Ceturb e o GVBus, na noite de segunda-feira (26), foi informada que não seria possível levá-la. Na terça de manhã, horas antes da consulta, Viviane ainda tentou um encaixe, conforme sugerido pela atendente, mas também não foi possível. Sua sorte foi ter conseguido a companhia do pai durante o trajeto de ônibus – foi preciso pegar dois coletivos – de Vila Velha até o Hospital da Associação dos Funcionários Públicos do Espírito Santo, na Cidade Alta, no Centro de Vitória. “Minha cadeira descarregou toda a bateria na subida do morro para o hospital. Meu pai é idoso, teve que me ajudar, foi muito sofrido”, relata. Ao chegar no hospital, ela teve que esperar ainda por mais de três horas, sentindo muita dor.
Assim como Conceição, Viviane já teve diversos problemas com o Mão na Roda, perdendo atendimentos ou chegando muito atrasada em compromissos. “Várias vezes eu fiquei para trás. Outras vezes atrasam muito, a gente chega super atrasado no compromisso. E quando a gente tem alguma dificuldade, com uma sonda, e atrasa um pouco, eles vão embora, não esperam nem cinco, dez minutos”, diz.
A justificativa dada pelos funcionários, conta, é o excesso de demanda, devido a vários serviços de saúde que foram retomadas após a queda dos indicadores da pandemia de Covid-19. “Eles dizem que está sobrecarregado, muita gente fazendo hemodiálises. Mas então precisa aumentar o número de carros, de motoristas”, pede.
“A enfermeira me perguntou como eu vou voltar para casa depois da cirurgia e eu pedi que ela consiga uma ambulância, porque vou estar com os dois joelhos operados, com gaze, imagina, ir de ônibus desse jeito, se o Mão na Roda não vier de novo!”.
Viviane também precisa de doação de sangue para a cirurgia de sexta-feira (30). Qualquer tipo. Doações podem ser feitas no H. Hemo, em Gurigica, Vitória, de 7h às 17h. Telefone para informações: 3089-6040.