Lista com 60 itens mostra feiras orgânicas com preços mais baixos do que as bancas convencionais de mercados
Um levantamento empírico, feito pelo empresário Pedro Moreno Ortiz, do Sol da Terra Orgânicos, mostrou que, além de mais saudáveis, saborosos e sustentáveis, os produtos orgânicos in natura são, na maioria das vezes, também mais baratos que os convencionais com agrotóxicos vendidos em supermercados.
Herdeiro de um dos mais tradicionais restaurantes orgânicos e veganos da cidade, o Sol da Terra, Pedro segue o caminho do pai, o médico e naturalista Marco Ortiz, falecido há quase um ano, dedicando sua vida pessoal e profissional à alimentação saudável, com justiça social e respeito ao meio ambiente.
Sua pesquisa considerou 60 itens, entre frutas, legumes, verduras e temperos. Os orgânicos foram cotados em duas feiras exclusivamente orgânicas e certificadas da Capital, Barro Vermelho e Praça do Papa. Os convencionais, entre três supermercados, sendo um grande, um médio e um de bairro.
Entre as 20 frutas analisadas, metade está com preços melhores em feiras orgânicas e a outra metade nas bancas com agrotóxicos dos supermercados. Dos 18 legumes, seis são mais baratos nas feiras, ganhando os mercados nos outros 12.
Já entre as hortaliças, verduras e temperos, os orgânicos vindos diretamente do produtor deram banho de economia, ganhando em 17 itens, contra apenas cinco dos produzidos à base de venenos agrícolas.
O resultado comprovou o que ele já vinha percebendo há muito tempo, como grande consumidor e vendedor de feiras orgânicas: está na hora de derrubar o mito que orgânico é sinônimo de produto caro.
“Fiz essa pesquisa com o objetivo de divulgar as feiras orgânicas, desmitificando a questão de que orgânico é mais caro. E, principalmente, divulgar os produtores orgânicos locais, que têm os preços mais baratos que os alimentos com agrotóxicos dos supermercados”, explica.
Pedro comparou os preços finais de uma hipotética compra de um quilo de cada legume e fruta e uma unidade de cada verdura/tempero. Nesse exercício, os valores totais foram de R$ 460,75 na feira e R$ 479,63 no supermercado, ou seja, uma vantagem de R$ 18,88 (4%) para os orgânicos.
“Tem que divulgar para a população, para terem consciência e buscarem mais feiras orgânicas do que alimentos convencionais em supermercados. A gente está vendo uma grande diminuição de público nas feiras orgânicas, precisa informar isso à população”, reforça.
Comparações
Os orgânicos ganharam em preços nos seguintes itens:
Frutas: abacate, banana nanica, banana prata, banana da terra, laranja bahia, laranja pera, limão Tahiti, milho verde, morango e tomatinho sweet grape.
Legumes: aipim manteiga descascado, alho, batata baroa, inhame, quiabo e vagem.
Verduras e temperos: alecrim, alface americana, alface crespa, alface roxa, alho poró, chicória, brócolis americano, brócolis japonês, couve manteiga, couve-flor, espinafre, hortelã, manjericão, rúcula orgânica e tomilho orgânico
Os convencionais tiveram vantagem no preço, pequena, na maioria das vezes, nos seguintes itens:
Frutas: abacaxi, ameixa, coco seco descascado, goiaba, laranja lima, limão galego, maçã importada, manga palmer, melão amarelo e tomate italiano
Legumes: abóbora japonesa, abobrinha verde, batata doce, batata inglesa, berinjela, beterraba, cebola branca, cenoura, chuchu, gengibre, pimentão verde, pepino comum e cebolinha.
Verduras e temperos: agrião, aipo, repolho verde e salsa orgânica.
O coentro orgânico e o almeirão mostraram preços equivalentes, saindo a R$ 2,49 no supermercado e a R$ 2,50 na feira.
Políticas públicas
A agricultura orgânica e a agroecologia são comprovadamente eficientes para evitar os efeitos da escassez de água, frear o êxodo rural da juventude rural, cessar a contaminação humana e ambiental com venenos altamente tóxicos (muitos liberados no Brasil, principalmente no governo de Jair Bolsonaro – PL -, apesar de já banidos na Europa), salvar as abelhas e outros insetos fundamentais para o equilíbrio ambiental da ameaça de extinção, entre muitos outros serviços de preservação da vida em sua plenitude.
Mas, além de mais divulgação, esses dois segmentos quase heroicos da agricultura brasileira e capixaba também merecem políticas públicas mais qualificadas e abundantes para chegarem a um número cada vez maior de agricultores e consumidores.
O orçamento público, no entanto, seja estadual ou nacional, via de regra é sempre muito mais restrito para os ecológicos e orgânicos. Para compensar o anacronismo do poder público, submetido, ainda, ao poderio político e econômico do agronegócio, organizações de agricultores familiares e movimentos sociais como o MPA e MST (de pequenos agricultores e sem terra, respectivamente), realizam suas próprias capacitações, certificações participativas e cooperativas para produzirem mais e melhor, sendo o arroz orgânico do MST o maior produtor dessa especialidade no Brasil, um exemplo icônico desse poder.
Uma nova oportunidade de mudar esse viés pode estar em curso, com as expectativas em torno do concurso público do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), previsto para acontecer ainda nesta gestão de Renato Casagrande (PSB). Haverá vagas e em quantidade suficiente para profissionais especializados em agroecologia, ou novamente somente as monoculturas de pasto, eucalipto e café terão seu lugar ao sol?