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​Quem me representa!

E o que influencia minha escolha

Além do exercício de cidadania, o momento do voto deve ser de uma profunda reflexão, relativa não só a um modelo de sociedade, mas também à identificação pessoal e subjetiva do eleitor com o representante. Uma identificação de valores, que dê ao eleitor uma expectativa de que, no momento de decidir questões inerentes à vida da população, aquele seu representante tomará por base valores próximos aos seus.

Quando conseguimos enxergar no voto esta procuração para que alguém nos represente, abre-se a necessidade de refletirmos se a boa representação se dá pela semelhança ou contraste, ou seja, se quero que me representa alguém parecido comigo, ou alguém que se pareça com aquilo que eu gostaria de ser, ou ainda pior, alguém que eu perceba superior a mim.

Que imbróglio, hein!

Bem, para embasar esta reflexão, vou buscar uma companhia especial, Darcy Ribeiro, um profundo conhecedor do povo brasileiro, para, primeiramente, entender questões entranhadas na construção do nosso ethos.

É inevitável que nossas reflexões se ancorem em grandes mestres, afinal, o mundo não começou quando começamos a pensar e, partir do zero para qualquer reflexão, significa uma perda de tempo enorme.

O professor Darcy Ribeiro, encarregado pela Unesco para o estudo das relações entre índios e brancos no Brasil, em um momento em que transparecia, falsamente, ao mundo que tínhamos uma “democracia racial”, relata: “(…) há um velho, ativo e amargo ‘preconceito, bem como uma odiosa discriminação nas relações de negros e índios com brancos. Verificou-se ainda que nossa forma de preconceito é especialmente perversa, porque se introduz na consciência do negro e do índio, fazendo-os aceitar a ideia branca de uma inferioridade inata, da qual só pode fugir pela branquinização (…)”

Com a luz deste grande mestre, podemos retomar nossa reflexão na questão investigada, seja: se o povo vota pela semelhança ou contraste.

Considerando o relatório citado e a dificuldade de se modificar traços culturais, podemos concluir que nossa população, genealogicamente “mestiça”, ainda não se livrou completamente desta necessidade de branquinização. Basta analisar superficialmente a história da política brasileira para encontrar a predominância quase absoluta da permanência da afirmação branca na representação de nossa sociedade “mestiça”.

Ao analisar o eleitorado do atual presidente, encontrando nele pessoas pretas e pobres, vibrando com suas bravatas ignóbeis, como o propósito de armar a população, afrontar as instituições, desprezar e reprimir os diferentes, fica parecendo que tem alguma coisa desconexa, que este eleitor está trabalhando contra si mesmo, mas também pode ser visto como o preconceito, introjetado em suas mentes, como afirma o professor Darcy Ribeiro.

É claro que não se trata de uma verdade que eu me arvore a afirmar, mas uma reflexão direcionada ao meu próprio entendimento, na busca de razões para explicar comportamentos e visões que me pareçam tão contraditórias.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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