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A queda de Doria e a crise do PSDB

Partido sofreu um revés enorme este ano

João Doria Jr. teve uma trajetória política breve, marcada por contradições e excessos que tiveram como resultado o fim de sua inserção na política brasileira. De uma ascensão meteórica como prefeito da cidade de São Paulo, abandonando o cargo para se eleger e tomar posse como governador do Estado de São Paulo, se viu encurralado e teve que capitular de suas ambições de ser candidato a presidente pelo PSDB.

Em tese, João Doria poderia ter condições competitivas na disputa presidencial, uma vez que foi quem primeiro trouxe a vacina contra a Covid-19 para o Brasil, num discurso oposto ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (PL), que contribuiu para o atraso de vacinas.

Houve a negligência em relação às tratativas com a vinda da Pfizer, e a ideia estapafúrdia de negociar somente com uma fonte, num primeiro momento, que foi a AstraZeneca. Enquanto que a CoronaVac foi viabilizada pelo então governador de São Paulo, João Doria, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan.

Contudo, a condução política do que deveria ser um bônus para João Doria, ao fim, não se demonstrou eficaz. Ele tanto ganhou a desconfiança de parte do eleitorado como foi boicotado dentro do próprio PSDB.

E as pesquisas eleitorais começaram a dar péssimos sinais, com a estagnação e redução das possibilidades de João Doria enfrentar a polarização política entre Jair Bolsonaro e Lula (PT), sendo questionado como figura de proa para uma terceira via política, que se via fragmentada e atrasada em suas tratativas.

Seu índice de rejeição, por sua vez, também não ajudava Doria como uma candidatura viável. Havia uma certa antipatia, e um excesso evidente no marketing político. O exagero de Doria para ter um protagonismo na vacinação contra a Covid-19 no Brasil foi entendido como oportunismo por parte do eleitorado. Portanto, ocorreu uma jogada de marketing que perdeu a mão e não teve o efeito esperado de sua ascensão como opção à polarização política e candidato legítimo da terceira via.

As hostes bolsonaristas, na internet, também foram fortemente responsáveis pelo sepultamento político de Doria. A marca de sua gestão, que foi o enfrentamento da pandemia, como contraponto ao discurso bolsonarista, não se desenvolveu de maneira eficaz entre o eleitorado como exemplo de realização.

José Aníbal, ex-senador e ex-presidente do PSDB, chegou a afirmar que o ex-governador é “muito over”. Segundo ele : “A vacina foi uma iniciativa importante, mas ele politizou a tal ponto que a população acabou não reconhecendo tanto esse resultado”.

Segundo levantamento do Datafolha de abril deste ano, Doria deixou o governo de São Paulo com apenas 23% de aprovação dos paulistas, sendo que 36% avaliaram sua gestão como ruim ou péssima.

A percepção política dos eleitores é a de que Doria não é uma figura leal, uma vez que ele rompe com Bolsonaro, depois de ter se alçado como governador de São Paulo ao associar a sua candidatura à imagem do presidente, deixando seu padrinho político Geraldo Alckmin de lado, que também era candidato à Presidência em 2018.

Portanto, Doria passou a ser odiado pelo bolsonarismo e muito mal visto por parte do PSDB. Foi ganhando um caráter autocentrado e individualista, uma figura antipática que não se vinculava a compromissos com seus colegas de partido.

Na chamada terceira via, o União Brasil abandonou o barco, sendo que era o partido com mais recursos dos fundos eleitoral e partidário, anunciando a candidatura de Luciano Bivar, que depois mudou para o lançamento de Soraya Thronicke como candidata.

Foi tentada uma parceria entre Simone Tebet (MDB-MS) e Doria, mas, continuou o impasse para a terceira via, e logo em seguida dentro do PSDB, pois a candidatura de Doria, embora legitimamente escolhida em prévia partidária, passou a ser questionada por parte do partido.

Se inicia uma fase de negação por parte de Doria quando a sua candidatura a presidente começa, de fato, a dar água. Ele já tinha criado fissuras nas suas relações com o PSDB desde a tentativa fracassada de se apropriar do partido e de expulsar Aécio Neves do mesmo.

Tais fissuras retornaram com mais força na sua relação conflituosa com o presidente do partido, Bruno Araújo, que começou o movimento final de boicote à candidatura de Doria, com uma pesquisa encomendada em acerto com o MDB para medir o potencial de votos de Doria e de Simone Tebet.

A partir do resultado desta pesquisa, seria apresentado o argumento para a escolha do nome da terceira via. Doria então ameaçou judicializar caso uma eventual chapa da terceira via não tivesse ele como o cabeça de chapa. Ou seja, tinha ligado o modo desespero, que era o de ser trocado por Simone Tebet como candidatura da terceira via.

Doria tanto estava isolado dentro do PSDB como com intenções de voto pífias para presidente, enquanto acusava Bruno Araújo de uma tentativa de golpe contra a sua candidatura. O argumento era o de que o estatuto do PSDB não transferia o poder de decisão de candidatura após prévias internas para uma reunião de cúpula, portanto, caberia à convenção partidária referendar a candidatura entre 20 de julho e 5 de agosto passados.

Caso não houvesse o reconhecimento pela esfera administrativa da candidatura, o pedido se daria pela esfera judicial. Doria estava obstinado, até então, e a tensão no PSDB atingia o seu ápice. No fim, desistiu da candidatura e o PSDB sacramentou o apoio à candidatura de Tebet para presidente. Depois das eleições, o desfecho aconteceu, João Doria anunciou a saída do PSDB e a retomada de sua vida profissional na iniciativa privada, portanto, estava ceifada a sua curta carreira política.

Por sua vez, o PSDB sofreu um revés enorme. Um partido que teve seu auge nos dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso, com a estabilização da moeda e o fim da hiperinflação, sofreu quatro derrotas sucessivas para o PT em eleições presidenciais, e em 2018 começou a sua decadência com o resultado pífio da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência.

Em 2022 foi a primeira vez que o partido não lançou candidato ao Planalto, mesmo após prévias, e o partido viu a sua bancada minguar, pois não elegeu senador, e virou um nanico na Câmara ao eleger apenas 13 deputados, que é a menor bancada de sua história. José Serra, que já foi candidato a presidente, desistiu de se candidatar a senador, para ser puxador de votos para deputado federal, contudo, não foi eleito à Câmara. Por fim, o partido deixará o Palácio dos Bandeirantes em 2023, após governar São Paulo por 27 anos.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog
: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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