Indiciamento pelo crime de racismo com ataques xenofóbicos foi encaminhado para o Ministério Público
A Polícia Civil (PC) indiciou a empresária Eliziane Santos Neves, bolsonarista e moradora de Cariacica, pelo crime de racismo, com ataques xenofóbicos, praticado em redes sociais. O indiciamento foi realizado pelo 16º Distrito de Polícia, e encaminhado ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), nessa quarta-feira (9). Logo após o resultado das eleições que consagrou Lula (PT) presidente eleito, ela gravou um vídeo em que xinga nordestinos e profere palavras de ódio.
No vídeo, a empresária começou sua fala chamando os nordestinos de “passa fome”. Logo em seguida, ordena que não saiam de sua região rumo ao Sudeste. “Agora não venham aqui para vender suas redes não, amores. Continuem aí nas cidades de vocês, não venham para cá não, bando de miseráveis, pobres fodidos da casa do caralho. Continuem no Nordeste de vocês. Bando de cabeça chata do caralho. Continuem aí onde vocês estão, está bom? Fiquem aí. Não venham para cá, não. Não venham para o Sudeste vender as redes de vocês, não. Bando de pobres fodidos. Passa-fome. Vai depender de Bolsa Família para o resto da vida. Vocês gostam sabe de quê? De esmola. Vocês não gostam de Carteira de Trabalho. Vocês não gostam de trabalhar, não, desgraça”.
Eliziane prossegue dizendo “aqui oh, no final do ano, eu vou para o Nordeste passar férias, e sabe quem é que vai me atender? Vocês, numa mesa de bar. Entenderam, amores? Sabe quem é que vai esmolar quando eu passar com o meu carro? Vocês, seu bando de fodidos. Vocês que vão esmolar nas praias que eu vou sair do Sudeste para curtir. Sabem por quê? Porque vocês merecem. Vocês merecem pedir esmola, como sempre. Está bom? Nós vamos sair daqui, vamos curtir como turistas e vocês como pedintes”.
De acordo com a PC, a empresária compareceu à delegacia e, durante os depoimentos, confessou que gravou o vídeo, mas não soube alegar o motivo. “Ela disse ainda que havia consumido muita bebida alcoólica, que toma remédio controlado e acordou no outro dia não se lembrando de nada”, conta a titular do 16º Distrito de Policial, delegada Argentina Leopoldina da Silva Neta Armantrout. Ainda durante as oitivas, a suspeita informou que estava arrependida e que em sua página de Instagram publicou, após os fatos, um pedido de desculpas, o que não impediu que ela fosse indiciada pelo crime previsto no Art. 20, parágrafo 2, da lei 7.716/89.
Com base nessa legislação, o advogado André Moreira protocolou uma notícia-crime pela prática de racismo em face de Eliziane. Ele aponta que a empresária fez discriminação baseada na origem e nas condições social e econômica dos nordestinos, associando isso a características biológicas e fenotípicas, chamando-os de “cabeça chata”, o que configura crime de racismo.
Também explica que Eliziane se baseia em “uma suposta superioridade ética e moral de quem vive no Sudeste”. “São essas pessoas que se dizem nacionalistas, mas nacionalismo de verdade, é aquele que reconhece a integralidade de manifestações culturais e étnicas do país. O Brasil não é somente o Sudeste e o Sul”, pontua.