Futuro vereador André Moreira ressalta que é preciso reaprender a fazer política para além das redes sociais
Sai Camila Valadão, vereadora eleita deputada estadual, entra André Moreira, advogado ligado à defesa dos direitos humanos, que, a partir de fevereiro de 2023, assume o mandato na Câmara de Vitória, mantendo a representatividade do Psol no legislativo da Capital. Desde a eleição de Camila para a Assembleia Legislativa, André vem se articulando afim de, quando empossado vereador, manter o mesmo ritmo do mandato, reforçando-o com os projetos que pretende desenvolver. Ele falou a Século Diário sobre a transição e a necessidade de se reaprender a fazer política.
“A gente precisa aproveitar todos os espaços, porque a eleição de Camila foi um presente para todos os capixabas. Ela foi eleita com uma votação expressiva já como vereadora e agora, como deputada estadual, deixa de legado esse mandato complementar na Câmara. O que planejamos? Pela própria iniciativa da Camila, a gente vem fazendo uma transição, uma passagem de como funcionou o mandato, o que ela deixa de projeto, a forma de organização das assessorias, as principais questões que irão acontecer nesses dois anos, na verdade, mostra o meio do caminho”, explica André.
“De certa forma, construímos isso, no tempo em que disputamos eleições, porque só concorremos um contra o outro na última de vereador, sempre tivemos eleição paralela”, diz, lembrando que quando Camila foi candidata ao governo em 2014, ele concorreu ao Senado; ela a deputada em 2016, ele a prefeito de Vitória.
“Então, nessa última, que não participei, ela teve a oportunidade de dizer ao eleitor que, indo para deputada, quem assumiria o mandato seria eu. E ela faz a transição agora passando todas as condições para a gente trabalhar. Paralelamente a isso, estou fazendo um planejamento do mandato. Quer dizer: é o mandato da Camila, que a gente vai assumir, mas é também o mandato do André, que vai começar de 2023 pra frente”, comenta.
Esse planejamento, aponta, “aproveitando a experiência já acumulada, dá uma nova característica, mais ligada à minha pessoa”. André ressalta duas ações importantes que pretende realizar como estruturas centrais de mandato: “o conselho político, que a Camila já tem e a ajudou bastante. Quero aprofundar, e não só com o Psol, mas que envolva os partidos de esquerda e os movimentos sociais, que vão ajudar nas pautas e também em fazer políticas mais concretas”.
O futuro vereador acrescenta que ao lado desse conselho – “estou pensando aqui em chamar de escola de política” –, manter uma estrutura germinada, dentro de uma lógica de que “precisamos aprender a fazer política para acabar uma tentativa que vem desde há muito tempo, difundida nos meios de comunicação de massa, dizendo que a política sempre está ligada à corrupção. Seria uma forma de neutralizar o conceito da antipolítica”, enfatiza.
“Esse modelo serviu para muita coisa, como, por exemplo, colocar empresários na política – não é que eles não possam -, mas empresário não tem nada melhor do que o trabalhador, o profissional liberal. E aí eles querem colonizar o político com outras estruturas de mercado. Para isso foi preciso fazer uma campanha muito grande contra o político e, obviamente, o que a gente chama de classe política ajudou bastante nesse processo”, aponta, e destaca que a escola possibilitará um reaprendizado do modo de fazer política.
André afirma que, antigamente, existia um enraizamento nas comunidades. “Isso foi se perdendo e o debate na comunidade foi trocado pelo acordo com o patrão; no sindicato foi trocado o chão de fábrica pela mesa de negociação. Havia tempo em que a mesa de negociação era 80% chão de fábrica e 20% mesa, hoje é quase 100% mesa, ou seja, não se tem categoria com disposição para fazer uma greve, uma negociação coletiva”, comenta, criticando que “tudo é colocado na mão do sindicato, como e fosse dar conta de tudo, e o sindicato assume essa posição”.
Para ele, é preciso reaprender a fazer política para além das redes. “As pessoas que estão na rede acham que estão fazendo política, mas política se faz nas ruas, nas comunidades. É preciso estabelecer o que é de natureza pública e privada, os limites das minhas convicções religiosas e o espaço público, então é uma via de mão dupla, vamos aprender também, porque a esquerda desaprendeu onde está o centro da política, que é na rua, na comunidades, em contato com o trabalhador”.
Questionado sobre a ocupação desses espaços, ressalta: “Um monte de gente, desde a igreja neopentecostal, essa direita maluca que ocupou muito bem pelo menos esse espaço imaginário com as pautas conservadoras. Hoje você tem uma situação estranha de traficantes evangélicos que lutam contra, por exemplo, igrejas de matriz africanas, colonizaram comunidades mais novas. Precisamos reconstruir essa discussão, para tentar aproveitar essas pré-disposição que as pessoas têm hoje, de falar de política, mesmo que erradamente”.