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Juventude negra externa suas dores e esperanças em marcha no Centro de Vitória

Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra exaltou indignação e denúncias, mas também cultura e festividade

Leonardo Sá

No início da tarde desse sábado (19), a Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, estava lotada. Um grupo de pessoas composto por jovens, em sua maioria negros, sindicatos, coletivos, partidos de esquerda e movimentos populares, aguardava o início da 15ª edição da Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra, organizada pelo Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), que sairia dali rumo ao Museu Capixaba do Negro (Mucane), no Parque Moscoso.

Contudo, não era um esperar calado, cansado, introspectivo, mas sim com denúncias, porém, sem deixar de ser festivo. A batalha de hip hop trazia reflexões sobre o racismo estrutural, mas também provocava risos diante do sarcasmo contra quem quer manter o país nas mãos da extrema direita com o argumento de que, caso contrário, “o Brasil vai virar Venezuela” e o povo vai passar a comer cachorro. Também vislumbrava uma nova fase, em que milhões de pratos vazios em um país que voltou ao Mapa da Fome passariam a conter alimentos.

Ao sair da Praça Costa Pereira, o teor indignado continuou, em todo o trajeto, a dividir espaço com a festividade, por meio da animação do bloco AfroKizomba e da denúncia contra a violência policial e o racismo institucional. As eleições no Estado, findadas recentemente, foram trazidas à tona. Dessa vez, não mais para conquistar votos para algum candidato, mas para lembrar que o governador Renato Casagrande (PSB), reeleito, assinou um termo de compromisso com o Movimento Negro.

Leonardo Sá

Assim, entre as iniciativas que o Movimento espera que se concretize é que, no dia primeiro de janeiro, o Palácio Anchieta passe a abrigar um secretariado mais plural, com homens e mulheres negros, não somente brancos. Também foi comemorada a vitória de Jack Rocha (PT) para deputada federal, o que foi mostrado como motivo de alegria pelo fato de que “vai ter mulher preta no Congresso Nacional”.

Leonardo Sá

A Marcha fez uma pausa no Bar da Zilda, em virtude do significado desse espaço para a resistência da cultura negra e periférica e da proximidade com o Morro da Piedade, comunidade que tem sofrido com a violência policial nos últimos anos. Desceu pela Rua Sete rumo à Avenida Jerônimo Monteiro, chegando ao Mucane, onde a juventude negra continuou a manifestar suas dores e esperanças por meio de cantos, danças, instrumentos musicais, enfim, de uma arte que tem compromisso com a realidade popular.

A 15ª edição da Marcha Estadual Contra o Extermínio da Juventude Negra teve como tema “nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai”, representando a continuidade da luta antirracista. É realizada anualmente em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, mas este ano foi na véspera por causa da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Leonardo Sá

Atlas da Violência

Jovens e negros são as maiores vítimas da violência no Espírito Santo, de acordo com o relatório Atlas da Violência 2021. Segundo o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 53,35% dos homicídios registrados no Estado entre 2009 e 2019 foram de homens de 15 a 29 anos. Já os negros foram vítimas de quase 78% dos crimes.

O mesmo levantamento aponta que, no Brasil, um negro tem 2,6 vezes mais risco de ser assassinado do que um não negro. Para o Fejunes, os dados refletem a desigualdade social, o racismo estrutural e o histórico de negação de direitos à população negra no país.

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