Problema afeta toda a aldeia indígena, que, localizada numa península, tem demandas específicas de transporte
Dezesseis dias sem água na escola. Essa é a situação enfrentada pelos estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Indígena (Emefi) Dorvelina Coutinho, na Terra Indígena Comboios, em Aracruz, norte do Estado.
O problema atinge toda a aldeia há quase três semanas e somente começou a ser resolvido na manhã desta quinta-feira (24), com o envio de técnicos para consertar a bomba que lança água do poço para a caixa d’água da escola. “Hoje deve normalizar”, informa a diretora, Larissa Duarte Florêncio.
A falta d’água começou no dia nove de novembro. “A gente esperava que fosse resolver logo, mas não foi restabelecido depois do feriado. Tentamos nos adaptar enquanto aguardava solução, trabalhando em escalonamento, pegando água com os vizinhos, até que chegamos no limite, tendo que pegar água com balde. Chegamos num esgotamento na segunda-feira [21]”, relata.
Para além do transtorno imediato, Larissa levanta o problema de que dificuldades como essa podem desanimar os pais e mães de alunos, como já aconteceu em outras situações, levando-os a transferirem as crianças e adolescentes para outras escolas, fora da aldeia, o que traz dois problemas imediatos: o distanciamento da criança de sua comunidade, e a falta de acesso a uma educação indígena especializada, como ocorre na Dorvelina.
“Temos da educação infantil até o nono ano. São 85 alunos. As famílias fazem questão desse ensino indígena, diferenciado. Nós trabalhamos o resgate da língua tupi e da cultura como um todo. Trabalhamos o antigamente, as mudanças, a permanência, a tradição oral, recebemos muito os anciãos aqui na escola”, descreve a diretora.
Dsei ocupada
O atendimento aos alunos chegou a ser suspenso, conta o Cacique Toninho, que foi acionado para ajudar a resolver o problema. A primeira medida foi ocupar o escritório local do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), em Aracruz, na manhã desta terça-feira (22).
À tarde a ocupação foi desmobilizada, mediante promessas de resolução a curto prazo: bomba d’água nova já disponível para a comunidade em Aracruz e envio imediato das bombas defeituosas para conserto. Também foi alcançado o agendamento de uma visita do recém-nomeado coordenador regional da Dsei Minas Gerais e Espírito Santo, Gabriel Ribeiro Santos, que chegou a receber uma carta de repúdio no início do mês, elaborada por diversas etnias, devido a decisões tomadas sem o acordo das comunidades.
“O coordenador vai se deslocar de Governador Valadares para cá na segunda-feira [28] para se reunir conosco pela manhã. Vamos entregar a ele um documento com as demandas das comunidades para a saúde”, informa o Cacique Toninho.
Além da aldeia e da escola de Comboios, há o problema de abastecimento de água também em Córrego do Ouro, que sequer possui água encanada. “Tem uma casa de apoio mantida pela comunidade”, diz.
Em outras aldeias Tupiniquim, há muitos problemas com o transporte de pacientes para unidades de saúde fora da Terra Indígena e dificuldade de marcação de exames. “Não tem ambulância e os carros quebram muito, não existe manutenção dos veículos. Os barcos [a aldeia Comboios está numa península, separada do restante da TI pelo rio Comboios] também sempre dão problema”, conta. “Queremos melhorias na unidade de saúde e tratamento adequada para as comunidades indígenas”, resume.