Além da Primo Bitti, outra escola de Aracruz, de gestão privada, foi atacada, o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC). Para os docentes da unidade estadual, o trabalho do Apoie, órgão da Secretaria Estadual de Educação (Sedu) que presta assistência psicológica, não é suficiente, pois faltaram ações por parte da pasta, como contato individualizado com a equipe de profissionais da escola; e orientação às empresas terceirizadas responsáveis pelas equipes de limpeza, merenda escolar e vigilância para assistência aos seus funcionários.
Os docentes afirmam que é preciso garantir o direito ao luto de todos profissionais da escola: trabalhadores terceirizados da limpeza, alimentação e vigilância, professores em designação temporária e efetivos, trabalhadores da secretaria, da educação especial e da gestão escolar.
Para isso, reivindicam que seja providenciada uma equipe externa, incluindo trabalhadores da limpeza e vigilância, para o fechamento do ano escolar e período de matrículas, “com seguridade financeira para todos os trabalhadores em luto, em especial para aqueles que estão em designação temporária e que estão tendo seus contratos cessados apesar da gravidade do momento”.
O grupo afirma ainda ser necessário providenciar uma equipe de apoio para o próximo ano escolar, que inclua trabalhadores para as vagas em aberto na secretaria, diretor adjunto, aumento da equipe de professores, coordenadores e pedagogos. “Assim como é necessário providenciar uma equipe de atendimento social e psicológico que atenda às demandas dos profissionais”, destacam.
Outra reivindicação é o apoio financeiro para as vítimas e famílias atingidas, garantindo o custeio de remédios, equipamentos, cuidadores e psicólogos, além de “indenização e aposentadoria dignas para os diretamente atingidos em exercício de sua função”.
A categoria termina a carta ressaltando também a importância de uma reforma na escola, “há tanto tempo adiada, que realize melhorias das condições físicas de segurança do prédio”.
Pesar e solidariedade
Os professores abrem a carta manifestando pesar e solidariedade às famílias das vítimas fatais do crime ocorrido no final de novembro, que culminou na morte das professoras Cybelle Passos, 45 anos; Flávia Amboss, 38 anos; e Maria da Penha Pereira, 48 anos; além da aluna Selena Sagrillo, de 12 anos. Também se solidarizam com as pessoas que ficaram feridas, inclusive, as três que ainda estão internadas, que são duas professoras e uma estudante.
Fórum Antifascista
Galdene informou que, segundo Vitor de Angelo, foi feito um plano de ação para acompanhamento psicológico, mas não foi dado detalhes sobre como tem sido o processo de execução, o que foi questionado pelos integrantes do Fórum, que defendem a necessidade de especificar minimamente algumas questões, a exemplo de informações sobre metodologia e como está sendo a busca pelas pessoas atingidas.
O Fórum Antifascista é composto por organizações da sociedade civil, pessoas independentes e mandatos parlamentares. Tem como objetivo combater o nazifascismo no Espírito Santo. Apesar de a ideia de sua criação ter surgido após os ataques, não se trata de uma iniciativa que tem foco especificamente nesse crime, mas sim contra as ideias nazifascistas e o discurso de ódio que o motivaram.
O crime
Os ataques foram feitos primeiramente na EEEFM Primo Bitti, onde o atirador havia estudado até junho deste ano. Após arrombar o cadeado, ele invadiu a escola e acessou a sala dos professores. Em seguida, foi para o CEPC, onde efetuou mais disparos.
O processo em relação ao adolescente autor dos ataques foi concluído em sete de dezembro pelo juiz Felipe Leitão, da Vara da Infância e Juventude de Aracruz. O magistrado aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo de até três anos. Caberá ao Juiz da 3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória, com base em pareceres técnicos da equipe do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), avaliar, a cada seis meses, a internação. Foi aplicada, ainda, uma medida protetiva de acompanhamento psiquiátrico durante o período de cumprimento da medida de internação.
Após os ataques, circulou nas redes sociais uma postagem do Instagram do tenente na qual ele mostrou a capa do livro Minha Luta, de Adolph Hitler, em que o ditador nazista da Alemanha expõe suas ideias antissemitas e genocidas. O livro, ainda utilizado como referência por grupos neonazistas em todo mundo, é proibido em diversas localidades, por meio de lei municipal. Com a repercussão, ele deletou a publicação.