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Em Vila Velha, surge uma Casa de Rabisco

Centro cultural no bairro Alecrim estimula crianças e jovens à arte e profissionalização por meio da ilustração

Tudo começou quando o artista e produtor cultural Rodolfo Birchler encontrou um grupo de jovens locais desenhando em frente de sua casa, no bairro Alecrim, na periferia de Vila Velha. “Eram dois adolescentes. Aí começamos a conversar, me ofereci para dar uma dicas de artes para eles”. A partir daí foi um caminho sem volta. Aqueles e outras crianças e jovens passaram a bater em sua porta querendo aprender mais e mostrar suas ilustrações. “Chegou um momento em que havia uma demanda muito grande, uns 15 jovens que me procuravam, aí resolvi que era preciso fazer algo”.

Entre 2017 e 2019 ele passou a realizar atividades na escola do bairro para dar vazão à ânsia de desenhar das crianças e jovens da região. Depois disso, arrumou o terraço do imóvel em que morava e criou a Casa de Rabisco, que Rodolfo idealizou para canalizar esse trabalho que vinha sendo desenvolvido em Alecrim. Começou criando um grupo de estudos e oficinas diversas de desenho, enquanto ia estruturando melhor o espaço, que neste ano vai passar a contar com um estúdio que busca também abrir um campo de profissionalização dos trabalhos ali desenvolvidos. “O foco das atividades do espaço é desenvolver ações que sejam lúdicas e profissionalizantes. Para quem quer ter a arte como um instrumento expressivo e também como instrumento profissional”, explica o coordenador do centro cultural.

O coordenador Rodolfo Brichler, de camisa azul claro, e jovens participantes do projeto. Foto: Divulgação

O local também abriga um cineclube, o Cine Rabisco, que tem como foco em animações, um pequeno Ponto de Leitura, que tem principalmente quadrinhos e projetos como o Rabiskids, com oficinas para as crianças menores, o Rua de Rabisco com a realização de pinturas e desenhos nas ruas junto a brincadeiras infantis, como ocorreu durante a Copa do Mundo, e o Roda de Rabisco, em parceria com o Creas, em que os jovens realizam passeios relacionados com as práticas ali desenvolvidas. Uma das paredes do espaço serve para exposição dos trabalhos desenvolvidos, com previsão de uma nova exposição a cada dois meses para renovar o lugar. Outras paredes ganharam ilustrações permanentes dos artistas locais.

Por lá, outros projetos estão engatinhando para ganhar vida junto ao estúdio que passa a compor o centro cultural, como o podcast Artimanha, que pretende entrevistar artistas e posteriormente trazê-los para atividades no local, o LabEsboço, pensado como um laboratório para colocar em prática outras ideias artísticas e culturais em diversas linguagens.

A divulgação usa estratégias modernas como uso das redes sociais e também um grupo de Whatsapp em que estão jovens e também os pais ou responsáveis de participantes mirins que não possuem celular. Mas uma boa e velha estratégia também funciona muito bem. O portão do espaço cultural serve como quadro de avisos, com mensagens e desenhos feitos a giz. Como se acostumaram a passar por lá, eles logo ficam sabendo do que vai rolar na Casa de Rabiscos.

Para sustentar tudo isso, o projeto, que eventualmente já acessou editais públicos, como na montagem do cineclube, buscou formas de financiamento colaborativas e permanentes. Uma campanha de apadrinhamento do espaço possui 10 colaboradores fixos e cerca de 40 eventuais, contribuindo para manutenção do local e inclusive de bolsas para alguns do jovens que atuam como ajudantes nas atividades. Quem apoia ganha em troca alguns brindes, que geralmente são os próprios trabalhos desenvolvidos na Casa de Rabisco.

Rodolfo explica que a maioria dos apoiadores financeiros é de fora do bairro, a partir de redes que construiu como artista e produtor cultural. Porém, a nível local, moradores, muitas vezes com poucas condições financeiras, contribuem trazendo café, biscoitos, empréstimos de equipamentos, descontos em serviços ou outras ajudas possíveis. Pequenas empresas do bairro também contribuem, como padaria, papelaria e loja de material de construção. “Existe uma rede de apoiadores, relativamente pequena para o impacto que o projeto quer causar. Mas o mais importante é que ela é sólida”, considera Rodolfo, que ressalta que todas as atividades realizadas na Casa de Rabisco são gratuitas.

O público maior de 13 anos, Rodolfo considera mais difícil de fidelizar que os menores, que no período letivo costumavam aparecer a cada manhã de sábado. Por isso, a profissionalização por meio do estúdios, que pode abarcar ilustrações, tatuagens e outros produtos e serviços, pode ser um caminho para atrair jovens já em condições de ingressar no mercado de trabalho.

A mobilização de adultos para atividades é mais difícil, mas o coordenador do espaço diz que está “garimpando” interessados. “Muitos adultos gostavam de desenhar quando eram mais novos, mas pararam”. Sobre as crianças e jovens, ele observa impactos significativos. “Tem um menino que era do rolê do futebol, fazia escolinha. Era o único estímulo que tinha. É legal, mas descobriu no espaço outro estímulo, pegou papel, caneta e fez releitura de um desenho meu. Está muito motivado, agora tem visão mais ampla, encontrou o desenho como uma forma de expressão”, considera, ressaltando que busca deixar os alunos à vontade para se expressarem.

Uma das formas de contribuir com o trabalho da Casa de Rabisco é por meio de doações pelo PicPay.

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