No próximo domingo (22) será realizada a Farofa da Jurema, um protesto contra a elitização da praia da Curva da Jurema, em Vitória. Participarão da manifestação pessoas independentes, tanto da periferia quanto de bairros considerados nobres, mas que defendem o acesso de todos, e militantes de movimentos sociais. A concentração será a partir das 9h, próximo aos quiosques. Os participantes levarão faixas, cartazes e, é claro, irão usufruir de um dia de lazer na praia.
O militante do Movimento Negro Unificado (MNU) Wesley Lacerda afirma que o protesto foi impulsionado pelo decreto nº 21.599/2022, da gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), que limitava a atuação dos ambulantes nas praias da Capital, estipulando que eles vendessem seus produtos a 200 metros da área dos quiosques. Como a repercussão foi negativa, o decreto foi revogado, conforme consta no Diário Oficial de 12 de janeiro.
Entretanto, Wesley destaca que o processo de elitização da praia vem acontecendo há tempos, por exemplo, com o encarecimento dos preços dos produtos no quiosque. “Os pobres não conseguem mais comprar. Antes a praia era popular, a periferia frequentava. Hoje elas não se sentem mais pertencentes àquele espaço”, diz. Wesley destaca que, atualmente, a praia tem até butique de grife, coisa que não tinha antes.
“O local ficou bonito, não dá para negar. Tem que ter reurbanização, inclusive, com adaptação para pessoas com deficiência, mas do jeito que está sendo feito, sem diálogo, que é a marca da gestão de Pazolini, não tem como”, queixa-se. Wesley defende a realização de audiências públicas com toda a cidade para dialogar e “construir uma praia em uma cidade que é para todos”.
O MNU, quando os ambulantes denunciaram que a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) estava limitando sua atuação, divulgou uma nota de repúdio em suas redes sociais. “O racismo se manifesta de inúmeras formas, a expulsão dos vendedores ambulantes do entorno dos quiosques, local com maior possibilidade de renda, pode ser uma dessas formas!! O que esperar de quem tenta tirar a fonte de renda de inúmeras famílias e ao mesmo tempo retirar da população mais pobre o acesso à praia, que é pública?”, questionou o Movimento.
A militante do MNU Vanda Vieira destacou na ocasião que a iniciativa da PMV buscava expulsar os pobres da praia não somente impedindo-os de trabalhar nela, mas também impossibilitando que a tenham como opção de lazer, uma vez que, sem os ambulantes, a única opção para consumo serão os quiosques, “que é tudo mais caro”. “As pessoas não podem trabalhar porque os riquinhos não querem gente oferecendo seus produtos na praia”, disse. Ela apontou, ainda, que se houver negros nos quiosques, “estarão ali trabalhando para alguém que não é negro”, e que a praia, tradicionalmente, é frequentada por pessoas das comunidades populares, devido, por exemplo, à facilidade de acesso ao transporte público na região.
As mudanças ocorridas na praia da Curva da Jurema, em Vitória, ganharam repercussão nas redes sociais há um pouco mais de um ano. As transformações englobam, por exemplo, a transição de quiosques de padrão mais simples para outros mais sofisticados, e, consequentemente, mais caros. Além disso, a inserção, em espaços grandes da faixa de areia, de quadras de beach tennis e canoas Va’a, atividades pagas. Academia, café e lojas de roupa, também passaram a fazer parte do cenário.