O ‘Que Loucura!’ prepara estandartes, canções e instrumentos para desfilar pela primeira vez na avenida
“Que bloco é essa? / Cê não sabe não? / É o Que Loucura / Pela saúde da população!”. Essa é a letra de umas das paródias que devem ecoar no próximo dia 10 de fevereiro, às 21h, logo antes do início dos desfiles das escolas de samba do Espírito Santo. Criado em 2014 a partir das articulações da luta antimanicomial, o Bloco Que Loucura! retomou as atividades depois de anos desarticulado e se prepara para seu maior desafio: desfilar pela primeira vez no Sambão do Povo, abrindo o carnaval capixaba.
O objetivo é levantar as bandeiras da luta antimanicomial, da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e seus serviços públicos e da defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Para defender esse pavilhão estão convocados não só profissionais e usuários dos serviços de saúde mental como também toda pessoa que se identifique com essas lutas.
A preparação já começou com a realização de ensaios semanais no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de São Pedro, toda sexta-feira, de 9h às 11h da manhã. O local tem recebido cerca de 50 pessoas a cada ensaio, vindos de outros Caps da Grande Vitória: Vila Velha, Serra, Cariacica, Fundão e da própria capital. Na próxima semana, usuárias dos Caps que se destacaram no canto, irão até um estúdio no Centro de Referência das Juventudes de São Torquato para gravar as três canções que serão levadas à avenida pelo bloco, todas elas paródias com letras autorais que fazem referência às lutas que o bloco defende.
Também vêm sendo confeccionados nos Caps estandartes, faixas sobre as causas levantadas e instrumentos musicais mais simples, como os chocalhos. “Nossos ensaios são bem livres, não teremos uma grande estrutura carnavalesca, mas a proposta é ir para divulgar nossa pauta mesmo. Os participantes estão muito felizes, a maioria nunca teve oportunidade de ir coletivamente para os desfiles. Já elegeram até mestre-sala e porta-bandeira”, conta Fabíola Leal, professora da Ufes e uma das articuladoras do retorno do bloco.
Para fazer acontecer, o Que Loucura! está contando com apoio de ritmistas do Bloco Afrokizomba e da Unidos da Piedade, de adereços e bonecos desenvolvidos pelo projeto Recicla Folia, que faz reaproveitamento de fantasias, e de outros coletivos e grupos sociais. O bloco ainda ganhou uma logo nova e elaborou abadás que estão sendo confeccionados pelo projeto de economia solidária do Caps Beija-Flor, que fica em Vila Velha, para onde serão destinados os recursos arrecadados com as vendas dos mesmos. A expectativa é que no desfile o bloco agregue entre 70 e 150 foliões. Logo depois de sua passagem, ainda virá desfilar o Bloco dos Direitos Humanos, que está sendo mobilizado pelo governo do Estado junto às ligas das escolas de samba.
Fabíola Leal diz que a proposta é tornar o bloco e os desfiles no carnaval permanentes. Para isso, já virou projeto de extensão da Ufes e vai buscar também acessar recursos como os editais de cultura estaduais e municipais, para comprar instrumentos e preparar as atividades ao longo do ano. Terminado o carnaval, o bloco também deve compor novas canções para se renovar a cada edição do carnaval.
Ela indica que em vários Caps há musicoterapeutas trabalhando e projetos relacionados com a musicalidade, uma ferramenta positiva para lidar com melhorias na saúde mental. Alguns blocos existentes costumam sair às ruas eventualmente, mas geralmente mais no entorno do próprio Caps. O Que Loucura! busca unir esses esforços e juntar todas essas experiências a outras pessoas interessadas para provocar maior impacto de visibilidade para a causa e maior envolvimento das pessoas, especialmente os usuários dos serviços, que encontram no bloco uma motivação.