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Movimento Hip Hop quer audiência com Casagrande

Ativista Pandora da Luz elenca repressão policial, políticas públicas para cultura e periferias como pautas

“Atribuo a ação ao racismo institucional das forças policiais, a mão armada do Estado, que ainda nos vê como bandidos por sermos negros”, diz Pandora da Luz, produtora cultural, designer de moda e uma das principais figuras políticas do movimento Hip Hop no Espírito Santo sobre a agressão ocorrida no último sábado (21) no evento Parada Underground, ocorrido em Anchieta. “Também é fruto do racismo cultural, pois apesar da grande diversidade que há no Hip Hop, é uma cultura que vem da tradição negra”, aponta. Segundo ela, vários participantes do movimento têm conversado após o ato de repressão policial para exigir apuração célere dos fatos e devida punição aos responsáveis. Para isso, solicitam uma audiência com o governador Renato Casagrande (PSB).

Na pauta, querem discutir também a regulamentação da Lei 11.771/23, sancionada no último dia 3 de janeiro, que torna o Hip Hop patrimônio cultural do Espírito Santo. Entre os aspectos da lei está justamente a proibição de “qualquer tipo de discriminação ou preconceito, seja de natureza social, racial, cultural ou administrativa contra a cultura Hip Hop ou contra seus integrantes”, além de prever programas de fomento à cultura Hip Hop. Pandora diz que ela e outros integrantes querem ver essas políticas serem construídas de fato e saírem do papel. A deputada estadual Iriny Lopes (PT), autora do projeto de lei, está tentando mediar o encontro dos representantes do movimento com o governador. 

Vitor Taveira

“Hip Hop não é só uma pessoa grafitando, cantando, discotecando ou dançando. Essa é a parte que as pessoas veem, mas também é um movimento que está no dia a dia, ajudando sua comunidade nas periferias. É uma arte que liberta. Muitos saíram do tráfico, foram estudar e depois, trazem retornos para seus locais de origem”, relata Pandora. “Esperamos que o governador acene com políticas públicas para fortalecimento do Hip Hop porque isso não beneficia só as pessoas que fazem arte, mas a cultura como um todo, as comunidades periféricas na região metropolitana e no interior”.

Sobre o ocorrido em Anchieta

Édson Sagaz, um dos pioneiros do movimento Hip Hop no Espírito Santo, era um dos presentes na agressão sofrida por um grupo de artistas na Vila Olímpica de Anchieta, por volta das 9h30 da manhã do último sábado. Ele estava no palco do evento, onde se preparava para ser mestre de cerimônias, e viu de frente e à distância a abordagem policial, que segundo ele chegou com agressões sem diálogos com um grupo entre 30 e 40 pessoas entre público e artistas que se abrigava da chuva ouvindo música e ensaiando passos de break em frente à guarita da Polícia Militar no local, que se encontrava vazia até então. 

Artista atingido por bala de borracha. Foto: Divulgação

Ele denunciou em suas redes sociais o ocorrido por meio de vídeos e disse que se sentiu humilhado em Anchieta. Pandora, que não estava no local, aponta que houve abuso do poder bélico e uso excessivo e desproporcional da força. Abordagem com arma em punho, tiros de balas de borracha e spray de pimenta teriam sido usados, além de testemunhas terem denunciado que uma policial teria feito gestos racistas para os artistas.

Segundo Sagaz e Pandora, muitos dos que estavam presentes se sentiram abalados ou amedrontados e não estão querendo se manifestar sobre o tema.

“A comunidade hip hop não reagiu à falta de civilidade da polícia e o caso foi parar na delegacia local. Lá, o chefe da PM na ação até reconheceu o erro, ao ver a documentação, mas para se esquivar de qualquer reprimenda, inventou fatos e manteve a caixa de som apreendida, como que para manter a ‘prova de um crime’ que ele sabia não ter ocorrido. O chefe da PM, tenente Ramos, também admitiu que o comandante não comunicou a base do evento, mas ainda assim, nada justifica o que ocorreu na noite de sábado”, relatou Iriny Lopes em suas redes sociais. Segundo relatos, a polícia teria alegado no momento ter recebido uma denúncia de vandalismo, embora aparentemente nada tenha sido registrado ou apontado no momento.

A Prefeitura Municipal de Anchieta disse que o evento foi fruto de um edital lançado pela mesma para valorização e fomento da cultura local, desenvolvido por produtores independentes com seu apoio. “O incidente entre a PM e alguns integrantes dos grupos que se apresentaram foi um fato isolado . A prefeitura de Anchieta reforça a valorização e o respeito às manifestações culturais. Desde que sejam realizadas de forma a não prejudicarem a ordem pública”, alegou o executivo municipal em nota .A Polícia Militar não respondeu às perguntas enviadas pelo Século Diário até o fechamento da reportagem.


Hip Hop é declarado patrimônio cultural do Espírito Santo

A deputada Iriny Lopes, o MC e grafiteiro Fredone Fone e a produtora cultural Pandora da Luz falam sobre o significado disso


https://www.seculodiario.com.br/tv-seculo/hip-hop-e-patrimonio-cultural-do-espirito-santo

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