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Exposição ‘Anticorpos’ conecta obras de artistas no Maes

Juliana Pessoa e Luciano Feijão abordam em suas obras corpos fora dos padrões estabelecidos pela sociedade

Ao adentrar a sala de exposição do Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio del Santo (Maes) até o dia 23 de abril, vai encontrar entre as paredes brancas uma profusão de corpos. Na verdade Anticorpos, como sugere o nome da exposição que reúne obras dos artistas visuais Juliana Pessoa e Luciano Feijão, com curadoria de Fernando Pessoa. Anticorpo, nesse caso, não traz o significado biológico, mas sim um sentido político, fortemente presente nas obras da dupla, que pela primeira vez exibe em parceria seus trabalhos. O “anti” na verdade se refere à oposição ao modelo padronizado de corporalidade das classes dominantes. 

Foto: Elaine Pinheiro

As obras expostas no Maes não estão identificadas, de modo que o visitante que conhece as o trabalho de ambos artistas poderá identificá-las de acordo com o estilo e técnica ou deduzir a autoria, embora para a maioria do público elas podem se fundir pelas paredes do museu, tornando ainda mais efetivo o diálogo que Anticorpos propõe, trazendo 44 obras, entre intalações e quadros em pequenos e grandes tamanhos feitos à mão sobre papel.

A proposta, conta Juliana, surgiu na busca de colocar em contato as obras de ambos, que tem centralidade na busca de trabalhar com corpos que geralmente são historicamente perseguidos, violentados, silenciados e invisibilizados por fugirem dos padrões dominantes. “Nossa obras dialogam também por conta da técnica. De certa maneira a gente trabalha mais ou menos com os mesmos materiais. Apesar dos resultados serem diferentes, a metodologia e os materiais são praticamente os mesmos”, complementa Feijão.

Feijão traz em sua pesquisa desde 2016 a ideia de uma “antianatomia negra”, interessado em reflexões sobre racialidade. “Se trata não de uma oposição mas de uma inflexão em relação à ideia de anatomia científica dos livros. A anatomia científica foi usada como uma das coisas que fez parte de uma estrutura eugenista que buscava transformar o Brasil num país majoritariamente branco. Uma das coisas usadas para justificar isso foi a anatomia, baseada na normatividade, na ideia do corpo perfeito, uma ideia supremacista, baseada na estrutura anatômica branca”, explica o artista. Sua obra, cheia de traços, corpulência e movimentos, busca retratar corpos que vão para a luta e enfrentamento. A antianatomia desses corpos é justamente uma forma de se colocar num embate contra essa anatomia científica supremacista. 

A obra de Juliana Pessoa caminha por pesquisas que exploram iconografias do candomblé, do cangaço, da favela, buscando imagens de personagens históricos que não são os mais valorizados. “Podemos dizer que são personagens das notas de rodapé dos livros de história. Busco valorizar não a dor ou a violência que sofreram, mas a grandeza histórica dessa gente, que muitas vezes é considerada miserável, menos brasileiros, menos cidadãos”, considera. Em seu trabalho, várias camadas se somam nos desenhos feito sobre papel, nos quais se desenha, apaga, refaz, sob uma superfície que também rasga, envelhece, marcas estas que aparecem na exposição.

Ela destaca a visibilização nos últimos tempos dos corpos fora dos padrões impostos, a partir principalmente da afirmação de sujeitos diversos sobre suas corporalidades, como é o caso de pessoas como MC Carol, Jojo Todynho e Thais Carla. “Não quis retratar fulana ou beltrano, mas buscar corpos fora do padrão estético que vibram e se amam, que se respeitam independente da forma como a sociedade os vê e querem ocupar espaços que antes eram inimagináveis”.

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