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Conselho aprova tramitação do processo de registro do Raiar da Liberdade

Próximo passo sobre evento realizado em Cachoeiro é a apreciação pela Câmara de Patrimônio Imaterial, para elaboração de um parecer

O colegiado do Conselho Estadual de Cultura aprovou o início da tramitação do processo de registro da festa Raiar da Liberdade como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo. O evento acontece todo dia 13 de maio na comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado. O próximo passo é a apreciação pela Câmara de Patrimônio Imaterial, para elaboração de um parecer.

O membro da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, Genildo Coelho, está otimista quanto ao processo e afirma ter feito algumas provocações para o Conselho durante a reunião em defesa da importância do reconhecimento do Raiar da Liberdade como Patrimônio Imaterial do Espírito Santo. Uma delas é que, caso se obtenha o registro até a data da festa, que ele seja assinado durante o evento.

A outra provocação foi uma reflexão sobre a necessidade de enegrecer o patrimônio cultural capixaba. De acordo com Genildo, são poucos os patrimônios vinculados à cultura negra que são tombados. O congo é um deles. Na arquitetura, somente Queimados, na Serra, uma vez que o tombamento do Porto de São Mateus, no norte, não foi por causa de sua relação com a escravidão, mas pela arquitetura. Genildo destaca que, no Espírito Santo, não há terreiros tombados.
Luan Volpato

“O registro do Raiar da Liberdade como Patrimônio Imaterial é uma oportunidade de contemplar parte significativa da população capixaba que não é contemplada com reconhecimento do patrimônio que construiu. Será que o povo preto, os indígenas, responsáveis pelo que somos hoje, não produziram nenhum patrimônio arquitetônico?”, questiona.

Genildo acrescenta que os negros formam uma “população invisibilizada pelas instituições. Que nesse processo de retomada do Brasil para o povo, o Conselho reconheça a importância do Raiar da Liberdade como elemento da identidade de uma população que sofreu um processo de invisibilização”, reitera.

A elaboração do inventário para dar entrada no registro de patrimônio imaterial foi feito com recursos do Edital 12 da Secult, de Seleção de Projetos e Concessão de Prêmio para Valorização dos Patrimônios Imateriais Reconhecidos e Registrados no Estado do Espírito Santo, de 2020. Na metodologia, adotada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o estudo e o reconhecimento das referências culturais brasileiras, foram utilizados formulários do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC).
Para a elaboração do inventário, afirma Genildo, não foram buscados critérios generalizantes, sendo isso uma “aposta política e metodológica”. Foi feito um levantamento comunitário por parte das próprias mestras. “A gente transcreveu o que elas falavam, com a linguagem delas, não uma linguagem acadêmica, de um doutor, sem interferência minha, de um acadêmico”, explica.
Raiar da Liberdade
Cerca de 15 grupos folclóricos se apresentam anualmente no Raiar da Liberdade, em uma relação chamada de “compadrio”, pois eles marcam presença na festa uns dos outros, se visitam. Os grupos não se restringem aos de Cachoeiro de Itapemirim, abarcando também outros municípios do sul capixaba, como Muqui, Itapemirim, Presidente Kennedy, Alegre, Jerônimo Monteiro e Atílio Vivácqua.
Luan Volpato

Genildo conta que o Raiar da Liberdade é uma festa que lembra o processo de luta do povo negro. “A gente comemora a vitória de uma revolução que começou no chão da senzala, que acontece em uma comunidade onde foi formado um quilombo, organizado por negros que fugiram de fazendas da região”.

Ele narra que, em 13 de maio de 1888, a notícia da abolição foi recebida via telégrafo, comunicada pelos fazendeiros aos escravos, que no mesmo dia foram para a praça da cidade, onde começaram a fazer seus batuques em frente à Câmara Municipal. O presidente da Casa de Leis tentou se apropriar da comemoração, tirar o protagonismo dos negros, distribuindo comida e bebida. Dias depois, sem emprego, comida, moradia e outros direitos, os negros voltaram para as fazendas, permanecendo no regime de escravidão.

A festa, então, passou a ser comemorada anualmente nas comunidades da região, mas hoje acontece somente em Monte Alegre e Vargem Alegre, também em Cachoeiro. Em Monte Alegre, a comemoração é liderada por Maria Laurinda Adão desde 1961, quando ela tinha 18 anos. Trata-se de um compromisso que passa de geração em geração. Seu trisavô, Negro Adão, que fundou a comunidade quilombola, foi quem deu prosseguimento à festa, ainda no Século XIX, passando depois para os bisavós, avós e pais de Maria Laurinda, que destaca-se nacionalmente e internacionalmente como defensora da cultura negra e quilombola.
Além de ativista, Maria Laurinda é mestra de Caxambu, parteira, coveira e líder espiritual. Ela recebeu em 2008 o título de “Patrimônio Cultural do Brasil”, do Iphan. Sua história também foi eternizada no documentário Todas as faces de Maria, em 2011.


‘Estamos na expectativa da celeridade do processo’

Organização do Raiar da Liberdade solicitou para a Secult registro da festa como patrimônio cultural imaterial capixaba


https://www.seculodiario.com.br/cultura/estamos-na-expectativa-da-celeridade-do-processo

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