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Educação menstrual é tema de evento gratuito no pós-carnaval do Caparaó

Debora Valente coordena o Festival Conexão com a Lua, que oferece oficinas e vivências sobre os ciclos femininos

Educação menstrual sim senhora, sim senhor. Para todas as mulheres e homens trans que menstruam e que desejam conhecer e cuidar melhor de seu corpo, ampliando a consciência sobre o feminino e fortalecendo a luta por uma sociedade mais feminista, com igualdade de direitos, oportunidades e respeito entre ambos os sexos, independentemente do gênero.

A pauta, tão ancestral e atual, é tema de um evento gratuito que ocorre no pós-carnaval do Caparaó Capixaba: o Festival Conexão com a Lua, que o espaço de aprendizagem Tekoá realiza em Patrimônio da Penha, nos dias 23 a 26 de fevereiro. A programação reúne dez mulheres terapeutas que oferecerão oficinas e vivências diversas, voltadas para a conexão entre os ciclos femininos e os do nosso satélite planetário, que sabidamente influencia diretamente outros fluidos e metabolismos, desde as marés até o crescimento das plantas e os cios animais.

Ancestral, porque muitos dos conhecimentos que serão levados pelas terapeutas se baseiam em estudos antigos, de muitas gerações passadas, povos originários e mesmo civilizações já extintas. Atual, porque os movimentos em prol dos direitos femininos nunca estiveram tão ativos na sociedade moderna quanto agora.

“Desmistificar a menstruação torna as meninas mais confiantes e responsáveis, e os meninos mais empáticos e futuramente envolvidos com questões de saúde e de planejamento familiar. Além disso, a dificuldade de lidar com a menstruação, sem conhecimento prévio, faz com que muitas mulheres e meninas percam produtividade, em seus trabalhos e estudos, e isso contribui para aumentar a desigualdade entre homens e mulheres”, aponta a divulgação do evento.

Durante o festival, serão produzidos materiais didáticos com o objetivo de aproximar as participantes dos ciclos que envolvem a menstruação. Também serão aproveitados materiais que vêm sendo produzidos em outras atividades em curso com as mulheres de Patrimônio da Penha, como as réplicas em crochê do sistema reprodutor e dos seios.

Entre os materiais didáticos, estão o diário da lua vermelha, a mandala lunar e o jogo de tabuleiro A Lua e o Óvulo. “O objetivo é atingir as adolescentes também, porque é muito melhor saber desde cedo o que se tem que saber. É um público mais difícil de atrair, mas a gente está trabalhando para isso”, destaca a educadora Débora Valente, coordenadora do evento e da Associação de Pais, Educadores e Amigos da Tekoá (Apeat), que obteve apoio do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) para concretizar o Festival.

Divulgação

“Quanto mais cedo a gente se conhece, mais tem capacidade de se cuidar melhor e até de identificar problemas, alguma deformidade. Eu mesma descobri bem tarde, por exemplo, que o nome do nosso órgão genital não é vagina, e sim vulva! Vagina é uma parte da vulva, é o canal, o canal vaginal. A sociedade patriarcal retira essas informações, para que a gente não tenha domínio do nosso corpo”, comenta Débora.

Em sua oficina, ela ensinará a costurar absorventes menstruais de pano, uma alternativa mais saudável, ecológica e econômica aos absorventes descartáveis e que pode ajudar a retirar tantas meninas e mulheres da situação chamada de “pobreza menstrual”, alvo de diversas campanhas de doações por parte de ONGs e governos em todo o país.

“Educação menstrual tem tudo a ver com sustentabilidade. Os descartáveis, além do problema de lixo enorme no planeta, também causam problema para as meninas e mulheres, porque são químicos e afetam o nosso ciclo. O aprender a fazer o próprio absorvente de te dá uma liberdade e sustentabilidade financeira, e ainda tem a sustentabilidade ambiental”, defende a educadora. Ela cita alguns números: “uma única pessoa tem em média 450 ciclos menstruais durante a vida, usa cerca de dez mil absorventes, gerando 150 quilos de lixo”.

Débora não nega que os absorventes de pano exigem cuidados com limpeza e armazenamento dispensados dos descartáveis, mas que cabem na correria do dia a dia. A inviabilidade dessa prática nos dias de hoje é um mito, afirma.

“O absorvente tem um cuidado maior? Sim, porque ele tem sangue e que deixar de molho por um tempo, mas vale a pena pelos benefícios de saúde e ambiental. Conheço mulheres que foram obrigadas a utilizar absorventes de pano porque estavam com alergia, menstruação em excesso, cólicas, provocadas pelos descartáveis. Tenho vários depoimentos de meninas que viram reduzir os dias de menstruação e cólicas com os de pano, e também de um homem trans que passou a lidar bem, a gostar da menstruação, depois de usar os absorventes reutilizáveis”.

Divulgação

TPM – Tempo para Meditar

Abordando um pouco do sincronismo entre o micro e o macro, que será a tônica do festival, Débora fala sobre a sintonia entre os ciclos da lua e da mulher. “A lua, assim como a gente, tem ciclo de 28 dias. Ela influencia o planeta Terra de uma maneira geral, no nosso corpo e na natureza. E tem os arquétipos, cada fase da lua representa um arquétipo feminino”, pontua.

A crescente, explica, tem o arquétipo da menina. “Envolve o desabrochar, tem a ver com a nossa psique e emocional, o jovial, o criativo”. A lua cheia traz o arquétipo da mãe. “Quando estamos ovulando, ficamos mais amorosas, mais receptivas”. A lua minguante é a feiticeira, a bruxa. “Ficamos mais introspectivas e estamos sensíveis a insights e sonhos”. E a lua nova é a anciã e está mais relacionada com o fluxo menstrual. “É quando é feita a transição de morrer para tudo que já foi e reviver o novo. A menstruação está limpando o seu útero, deixando ir embora o que não te serve mais, e está se preparando para novamente entrar na fase da menina”.

Ela lembra ainda um ponto em comum importante entre a minguante e a nova. “Segundo os estudos do sagrado feminino, o inconsciente fica mais próximo do consciente, então os sonhos são mais significativos”.

Nessa abordagem sagrada, a famigerada tensão pré-menstrual (TPM) é ressignificada. “É o Tempo Para Meditar, um tempo que você tem que olhar para dentro de si, se observar, se resguardar, senão aí sim vem a tensão pré-menstrual, o nervosismo. Se você tem consciência desse momento, consegue lidar melhor”, sugere.

Esses ciclos, ressalta, continuam ocorrendo na menopausa, pois mesmo que o sangue não desça mais, mas as variações hormonais, emocionais e de humor continuam ocorrendo, de acordo com a influência da lua. “Esse conhecimento é importante para mulheres de todas idades. Até os homens têm esses ciclos, só que de forma mais sutil”, reforça, afinal, a lua influencia tudo o que flui e é vivo no planeta.

Diversidade

Outras oficinas e vivências irão abordar ginecologia natural, farmácia natural, modelagem com argila, cosméticos naturais, dança do ventre, Yoga, dança circular, musicoterapia. A programação completa, um resumo de todas as atividades e do perfil de todas as terapeutas, está disponível no site da Tekoá.

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