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Sem recursos, paneleiras podem perder homenagem no Rio de Janeiro

Prefeitura de Vitória não garantiu, até agora, passagens para desfile da escola de samba Inocentes de Belford Roxo

“A mão preta que se encontra com o chão”, como diz o samba “Mulheres de Barro”, da escola de samba Inocentes de Belford Roxo, do Rio de Janeiro, corre o risco de não ir ao encontro da agremiação que a homenageará na Marquês de Sapucaí no Carnaval deste ano. Essa mão é a das paneleiras de Goiabeiras, que embora já tenham solicitado à gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) recurso financeiro para arcar com a ida delas e da banda de congo para participar do desfile, em 18 de fevereiro, até agora não obtiveram resposta da administração municipal.

As paneleiras solicitaram dois ônibus, alimentação e hospedagem. Elas souberam da homenagem e a autorizaram em junho do ano passado, quando representantes da escola de samba vieram a Vitória e apresentaram a proposta. Um nova visita foi feita recentemente, na qual os integrantes postaram foto com o prefeito e agradeceram “a recepção e todo apoio oferecido”.

Redes Sociais

A paneleira Berenícia do Nascimento afirma que, primeiramente, foram oferecidos para as paneleiras dois ônibus, mas depois foi informado pelo sambista capixaba Axel Fernandes, que representou a Prefeitura de Vitória (PMV) em reunião com as paneleiras, que seria somente um. Entretanto, afirma, não há confirmação de nada. Por isso, elas contataram o secretário de Governo, Luciano Forrechi, que pediu para procurarem um assessor do prefeito, com quem argumentaram que não se pode fazer homenagem para as paneleiras sem a presença no desfile.

A resposta obtida por elas, recorda, foi por meio da seguinte indagação: “mas a gente não homenageia até gente morta?”. “Respondi para ele que quando vieram nos apresentar a proposta da homenagem, estávamos vivas. Tem que ter respeito pelas paneleiras, pelo patrimônio nacional. Não é patrimônio só de Goiabeiras não, é patrimônio nacional. É dar a palavra e cumprir”, destaca Berenícia.

Ela aponta “falta de vontade para custear a ida” e lamenta que, tanto a gestão municipal quanto a estadual costumam mencionar sempre as paneleiras, mas o investimento nesse ofício por parte do poder público ainda é pequeno. “Somos pessoas humildes que trabalhamos para levar o pão para dentro de casa. Da forma como falam, parece que temos muita ajuda do governo estadual e da prefeitura, mas é muito pouco. Mantemos uma tradição que deixaram para nós, mas os governos não estão nem aí para isso”, desabafa.
Leonardo Sá

A servidora pública Jamilda Bento, filha, neta e bisneta de paneleiras, classifica a situação como “uma forma desrespeitosa de tratar um coletivo de mulheres detentoras de um conhecimento, de uma tradição ancestral que existe há mais de 400 anos”.

Para ela, as respostas dadas para a reivindicação das paneleiras até o momento são “vazias e jocosas”. “Nós não estamos mortas, nosso conhecimento não está morto. O silêncio das autoridades é ensurdecedor e ao mesmo impactante. Está muito doído”, lamenta.

As paneleiras têm tido apoio do Babado Bar, em Goiabeiras, movimento artístico cultural que contempla ações e conta com um museu de arte das paneleiras e um bar como instalação artística. O Babado Bar chegou a publicar uma nota sobre o assunto, que acredita ser um “descaso” e um “jogo de empurra-empurra”.

O proprietário, Lucas Martins da Silva, informa que o Conselho Municipal de Cultura entrou em contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na próxima reunião, que será nesta terça-feira (7), o Iphan solicitou a presença de representantes da Secretaria Municipal de Cultura para discutir a situação.


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https://www.seculodiario.com.br/cultura/artistas-questionam-edital-da-lei-aldir-blanc-em-vitoria

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