Bombeiros e Iema concluíram perícia administrativa. Cabe à polícia saber se foi criminoso ou não
A perícia administrativa realizada pelo Corpo de Bombeiros e o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) concluiu que o incêndio que queimou 37% da área do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, em Guarapari, durante os meses de setembro e outubro passados, teve origem em ação humana e não natural. Se foi uma ação criminosa ou não, cabe à Polícia Civil descobrir. As informações foram transmitidas durante coletiva realizada na tarde desta segunda-feira (6).
“A única coisa que explica a presença de uma fonte ígnea capaz de ocasionar o incêndio em questão é a ação humana”, afirmou o Capitão Loreto, perito responsável no Corpo de Bombeiros. Ele explica que, analisando as características do incêndio, foi constatado que não havia condições de qualquer fonte natural para o início do fogo. A temperatura local no momento do evento era em torno de 20ºC e a umidade relativa do ar estava em 80%. Além disso, não houve descarga atmosférica no local nem evidência de fenômeno termoelétrico. “Foram descartadas as possibilidades de ação natural”, reforçou.
A perícia localizou as margens da Trilha Tropical como ponto de início do fogo. Trata-se de uma trilha em lugar remoto, acessada apenas por pedestres, localizada na altura do bairro Village do Sol. O primeiro chamado para o Corpo de Bombeiros foi feito por volta das 6 da manhã do dia 22 de setembro. De início, o Capitão Loreto conta que o vento era nordeste, provocando uma propagação maior na “cabeça” do incêndio. No dia seguinte, o vento inverteu e a “cauda” passou a ter maior propagação. Foi sendo então sendo feito um formato elíptico do incêndio, com uma “perna” à direita, em direção à Rodovia do Sol.
As ações de combate às chamas duraram um mês e meio, indo até o dia 31 de outubro. Além do Corpo de Bombeiros e do próprio Parque Paulo Vinha, o trabalho envolveu equipes dos parques estaduais da Pedra Azul e Cachoeira da Fumaça, das Reservas Biológica de Duas Bocas e de Desenvolvimento Sustentável de Anchieta, da Rodosol, da Samarco, da Casa Militar e da Cesan.
Foram queimados 555 hectares, o equivalente a 37% da área total do parque, que tem 1,5 mil hectares. Como a área afetada foi principalmente de brejo e florestas alagadas, os peritos acreditam que os animais conseguiram se refugiar, o que explica o pequeno número de animais mortos. “Alguns répteis e pequenos invertebrados. Também houve resgate de ouriço”. Boa parte dos esforços, ressaltou o Capitão Loreto, foi para evitar que o fogo se alastrasse para a mata alta de restinga.
Doloso ou culposo
Sobre as motivações para a ação humana, o capitão afirma que é assunto a ser tratado pela Polícia. “Foi proposital ou não? Não é papel do Corpo de Bombeiros falar isso. Nosso principal objetivo é que fatos dessa magnitude não aconteçam”. O perito disse ainda que pode ter sido uma ação criminosa (dolosa), mas que “em grande parte que a gente vê nos incêndios de vegetação são pessoas que não têm conhecimento, colocam fogo no lixo, jogam um cigarro aceso. Então campanhas de prevenção são importantes”.
O relatório da perita será enviado à Polícia Civil, a quem caberá investigar se foi uma ação criminosa (dolosa) ou não (culposa). Durante a perícia, os Bombeiros e o Iema conversaram com várias pessoas, desde servidores do parque até moradores da região e frequentadores, e não identificaram qualquer testemunha ocular da ação humana que iniciou o incêndio.
Os peritos também informaram que os últimos incêndios que atingiram o parque datam de 2016, em menor proporção, e de 2014, com impacto semelhante ao de 2022. Em ambos, não foi identificado o “fato final”, ou seja, se foi criminoso ou não.
Prevenção
Membro do conselho gestor do Parque Paulo Vinha, o arquiteto e ambientalista Cesar Ivan Pinheiro, da ONG Gaia Religare, lembra que a sociedade civil aguarda a retomada das reuniões do conselho gestor, que estão paralisadas há cerca de um ano. “O novo grupo gestor tomou posse após o incêndio e ainda não marcou a primeira reunião”.
Há propostas de ações que podem ser implementadas no sentido de evitar outras tragédias como essa no futuro, e que devem ser encaminhadas formalmente em uma reunião do conselho. Entre elas, a criação de uma brigada civil de combate a incêndios e um trabalho de educação ambiental, para orientar a população sobre hábitos que, muitas vezes, iniciam incêndios de forma acidental, como queimar lixo ou vegetação nos quintais próximo ao parque, ou jogar guimbas de cigarro nas margens da rodovia.
Os aceiros são outra sugestão vinda da sociedade civil. Em entrevista nos primeiros dias do incêndio, em setembro passado, o presidente da Associação de Moradores de Setiba Ville, Capitão Lucio Lopes, explicou a importância dessa estratégia, que consiste em faixas de solo nu, feitas em meio aos blocos de vegetação nativa com objetivo de isolar os fragmentos, de forma a interromper o alastramento do fogo em situações de incêndio.
Se houvesse mais responsabilidade dos gestores ambientais, o incêndio não teria essas proporções. Se fossem feitos os aceiros nos locais certos, mais fiscalização, enfim, se houvesse atuação de fato. Houve um erro muito grave, tem que se buscar os responsáveis. O primeiro errado é o indivíduo que provocou o incêndio e depois o poder público, que não tomou as providências. As cinzas foram parar quase no centro de Guarapari”, ponderou o líder comunitário na época.