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Escolas precisam garantir atuação de psicólogos, alerta Conselho

Lei federal, não implementada no Estado, é considerada essencial para prevenir discurso de ódio e atentados como o de Aracruz

Os atentados em duas escolas de Aracruz, no norte do Estado, em 25 de novembro de 2022, ainda provocam debates que ultrapassam os limites do Espírito Santo. Uma das questões principais é a implementação da Lei Federal nº 13.935, de 2019, que estabelece a inserção de psicólogos e assistentes sociais na educação básica. 

O assunto será discutido no seminário “Diálogos sobre a Psicologia e os impactos dos discursos de ódio”, que será realizado no município pelo Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo (CRP-ES) e conselhos de Minas Gerais (CRP-MG), do Rio de Janeiro (CRP-RJ) e São Paulo (CRP-SP), além do Conselho Federal de Psicologia (CFP). 

Maria Carolina Fonseca Barbosa Roseiro, do CFP, destaca que o Espírito Santo está bem distante da implementação da lei. Há, hoje, a Ação Psicossocial e Orientação Interativa Escolar (Apoie), instituída em 2019 pela Portaria Nº 108-R, que conta com psicólogos e assistentes sociais, em uma iniciativa chamada de matriciamento, com uma equipe que executa ações nas unidades de ensino e traça estratégias. Mas atua, segundo ela, em situações específicas, não “no chão da escola”.

Para estar nesse “chão”, afirma, é preciso dimensionar quantos profissionais são necessários para atender as escolas. O Apoie, inclusive, atuou na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, em Aracruz, uma das unidades de ensino onde o adolescente de 16 anos efetuou os disparos, deixando vítimas fatais. Em carta aberta à gestão de Renato Casagrande (PSB), divulgada em dezembro último, os docentes da escola afirmaram que o trabalho do Apoie não era suficiente, pois faltam ações por parte da Secretaria Estadual de Educação (Sedu), como contato individualizado com a equipe de profissionais da escola.
Maria Carolina salienta que a atuação do profissional da psicologia na escola não pode ser “patologizante”, nem “individualizar os problemas escolares”, devendo levar em consideração se o contexto da unidade de ensino é de “acolhimento para a diversidade”, uma vez que “o contexto escolar pode produzir sofrimento”.
Nos municípios, a realidade também é de não implementação da lei federal, até hoje não efetivada em nenhum dos 78 do Estado. O presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Thiago Machado, informa que em alguns municípios, como Cachoeiro de Itapemirim, Presidente Kennedy e Alegre, no sul do Estado, há profissionais fazendo acompanhamento pedagógico dentro das secretarias municipais de Educação, o que não é suficiente, pois não há o trabalho das unidades de ensino.
Na escola, afirma, o profissional atende toda a equipe, identifica questões que geram adoecimento e faz acompanhamento individual, mas também propõe atividades de grupo e discute o plano pedagógico.

Thiago destaca que uma das justificativas para a não implementação da lei nos municípios é falta de recurso financeiro, já que a legislação não especifica de onde sairá o montante para custeio da criação dos cargos. Uma das reivindicações é que os psicólogos e assistentes sociais passem a compor os 70% do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), destinados ao pagamento dos professores.

Maria Carolina destaca, ainda, entre as justificativas, o argumento de que já há profissionais nas unidades de saúde. Contudo, alerta, nesses espaços o profissional cumpre outras funções. A escola, portanto, acaba sendo um local de intervenção pontual, sem a necessária atribuição específica do campo da educação.
O CRP acredita que os atentados em Aracruz apontam para a expansão do fenômeno de violência relacionado à propagação de discursos de ódio na sociedade e de posicionamentos extremistas, antidemocráticos e que chegam a incitar a aniquilação de grupos e pessoas vulneráveis identificadas como inimigos.
“Mulheres, crianças, população negra, pessoas LGBTQIA+, imigrantes, pessoas de religiões de matriz africana, dentre outros grupos que já são alvo de discursos e práticas violentas na sociedade, encontram-se ainda mais vulneráveis diante da intensificação de discursos de ódio e intolerância. A utilização da internet de forma criminosa por pessoas e grupos extremistas adiciona perigo ao facilitar articulações e planejamento de atos de violência, a associação entre grupos e a cooptação de novos adeptos”, ressalta.

O crime

Os ataques em Aracruz foram feitos primeiramente na Primo Bitti, onde o atirador havia estudado até junho deste ano. Após arrombar o cadeado, ele invadiu a escola e acessou a sala dos professores. Em seguida, foi para a unidade particular, Centro Educacional Praia de Coqueiral CEPC, onde efetuou mais disparos. 

O processo em relação ao adolescente autor dos ataques foi concluído em dezembro pelo juiz Felipe Leitão, da Vara da Infância e Juventude de Aracruz. O magistrado aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo de até três anos. Caberá ao Juiz da 3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória, com base em pareceres técnicos da equipe do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), avaliar, a cada seis meses, a internação. Foi aplicada, ainda, uma medida protetiva de acompanhamento psiquiátrico durante o período de cumprimento da medida de internação.

O pai do adolescente, um tenente da Polícia Militar (PM), também é investigado pela Polícia Civil (PC), que averigua suas possíveis contribuições com o crime e quais as relações do adolescente com células nazistas e fascistas que se expandem pelo país. Um dos pontos da investigação é descobrir se o pai ensinou o filho a dirigir e atirar. Além disso, a Corregedoria da PM instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra o tenente, que foi afastado das atividades operacionais e vai permanecer nas administrativas no decorrer do processo.

Após os ataques, circulou nas redes sociais uma postagem do Instagram do tenente na qual ele mostrou a capa do livro Minha Luta, de Adolph Hitler, em que o ditador nazista da Alemanha expõe suas ideias antissemitas e genocidas. O livro, ainda utilizado como referência por grupos neonazistas em todo mundo, é proibido em diversas localidades, por meio de lei municipal. Com a repercussão, ele deletou a publicação.


Professores de escola alvo de ataque denunciam ‘abandono’ da Sedu

Em carta aberta, profissionais cobram ações do governo e listam reivindicações diante do atentado de 25 de novembro


https://www.seculodiario.com.br/educacao/professores-de-escola-alvo-de-ataque-denunciam-abandono-da-sedu

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