quinta-feira, novembro 21, 2024
24.4 C
Vitória
quinta-feira, novembro 21, 2024
quinta-feira, novembro 21, 2024

Leia Também:

Abertas inscrições para curso ‘Udelino, o Cotaxé e Questões Controversas’

Gratuito, curso será online e busca possibilitar acesso a novas informações sobre as lutas camponesas locais

Estão abertas as inscrições para o curso “Udelino, o Cotaxé e Questões Controversas”, organizado pela Universidade Livre de Cotaxé, no distrito de Cotaxé, em Ecoporanga, noroeste do Estado. O curso, que é gratuito, será ministrado pelo pesquisador Elio Ramires, por meio de encontros online a serem realizados nos dias 25 de março e 15 de abril, das 16h às 18h. As inscrições podem ser feitas por meio do WhatsApp (27) 99233-6666.

A proposta dessa iniciativa, afirma um dos integrantes da equipe de organização, Vander Antônio Costa, é fazer com que os participantes tenham acesso a novas informações sobre as lutas camponesas em Cotaxé. Ele afirma que existem muitos estudiosos sobre o tema, mas que a partir de iniciativas como o Seminário de Humanidades, que já teve seis edições e contou com a participação de diversos pesquisadores, foi possível ter acesso a novos depoimentos sobre o assunto e a dados obtidos por meio de documentos em cartórios.

Vander destaca que muita coisa contada na história sobre Cotaxé “não se sustenta”, a exemplo da imagem de Udelino Alves de Matos como um fundamentalista religioso que queria juntar parte dos territórios do Espírito Santo e Minas Gerais, para criar o Estado União de Jeová. O organizador do curso aponta que centenas de depoimentos de pessoas ligadas a essa liderança mostram que essa narrativa foi criada somente para manchar a imagem da luta travada por Udelino com lavradores, posseiros e sem-terra contra o latifúndio.
Alguns desses depoimentos são os da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) realizada em 1953, que serão estudados no primeiro módulo do curso. Muitos deles foram coletados em Vitória, na sede da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales). O módulo I do curso será “Udelino e o Cotaxé: Uma Visão Geral da História”, que irá tratar da atuação de Udelino com base em documentações constituídas de fontes primárias e secundárias.
Nessa etapa do curso os participantes também terão acesso ao PDF do livro Massacre em Ecoporanga, de Luzimar Nogueira Dias, a diversos documentos históricos e a artigos do escritor Adilson Vilaça. Além dos depoimentos da CPI, serão estudados os de autoridades civis e eclesiásticas, de funcionários públicos e de militares. O Módulo II tratará de questões consideradas controversas, trazendo questionamentos como Udelino era líder messiânico? O movimento que liderou era messiânico?
Histórico
No início da década de 1950, sob liderança de Udelino Alves de Matos, lavradores, posseiros e sem-terra se uniram contra os latifundiários para lutar pelo acesso à terra na região de Cotaxé. A luta foi fortemente debelada por militares e jagunços e levou à fuga e morte vários camponeses e lideranças, fazendo valer os interesses de fazendeiros e madeireiros da região. A insatisfação da população seguiu, porém, e novamente se organizou, anos depois, já sob liderança do Partido Comunista do Brasil (PCB), um conflito que se estende até os primeiros anos da ditadura civil-militar iniciada em 1964.
Com a terra nas mãos de poucos, Ecoporanga teve o início de sua economia moderna com a extração madeireira, seguida pelo café, que com a política de erradicação, foi sendo substituída pelo gado leiteiro e de corte, que hoje ocupa grande parte do território, em sua imensa maioria desmatado, com uma população humana que decresceu ao longo das décadas enquanto a população bovina crescia e a superava. Mais recentemente, a indústria de mármore e granito também vem ocupando destaque na economia, com base no extrativismo mineral.
Universidade Livre de Cotaxé
A Universidade Livre de Cotaxé foi idealizada por um grupo de ativistas e artistas capixabas. Sua pedra fundamental foi lançada em janeiro de 2022. Entre seus objetivos estão a preservação da memória histórica das lutas camponesas no Espírito Santo; a sensibilização dos trabalhadores, em especial as novas gerações dos acampamentos e assentamentos da reforma agrária, a partir dos trabalhos de educação popular; parcerias com coletivos envolvidos com pesquisas e estudos que priorizem saberes e práticas camponesas de convivência; além de promover, apoiar e subsidiar iniciativas de lutas dos trabalhadores do campo, das águas e das florestas.

Mais Lidas