O sentido de para-sempre encurtou tanto que nem sempre o sempre dura até que o divórcio nos separe
Os seres humanos andam aos pares…quase sempre. Sendo uma constante estudiosa da raça humana, estou sempre tentando saber como os pares se formam – pessoas totalmente opostas, com ideias e costumes diferentes decidem viver sob o mesmo teto, para sempre. Outras se parecem, mas deparam com a incompatibilidade de gênios. As relações interpessoais nos dias de hoje variam tanto que faltam adjetivos para qualificar os relacionamentos: bem-casados, namorados, ficantes, parceiros, juntos até que apareça algo melhor, ou até que a rotina atrapalhe. É pra valer ou estão só testando a força da correnteza? O sentido de para-sempre encurtou tanto que nem sempre o sempre dura até que o divórcio nos separe.
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De vez em quando arrisco algumas perguntas se a meteorologia promete tempo estável: Uma família perfeita: ele lindo, ela com tudo no lugar certo, duas crianças brincando por perto que deviam fazer comercial de pasta de dente. Como vocês se conheceram? O rapaz de corpo atlético, pele tostada no tom correto, me ignora. A jovem com um corpo de supermodelo é mais comunicativa, Desde sempre, ora. Somos gêmeos. Minha educada surpresa: E essas crianças? Que crianças? Tô muito gata pra ter filhos, Coroa. A mãe não mencionada está bem longe, hipnotizada pelo celular.
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Não sou de desanimar, e sigo um casal de idosos caminhando sob a sombra de árvores frondosas em um bairro tranquilo – local perfeito para ser feliz para sempre. Como vocês se conheceram? Pra que quer saber? A mulher pergunta e acelera o passo. O marido para, atencioso. Pois não? Informo que faço uma pesquisa para um importante jornal online no Brasil. Brazil? Maradona era melhor que Pelé. Ah, gosta de futebol? Ele dá de ombros, Sei nada de socker, mas tinha um vizinho argentino que gritava isso na janela todas as manhãs. Já faz tempo, mas nunca esqueci. E como conheceu sua esposa? Ah, isso eu esqueci.
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Continuo a minha busca incansável – um casal meia-idade no Walmart, um jovem casal na padaria, um velho casal na farmácia… As respostas nada respondem. Acho que foi… Cê lembra, Bem? Deve ter sido… o que foi mesmo que você perguntou? Também já esqueci. A madame de cabelo vermelho: Gente xereteira se metendo na vida alheia. Um casal com cinco cachorrinhos diz que se conheceram no canil. Ele: Quer saber o nome deles? Água, Fogo, Luz, Gelo… O menorzinho ainda não tem nome. Sugiro Atmosfera, eles se mandam, ofendidos. Ele: Perdi três namoradas por incompatibilidade canina.
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Loja de shopping, quase na hora de fechar, o jovem casal entra correndo, de mãos dadas. Lindos e risonhos, tremendamente apaixonados. Essa loja vende vestido de noiva? A assistente explica que só tem roupas esportivas. À pergunta se ali por perto teria alguma loja vendendo vestidos de noiva, ela informa que não, mas pode dar alguns endereços… A garota: Tem alguma ainda aberta? A assistente informa que já devem ter fechado, Volta amanhã, por que a pressa? Ele: A gente quer casar antes de mudar de ideia. Uma boa razão, sem dúvida.
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As razões variam, mas acabam no mesmo cartório: Na escola, na faculdade, no trabalho, no bar da esquina, na casa de um amigo, era a melhor amiga da ex. A necessidade de companheirismo ou o medo da solidão é igual, mas os termos variam: cara-metade, distinto/a, companheiro/a, meu bem, meu benzinho, parceira/o, docinho, Amô, patroa, provedor, cabeça do casal, tagarela, encosto, assombração, fofinha, cruz-credo, criatura, tesouro, xuxu, chefia, chefão, lava-e-passa, coisinha. Como vocês se conheceram? No enterro de um amigo, bebemos demais…