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Práticas inclusivas e Desenho Universal embasam formação em Educação Especial

Projeto também entregará equipamentos de acessibilidade para uso público na Ufes, destaca Douglas Ferrari

Arquivo pessoal

As práticas inclusivas e o Desenho Universal dão o tom da formação oferecida a professores, pedagogos e gestores de Educação Especial das redes públicas municipais, estadual e federal do Espírito Santo. As atividades acontecem entre abril e setembro, por meio de seminários e cursos regionalizados.

O projeto “Práticas inclusivas na concepção do Desenho Universal: direito à aprendizagem e escolarização das pessoas com deficiência” é uma realização é da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com os Institutos Federais capixaba e fluminense (Ifes e IFF) e a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do Ministério dos Direitos Humanos, por meio de emenda parlamentar do ex-deputado federal Felipe Rigoni (União). 

O objetivo é preencher uma lacuna de conhecimento e atualização dos profissionais que atuam na área, a partir de recursos e tecnologias que consideram a diversidade humana, buscando garantir a acessibilidade para todos.

“A formação em Educação Especial não está boa. Em geral são cursos EAD [Ensino à Distância] em faculdades privadas. Não há uma formação de qualidade e gratuita”, avalia o professor Doutor Douglas Ferrari, do Centro de Educação da Ufes, um dos coordenadores do projeto, ao lado do professor Dr Décio Nascimento Guimarães, do IFF. “A nossa aposta é que essa é uma formação seja um start para outras ações, regionais ou municipais. Alguns gestores já vêm chegando até a gente dizendo que precisam de mais vagas, que tem mais profissionais interessados”, relata.

“Precisamos avançar. Com conceitos, técnicas e equipamentos. Nosso curso traz isso, são coisas que já existem, mas não são colocadas em prática. Temos professores do Espírito Santo e de outros estados, com temáticas e práticas diferentes, alguns, como eu, pessoas com deficiência”, destaca Douglas Ferrari.

A presença de PCDs ministrando o curso também é um diferencial e um avanço, afirma, pois traz a perspectiva de quem vive no dia a dia as dificuldades de estudar e lecionar em ambientes educacionais tão defasados do ponto de vista dos direitos das PCDs. “Estamos preocupados com a prática, sentimos falta disso. Eu nunca tive nenhuma ajuda em EE na minha época de estudante”, depõe. “Nada sobre nós sem nós”, afirma, invocando uma máxima cada vez mais popular no universo das PCDs.

E na observância no cotidiano da sala de aula, uma atenção especial é em relação a práticas inclusivas, que sejam ministradas a todos os estudantes do ensino regular, aos moldes do que já implementa, com sucesso, a rede pública municipal de Santa Maria de Jetibá, na região serrana, considerada uma das melhores referências no Estado e no Brasil, segundo Douglas Ferrari.

Sala de aula comum

A sala de aula comum é o locus privilegiado da Educação Especial. É onde os estudantes com deficiência irão aprender as disciplinas, como todos os demais alunos, tendo acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade nas mais diversas ciências e áreas do saber”, afirma. É na sala de aula comum também, complementa, que os estudantes sem deficiência podem aprender sobre diversidade e respeito às PCDs e outros corpos e mentes atípicos.

Como exemplos mostrados no seminário que abriu o projeto, cita a iniciativa de professores de um professor de Física que abriu um abacate para explicar sobre a crosta terrestre. “Não é só teórico, precisamos investir na prática”, reforça, acrescentando que orientações sobre a acessibilidade do espaço da escola e socialização dos estudantes também são trabalhados.

Terceirização e ‘desresponsabilização’

A prática inclusiva e o desenho universal, bases do projeto, precisam ser incorporados pelas redes públicas capixabas, reivindica o professor da Ufes. “O governo do Estado investe nas instituições especializadas, como Apaes e Pestalozzis, ao invés de formar professores da sala comum, de contratar por concurso público, de investir na infraestrutura da Educação Especial nas escolas regulares”, critica.

Desde 2014, observa, essa terceirização aumentou muito no Espírito Santo. “O Estado se desresponsabiliza e os municípios, por tabela, também se desresponsabilizam da Educação Especial, terceirizando e segregando os estudantes com deficiência“, avalia.

Equipamentos

Para além do legado pedagógico, o coordenador ressalta o legado material que o projeto irá deixar para a população capixaba, com a doação, para a Ufes, de uma impressa 3D e dois equipamentos de audiodescrição. “A Ufes só tem uma impressora 3D na Engenharia e na Terapia Ocupacional. Audiodescrição, não existe nenhum equipamento fixo em todo o Espírito Santo”.

A expectativa é de que as doações sejam alocadas no Laboratório de Acessibilidade da Ufes, que está sendo montado, sendo que o equipamento de audiodescrição tende a ter um uso constante no cinema e no teatro universitários. “Alguns espetáculos que chegam ao Estado trazem o equipamento de audiodescrição, mas não há nenhum de uso permanente em todo o Espírito Santo. Acessibilidade não é só ter uma tradução em Libras. E as pessoas cegas ou com baixa visão?”, questiona.

Inscrições

A próxima atividade do projeto é um seminário que será realizado na manhã do dia 25, no Ifes de Cariacica, com presença, além de Douglas e Décio, das professoras doutoras Flávia Faissal de Souza (UERJ), Gisele Pessin (UENF), Márcia Denise Pletsch (UFRRJ) e Geovana Mendonça Lunardi Mendes (Udesc). Podem participar, além de professores e gestores, estudantes de licenciaturas e pós-graduação, familiares e pessoas com deficiência e membros da sociedade civil que se dedicam à discussão dos direitos das pessoas com deficiência.

A inscrição é gratuita. Mais informações sobre como se inscrever para o seminário e para o projeto como um todo pode ser obtidas por meio do email [email protected] . Os municípios, as superintendências regionais e os Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napnes) dos Ifes são responsáveis por indicar os servidores que irão fazer a formação, mas, havendo vagas, podem ser contempladas inscrições avulsas de profissionais interessados.

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