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Ato cultural e político homenageia Paulo Vinha nos 30 anos de seu assassinato

Evento quer celebrar a paz, a vida e os direitos dos trabalhadores, com poesia, música e bandas de congo

Divulgação

Os 30 anos do assassinato do biólogo Paulo Vinha serão marcados no próximo sábado (29) por um ato cultural e político na Barra do Jucu, em Vila Velha, com uma programação voltada a celebrar a paz, a vida e os direitos dos trabalhadores.

Organizado pelos Comitês Populares de Luta de Vila Velha, pelo coletivo jovem Corrente do Bem e pelo Museu Vivo da Barra do Jucu, o evento visa reunir novos e antigos movimentos sociais e ambientais, amigos e familiares de Paulo Vinha, além de artistas e bandas de congo.

Uma das mestras de cerimônia do evento, Natalia Omena Santos, integrante do Corrente do Bem, afirma seu encantamento com o legado de Paulo Vinha. “Vou muito ao Parque Paulo Vinha, sempre admirei muito a história dele. É uma pena que a população em geral não tenha conhecimento dessa história nem frequente o parque”.

O evento, ressalta, é uma homenagem ao ambientalista e também às instituições que trabalham na atualidade pela causa socioambiental, para “jamais esquecer a história e dar voz às lutas atuais, movimentar esse assunto”.

Como estudante de História, Natalia articula a luta de Paulo Vinha com o momento político perigoso de agora. “Sei do crescimento do movimento fascista, que está por trás das ameaças a escolas. Não tem como frear isso sem movimentar uma força como a que Paulo Vinha movia”.

O mártir capixaba, diz, a remete a outros lutadores, atuais e antigos, como Marielle Franco, Dom e Bruno, e Chico Mendes. “O extrativismo ilegal de areia, que Paulo Vinha denunciava, continua até hoje. Se não fosse o parque estadual, não teria nenhuma mata preservada mais”.


O entendimento da jovem militante se alinha com os pontos ressaltados pelo ex-deputado estadual Claudio Vereza (PT), um dos organizadores do evento. “Queremos honrar sua memória e seu legado e alertar que as causas que defendia – a democracia, os direitos sociais e o meio ambiente – continuam ameaçados. Todos que acreditam que outro mundo é possível, com justiça, vida digna e preservação ambiental, são convidados a participar deste momento e empunhar esta bandeira”, convoca.

O ex-parlamentar observa que o assassinato de Paulo Vinha foi seguido por um processo de esfacelamento gradual da luta ambientalista capixaba. “Depois da morte do Paulo, o movimento ambiental se localizou nas entidades com seus projetos específicos, sempre com funcionamento público ou de empresas poluidoras. As lutas concretas ficaram muito localizadas em pontos específicos e não estaduais. Não há um fórum estadual que reúna esses vários projetos de entidades e que apresente uma visão mais ampla. E isso num momento em que o meio ambiente e no mundo e no Brasil é quase que central ao lado da economia, da fome, do aquecimento global”.
A pauta climática também é destacada na leitura da atualidade do legado de Paulo Vinha feita pelo coordenador do Museu Vivo da Barra do Jucu, Ricardo Vereza. A crise climática e seus eventos extremos, afirma, “revelam a urgência do que Paulo defendia há mais de trinta anos, que é preciso cuidar e preservar os recursos naturais, como a restinga e a mata atlântica, e assim também salvar vidas humanas que estão perecendo nestas catástrofes”.
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 Moizés Batista Leal, do Comitê Popular de Luta, de Ponta da Fruta, entende que a homenagem a Paulo Vinha é uma forma de unir o trabalho de ambientalistas, sindicalistas e militantes de direitos humanos. “E assim formamos uma verdadeira teia em defesa da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e do meio ambiente como defesa da saúde e da vida”.

A ideia do evento é unir forças para um bem maior, que integre antigas e novas frente de atuação ambiental e social. Entre as presenças confirmadas, estão ONGs como a Associação Vila Velhense de Proteção Ambiental (Avidepa), uma da mais antigas do Estado, e coletivos como o de Natalia e a Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca), além de movimentos sociais de referência nacional como o dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de Pequenos Agricultores (MPA) e Atingidos por Barragens (MAB).

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‘Estarei sempre incomodando’

“Sou um ser eminentemente político e onde estiver, estarei sempre incomodando”. A frase é uma das mais emblemáticas de Paulo Vinha e mostra a determinação com que ele enfrentava as causas em que acreditava.

Nascido no interior do município de Conceição do Castelo, na região serrana, em 1957, Paulo Vinha mudou-se para Vitória aos 17 anos para estudar. Aos poucos se engajou nas lutas ambientais, políticas e sociais do Estado, sendo um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no Espírito Santo. Também era colaborador do Greenpeace e apoiou as comunidades indígenas de Aracruz, norte do Estado, denunciando os impactos da monocultura do eucalipto.

Ele foi assassinado na manhã do dia 28 de abril de 1993, uma quinta-feira, pelos irmãos Ailton e José Barbosa Queiroz, empresários da extração de areia, que lhes desferiram quatro tiros em uma área do então Parque Estadual de Setiba, no momento em que fazia fotografias. Após sua morte, o parque foi renomeado em sua homenagem, nomenclatura que se mantém até hoje, imortalizando sua história e seu legado.
Serviço
Ato Paulo Vinha Presente! Pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Pelo Meio Ambiente
Quando: Sábado, (29), de 15 às 18 horas.
Onde: Praça Pedro Valadares, na Barra do Jucu, em Vila Velha.
Programação: Sarau de poesias, apresentações musicais e de banda de congo.

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