Casagrande diz que governo e Prefeitura da Serra irão dialogar para que o município mais populoso do Estado volte a ter um PS
Não há previsão de retorno do funcionamento do pronto-socorro do Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra. Para que o município mais populoso do Espírito Santo volte a ter um atendimento de emergência, é preciso encontrar uma solução alternativa, juntamente com a prefeitura.
A posição foi confirmada pelo governador Renato Casagrande (PSB) a Século Diário, mediante questionamento sobre as tratativas que seriam iniciadas entre o Estado e a gestão do prefeito Sergio Vidigal (PDT), conforme declarou o governador esta semana durante reunião com o Coletivo Mães Eficientes Somos Nós. “Não vai reabrir [o PS]. Esse diálogo já está sendo feito pelo nosso secretário de Saúde [Miguel Duarte] com o secretário da Serra [Iranilson Casado]”, informou a assessoria de imprensa de Casagrande.
Igualmente demandada, a prefeitura informou, também por meio de sua assessoria, que “vai aguardar o contado com o governo, para dialogar sobre o assunto”.
Enquanto as instâncias do Executivo ensaiam iniciar um entendimento conjunto para solucionar o grave problema da falta de um pronto-socorro que atenda a população serrana – hoje em mais de meio milhão de pessoas -, segue dramática a situação de quem precisa de um atendimento de emergência no município, enfrentando longos períodos de espera em Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs), que não estão preparadas para o serviço.
O Pronto-Socorro do Jayme foi fechado em 2020, para se especializar no atendimento dos pacientes da Covid-19, tornando o hospital de referência no Estado para a pandemia. A expectativa é de que, passado o período mais agudo, ele seria reaberto, porém, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) definiu sua preferência em concentrar no hospital apenas casos de média e alta complexidade, o que conflita com o atendimento amplo de todos os casos de emergência, característicos de um PS.
O assunto vem sendo alvo de debates políticos quase tão acalorados quanto os que antecederam a inauguração do Hospital Municipal Materno Infantil (HMMI), envolvendo deputados estaduais e vereadores. O último, no início de março, dentro da Assembleia Legislativa, cuja Comissão de Saúde chegou a anunciar a entrega de um relatório com propostas de solução para o caso até o dia 18 de abril, mas a promessa não foi cumprida.
Alheio aos embates políticos, o Coletivo MESN criou uma petição eletrônica expondo como a falta de um PS em um município tão populoso afeta com gravidade ainda maior as famílias de pessoas com deficiência (PCDs).
O documento impresso, com as primeiras assinaturas já registradas, foi entregue a Casagrande na última reunião com as Mães, nessa terça-feira (25), que o assinou e prometeu se empenhar em uma solução. “O governador disse que ele não concorda com a reabertura, porque acha que o perfil do hospital agora é outro. Mas que vai dialogar com o prefeito”, relata a coordenadora-geral do Coletivo, Lucia Mara Martins. “Ele assinou o documento, se comprometeu. Nós vamos continuar pressionando”, afirma.
O abaixo-assinado está aberto a novas adesões enquanto a solução não for apresentada. “Se precisar, vamos colher o suficiente para abrir uma ação civil pública. Não podemos continuar sem um pronto-socorro. É um sofrimento muito grande. Tem mães que aguardam até seis horas numa UPA, até conseguir atendimento”.
Emergência psiquiátrica
A petição também pede para que seja criada, no Hospital Jayme, uma ala específica para emergência psiquiátrica, para atendimento adulto e infantil de surtos e crises de sofrimento mental, visto que o município da Serra também não dispõe desse serviço. “Todas as vezes que precisamos desses serviços de emergência, temos que nos deslocar para Cariacica ou Vila Velha”, pontua a petição, referindo-se ao Hospital Estadual de Atenção Clínica (HEAC), especializado em urgência e emergência psiquiátrica de adultos, e ao Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), que presta o mesmo atendimento para pessoas até 17 anos.
“Em caso de atendimento para crianças, esse deslocamento tem causado demasiado transtornos. E muitas vezes as ambulâncias (Samu) não estão preparadas. Isso demanda serviços e ação da Policia Militar, que também não é preparada para esta questão”, acrescenta.
Lucia conta que a melhoria do Samu é uma pauta antiga do Coletivo, pois não há equipes preparadas para lidar com crianças e adolescentes em surto psiquiátrico. E no caso das comunidades periféricas que vivem o problema do tráfico de drogas, a presença da polícia é um problema a mais. “A presença da PM não é aceita dentro desses bairros, o que causa muitos problemas para a família que precisa da ambulância”, enfatiza.
“A abertura deste serviço no Pronto-Socorro psiquiátrico do Jayme Santos Neves facilitaria muito tanto para o deslocamento destas pessoas em situação de sofrimento mental do município, quanto para as suas famílias que, com o percurso mais curto, conseguiriam agilizar outras formas de remoção sem precisar especificamente do serviço do Samu (192)”, reforça o texto da petição.
O Coletivo informa também que, em reunião com o prefeito Sergio Vidigal , foi assegurado que a gestão municipal trabalha na adaptação de uma ala do Hospital Municipal Materno Infantil para abrir um Pronto Atendimento Infantil até o segundo semestre deste ano, o que vai ajudar a aliviar a sobrecarga nas UPAs da cidade.