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Especialista aponta causas da violência nas escolas em palestra na Assembleia

Telma Vinha alertou para a necessidade de mudar cultura que gera “gosto pela violência e culto às armas”

Fred Loureiro

“Nossos filhos, nossos estudantes, têm acesso a perfis de subcultura extremistas na internet com muita facilidade”, apontou a pedagoga e doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Telma Pileggi Vinha, em palestra sobre a violência nas escolas realizada nesta quinta-feira (4) pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. 

De 2002 a 2023, segundo os dados apresentados, foram registrados 22 ataques com violência extrema às escolas no País, sendo que nove ocorreram entre agosto de 2022 e março de 2023.

A especialista, também professora do Departamento de Psicologia Educacional da mesma instituição, apresentou uma pesquisa desenvolvida juntamente com outros professores da Unicamp e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com dados sobre o cenário no Brasil e em outros países. Para ela, o quadro atual “não está acontecendo por acaso”, e alertou para a necessidade de mudar a cultura que gera “gosto pela violência e culto às armas”.

A professora destacou que esses perfis se encontram na “superfície de internet, com fácil acesso a todos, e citou plataformas como Call of Duty, Roblox e Minecrft, e chats de games como Dicord, Twitch e Stean, que apresentam conteúdo violento que levam ao sectarismo e ao extremismo, com apologia ao neonazismo.

A pesquisa mostra que o perfil dos autores dos ataques às escolas, no Brasil, é “muito semelhante aos americanos. Todos são masculinos e brancos, com exceção de um”. A maioria vive em isolamento social e é atraída por perfis que pregam a misoginia e o racismo.

Telma Pileggi Vinha chamou atenção para a necessidade das escolas abrirem conversas com os alunos sobre temas da atualidade e citou o primeiro turno eleitoral de 2022, quando todos estavam “à flor da pele e as escolas se omitiram, com medo de serem denunciadas por partidarismo. E onde os alunos vão buscar as respostas? Nos perfis extremistas”.

Disse que os jovens emitem sinais que podem ser percebidos sem dificuldade, mostrou gráficos, e enfatizou: “As escolas não são culpadas”, lembrando o ataque a duas unidades em Aracruz, norte do Espírito Santo, em novembro do ano passado, com quatro pessoas mortas e outras 12 feridas.

Na ocasião, uma professora lhe perguntou: Onde foi que falhamos?. Para ela, a saída para mudar essa realidade envolve a todos, “família, sociedade, amigos e alunos”, refutando soluções isoladas, como guarda armada nos estabelecimentos de ensino. “Pode representar um desafio para os alunos”, disse.

O encontro foi realizado no Plenário Dirceu Cardoso e, de acordo com o presidente da Comissão de Educação, deputado Dary Pagung (PSB), a discussão se faz urgente. “Nós precisamos entender como a nossa sociedade chegou a esse ponto para, a partir daí, buscarmos a melhor saída para combater essa onda de violência e proteger nossos jovens e crianças no ambiente escolar”, afirmou.

O secretário de Estado de Educação, Victor de Angelo, também palestrante, destacou a violência e o racismo estrutural que são levados para a escola, por refletir essa mesma sociedade, e citou o plano de segurança nas escolas lançado na última semana pelo governo do Estado, com cinco eixos temáticos que englobam ações preventivas e repressivas a serem executadas por diversas secretarias de Estado e as Polícias Civil e Militar.

As medidas compõe um calendário de programas já desenvolvidos há anos nas escolas estaduais e serão expandidas, por meio de capacitações e contratações de profissionais, como é o caso das equipes de Psicologia e Assistência Social, havendo ainda estratégias novas em Tecnologia da Informação e Inteligência Artificial e instalação de equipamentos de segurança. A não inclusão de segurança armada dentro do ambiente escolar é um dos pontos destacados.

Atuação

Telma Vinha desenvolve pesquisas sobre clima escolar, problemas de convivência, relações interpessoais e desenvolvimento sociomoral e emocional. É coordenadora do Grupo de Estudos “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública”, do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA), e coordnadora associada do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem.).

Também coordena e desenvolve formações e projetos em escolas que visam a melhoria da qualidade da convivência e do clima escolar, favorecendo a construção da autonomia, além de autora e coautora de artigos e livros, entre eles, Quando a escola é democrática: um olhar sobre a prática de regras e assembleias na escola, Indisciplina, conflitos e bullying na escola e Da escola para a vida em sociedade: o valor da convivência democrática.

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