Sem trabalhar há 19 dias, pescadores do sul do Estado pedem socorro. Ambipar não entregou laudo contratado pela transportadora
“O peixe do rio Itabapoana desapareceu. Não tem nada, você não vê um peixe”. A afirmação acompanha as imagens de um vídeo gravado na comunidade ribeirinha de Limeira, em Mimoso do Sul, no sul do Estado, e divulgado como um pedido de socorro dos pescadores. “O peixe sumiu, a pescaria parou desde primeiro de maio. As autoridades deviam tomar uma providência, ver a situação dos pescadores”, prossegue a narração, conduzida pelo vice-presidente da Associação de Pescadores da Limeira (Aspel), Renan Máximo de Sena.
O local do registro é um ponto tradicionalmente muito piscoso do rio, abaixo de uma escadaria logo após a represa da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Pedra do Garrafão, localizada no município vizinho de Apiacá, onde um caminhão carregado com agrotóxicos da empresa CargoModal tombou no último dia 1º. Um vídeo feito quinze dias antes do acidente mostra os pescadores comemorando a abundância do pescado, visto facilmente nas imagens caseiras. “Dá para encher um caminhão, se quiser!”, celebram, na gravação.
A negativa da entrega dos resultados é motivo de insegurança para os pescadores, conta Renan. “Traz muita desconfiança para a gente. A empresa que tem que fazer o laudo foi contratada pela transportadora. Deveria ser o Incaper [Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural], o Ibama..ela não entrega o laudo, ganha mais um prazo, e a gente continua aqui sem trabalhar, sem renda, passando necessidade”.
O vice-presidente da Aspel estima que, descendo o rio até a foz, na Praia das Neves, em Presidente Kennedy, divisa com o estado do Rio de Janeiro, existam cerca de 1,2 mil pescadores atingidos pelo acidente. Todos, até onde se sabe, sofrendo com a mesma desinformação e desassistência.
Presidente da Colônia Z-8, em Barra de Itapemirim, município de Itapemirim, Marcole Luiz Marvila conta que sequer o nome da transportadora havia chegado ao conhecimento dos pescadores e que, de posse da informação, os advogados da Colônia irão preparar uma ação judicial com pedido de indenização.
Atitude que também está sendo providenciada pela Federação Federação de Colônias e Associações de Pescadores do ES (Fecopes). “Estamos conversando com o Ibama, aguardando uma devolutiva dele. Também pretendemos entrar com uma ação de indenização”, informa o presidente da Fecopes, Carlos Belonia.