Nilcélia de Jesus Santos aponta que objetivo é mobilizar a comunidade em prol de seus direitos
No próximo sábado (27), a diretoria da recém-criada Associação Municipal de Etnias Ciganas de São Mateus (AMEC) tomará posse durante o Encontro da Comunidade Cigana de São Mateus, no Salão Social do Clube Cepe. A entidade, segundo sua tesoureira, Nilcélia de Jesus Santos, tem como objetivo mobilizar a comunidade cigana da cidade em prol de seus direitos, pois ainda há muito preconceito contra esse grupo, provocando, inclusive, sua exclusão de políticas públicas, como a de educação.
Isso se expressa, de acordo com Nilcélia, em situações como as de crianças e adolescentes ciganos. Muitos abandonam os estudos antes mesmo da conclusão do ensino fundamental por causa da discriminação vivida no ambiente escolar. “No colégio, eles costumam ficar juntos porque não são aceitos ppr outros alunos, que não querem fazer trabalho em grupo com eles. Os pais não querem que seus filhos frequentem nossas casas”, relata. Diante disso, Nilcélia defende a realização de ações educativas por parte do poder público.
Outra forma como o preconceito se expressa é principalmente contra as mulheres, devido às vestimentas. “Se saímos com as vestimentas tradicionais, as pessoas olham de forma duvidosa, quando entramos na loja, acham que vamos roubar. Nosso Brasil tem várias culturas, cores, tem que ter ações que busquem trazer um olhar diferenciado para a comunidade. Com a associação, esperamos que a sociedade tenha um olhar diferente para os ciganos, que quando a gente passar na rua, tenham consciência de que somos pessoas normais, que se abram portas, como a do mercado de trabalho”, projeta.
A dificuldade na questão do mercado de trabalho, aponta Nilcélia, se dá devido à resistência das empresas em contratarem ciganos, que acabam tendo sua atuação profissional limitada principalmente à agricultura e à pecuária.
Além disso, uma das demandas que a Associação pretende sanar é a realização de aulas de alfabetização para adultos. Nilcélia explica que a maioria da comunidade cigana de São Mateus, composta por 300 famílias, mora em casas, não vivendo mais uma “vida errante”. Contudo, principalmente os mais velhos, quando eram nômades não tiveram condições de estudar por mudarem de local de tempos em tempos. Por isso, há entre eles um grande índice de analfabetismo.
Nilcélia afirma que o fato de não saber ler e escrever dificulta o acesso às políticas públicas, como a de saúde, uma vez que as pessoas não conseguem ir sozinhas até a Unidade Básica de Saúde (UBS), por não poder ler o itinerário dos ônibus. Assim, ficam dependentes de alguém que os leve.
A comunidade cigana mateense conta com outras duas novidades. Uma é a criação do Dia Municipal do Cigano, a ser comemorado todo dia 24 de maio, e, a outra, a criação da Comenda Municipal do Mérito da Cultura e da Defesa dos Interesses da Comunidade Cigana Jandelson Silva Ramos, conhecido como Paulo Cigano, uma liderança cigana do município que morreu há três anos.
Mapeamento mostra que ciganos têm dificuldade de acesso a direitos
Pandemia impulsiona mobilização da comunidade cigana capixaba
https://www.seculodiario.com.br/saude/pandemia-impulsiona-mobilizacao-da-comunidade-cigana-capixaba